quinta-feira, 19 de março de 2009

Today - Smashing Punpkins

- Tá tudo bem ?
- Acho que não. Quando eu penso que sim, percebo que a contagem regressiva começa. Que dou um prazo de validade pro meu bem estar. É como uma maldição, como uma macumba, sei lá. Nem acredito nessas coisas...
- Tá, calma. Não existe contagem regressiva pro teu bem estar.
- Não ? Então porque toda vez que eu me sinto bem, percebo que é vazio. Que não tá certo. E que seguindo um padrão de comportamento, eu vou voltar a me sentir triste de novo ?
- Por partes: Você percebe o vazio, antes você não o via. Você não o cria. Ele simplesmente existia sem tu perceberes. Você o nota...
E você volta a se sentir triste, porque carregas esse sentimento contigo. Só vais conseguir cala-lo as vezes. Talvez muitas vezes. Talvez não. Mas enquanto ele existir, tu vais estar triste também...
- Que que eu faço ?
- Não tem muito o que se fazer na realidade...
- Muitas possibilidades são uma merda.
- Pode ser, mas isso é passageiro.
- A tristeza, ou as possibilidades ?
- As duas. Tudo, na realidade !
- Sem relatividades por favor...
- Não é ser relativo extremista. Me diz algo que não é passageiro ?
- Eu te digo algo que não é. Se tu me disser algo que é...

Ela sorriu.
Eu fiquei em silêncio.
O silêncio me conforta. É o abraço que me falta. O silêncio, como a sorte, são meus amigos.
Eu me sinto ficando para trás.
Me sinto sendo errado.
Me sinto mal.

- O vento é passageiro. - ela responde.
- É sim. Queres falar sobre isso ?
- Não. Me diz o que não é ?
- Algumas dores jamais morrem. Você não para de senti-las. Você se acostuma a sangrar.

E fiquei em silêncio.
Ela sorriu. Abaixou o óculos. Levantou. Colocou água em um copo. E me ofereceu:

- Segura.

Eu peguei o copo. A água dançava. O copo tinha aquele gelado pelo lado de fora. E era bonito. Tive vontade de não quebra-lo.

- Tá meio vazio ou meio cheio ?
- Meu Senhor ! Tu não fez essa pergunta... Que piegas ! Por favor... - respondi indignado.

Ela sorriu. Abaixou a cabeça enquanto escrevia alguma coisa. Me deixou falar. Quando eu parei, ela perguntou calmamente.

- Tá meio vazio ou meio cheio ?

Olhei pro copo. Tava com água pela metade. Mas eu não tinha certeza se isso era meio vazio ou meio cheio. Eu não sabia a resposta. Pensei em não dizer nada, essa seria minha resposta. Vou ficar quieto. Que tipo de psicologia é essa do copo ? Se eu não soubesse que essa mulher é tão boa eu iria embora agora... Daqui a pouco ela vai querer desvendar meus sonhos ? Vai me mandar escrever redações e fazer desenhos !?! Vai me pedir pra jogar canastra nas segundas feiras de manhã.
Copo, foca no copo !
Meio vazio ou meio cheio ?
- Eu não sei. É um copo com água pela metade...

Ela me olhou atentamente.

- Vazio ou cheio ?

Vazio ou cheio ! O que Buda diria ? Eu to com sede. Não vou beber o objeto de análise dela. Se bem que venho aqui como um amigo. Mas tudo bem, vou respeitar... Acho que ela tem um ponto. Podia ser um daqueles pensamentos super legais que te dão resoluções na vida. Ela podia dizer uma frase e esclarecer tudo... Ia ser tão legal.
Vazio ou cheio cara ! Responde alguma coisa...

Olhei pra ela. Tinha tirado o óculos. E me olhava sorrindo. Esperando.

- Esse copo está... - Me coçei. Franzi as sombrancelhas. Olhei pros lados.
- O copo está ?
- Esse copo é uma possibilidade. Ele pode estar meio vazio e meio cheio ao mesmo tempo. Pode estar só meio vazio ou só meio cheio. Esse copo é o internacionalmente conhecido por carregar tempestades. Ele tem uma nuvenzinha negra em cima. Solta trovões. É incrivel. Esse aqui é um copo mágico. A gente devia dar um nome pra ele...
- Sim. Podia ser o teu.
Começei a rir. Ela também.
- Desculpa, não quis avacalhar tua análise.
- Eu sei. Tá tudo bem. A tua resposta foi suficiente. E não to te analisando, somos amigos...
- Foi ?
- Sim ! - ela respondeu sorrindo novamente - Não somos todos copos dá agua ?

Parei. Pensei: " somos !". Mas não respondi nada, fiquei olhando pra ela e pro copo.

- Tudo é passageiro. Um dia deixamos de ser copo, nos transformamos em outras coisas. Em jarras. Em bandejas cheias de copinhos menores. Ou nos quebramos no chão. Mas você não deveria pensar sobre isso agora. Não deve se preocupar com o que não controla. Seja o melhor copo que puderes. Meio vazio ou meio cheio, não importa.

Eu bebi a água em um grande gole.

(Parte do "Murro na cara !" editada)

Eu me rendo. Desejo a felicidade dos que se casam.
Desejo paz pro meu coração e um copo cheio.

Escrever esse negócio me faz bem: pronto, passou : )








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