segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Numa noite dessas.

Foi de dia que pensei em escrever. Mas por algum motivo essas palavras só puderam ser digitadas a noite. Aí eu pergunto:
"- Quem digita, também escreve?"
Pensei em não fazer da minha própria pergunta a pergunta de um personagem. Mas no final (seja lá quando ele for), todos somos personagens de alguma(s) história(s).
Não liga a falta de substancialidade nas palavras até aqui. É que o impalpável me agrada mais do que o físico.

Então lá vai o que eu queria dizer:

Numa noite dessas eu ainda descubro o céu e faço a lua virar sol.
Numa dessas noites que a gente mal percebe que passa, sabe?

Vai ser um final de tarde comum. Cheio de cores no céu.
E a noite vai vir toda silênciosa e cheia de escuridão.
Se derramando sobre nossas vidas. 
Como o próprio passar dos nossos dias.
E quando o sino bater a meia noite.
Antes do dia virar, de um pro outro.

No ponto alto da negro breu.
Eu deslizo meu dedo pelo interruptor gentilmente e
acendo essa luz.

E mesmo só, sem ninguém além de mim,
sozinho e cheio de vazio...
Eu sei que vais ver.
E numa noite dessas, numa dessas igual a tantas outras, o mundo nunca mais vai esperar uma noite comum.

Numa noite dessas.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Bombay Bicycle Club e uma tarde outonal.

Se muda de direção é ruim. Se não muda também. E você fica aí imaginando quando foi que a sua vida lhe pegou pelas bolas e gritou que tu és um covarde. Ontem? Ano passado? A 10 anos atrás? É dificil saber. Algumas pessoas atribuem esse comportamento a um casamento daqueles chatos cheios de coisas chatas e de gente tão curta que dá nojo. Outras a um espírito que já foi jovem e morreu ao chegar aos 32 anos de idade. A hora de arranjar juízo. Mas que na verdade só mudou o status de existência de "normal divertidinho" pra "rancoroso cuzão".
Enfim, você arranjará uma desculpa sem dúvidas. Dirá que não pode fazer isso. Que queria ter feito aquilo. Que a vida poderia ter sido assim ou assado. Usando e abusando do pretérito mais que perfeito para justificar a sua peidada na farofa.


A tarde cai em cima de todos nós. Me ensinaram desde cedo. A Esfinge perguntou a Tesseu que animal tem quatro patas de manhã, duas durante a tarde e quando a noite chega tem três. A resposta foi o ser humano, representando a infância, a vida adulta e a velhice.


Não se deixe enganar. A Esfinge queria que todos nós entendessemos que a vida é um sopro, um instante, um momento. E que como todo sopro/instante/momento, a vida termina.

Mude de direção todas as vezes que precisar. Você pode fazer isso sem perder quem realmente é de vista.
Perca tudo e seja xingado, recupere tudo e convide quem lhe xingou para um churrasco na sua piscina nova. Você pode fazer isso e continuar com as suas convicções sobre a humanidade.

 Acredite. Duvide. Opine. Gente política é tão agoniante quanto uma bela ave que late ao invés de cantar. Posicione-se, se você o fizer com educação, as pessoas vão gostar de lhe conhecer melhor.
Cante. Dance. Desenhe. Escreva. Assista filmes. Faça filhos. Tire fotos. Movimente-se.

A vida é curta, mas não precisa ser pequena.
 
 

Até assim.

Aos encontros sem hora marcada.
Por do sol não combina data. 
Sól vem.
Dia que termina em outro dia.
É só a memória que te fugiu.
O caminho é teu olho que ilumina.

A estrada é sem fim.
Para quem nunca partiu.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Pátria a(R)mada.

Ouvindo isso: https://www.youtube.com/watch?v=WlatHB9jZ1g

Eu pensei: que enquanto eu pensava no meu sonho dentro do sonho que tive ontem e que eu ainda nem sei se acordei. Aí descobri que não sei se eu sonhava meu sonho ou se o sonho que eu sonhava era seu.

Na nação do futuro incerto, muitos dos seus filhos falam baixo em uma silenciosa valsa com o caos.
Enquanto somos feitos de idiotas todos os dias, o mundo se recusa a girar mais devagar.

E o flerte com a maldade passa de uma suspiro para um discurso. E chega a virar motivo de novela das 20h. Enquanto você visita seus blogs de maquiagem. Seus lançamentos de carros que custam nosso ouro e nossa prata.

Meu país é uma amante fria e mentirosa. Que se entrega a quem lhe paga mais. Mais de uma vez por dia.

Seus filhos choram de fome enquanto ela se diverte bebendo cachaça e fumando cercada por homens de bem. Com a sua gordura abdominal e seus ternos italianos da última estação.

Por que somos todos brasileiros e não podemos desistir nunca, é o que nos ensinam a repetir.

Somos filhos da pátria amada. Idolatrada. Salve-salve.
 

Mas nunca te disseram que essa pátria não te ama.
E que tentou te abortar, mas não conseguiu.

Entre outras mil és tu Brasil:
O Patria amada, Idolatrada, Salve! Salve! 
Brasil, de amor eterno sejas piada!
O labaro que ostentas está quebrado!
E diga o verde-roubo cor sem vergonha
- Guerra no futuro e ao teu presente só o passado.


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

"The head and the heart" e eu :)

Rios e ruas.
Rios e ruas, até eu te encontrar.


Era isso que eu queria dizer.  (Clique para ouvir, seu tanso(a).

O destino não é o fim. Eu já te disse. Caminhar é mais fim do que o chegar. Os "Little Joy's" já disseram. Eu caminho o caminho. E sinto falta do teu rosto, mais do que consigo dizer em palavras. Talvez toda a minha forma de amar tenha sido alterada pelo fato de tu teres ido embora mais cedo do que deverias. Ou pelo fato de eu ter aprendido que não existe "ir embora mais cedo do que se deveria" e só "ter ido embora".
Quando alguém me diz que a vida anda dificil, eu penso que sei como é.

Mas pelo menos temos coragem.
Que seremos julgados por nossas falhas, isso é certo. E é quase um alívio. Ser punido pelo que se fez errado, pagando o preço. Mas que ninguém diga que tivemos medo de encarar nossos medos. Que não fomos bravos. Que fugimos. Não. Nossa luta é contra nós mesmos. Como o primeiro voo dos que voam.

Ficar no ninho com cara de medo é o que eles fizeram.
Nós nos jogamos.

E se o chão for o destino, que seja. No final ele é o mesmo destino para todos.

Que o mundo receba nossa coragem como detrimento. Mas a receba.

 
Rivers and Roads

A year from now we'll all be gone
All our friends will move away
And they're goin' to better places
But our friends will be gone away

Nothin' is as it has been
And I miss your face like hell
And I guess it's just as well
But I miss your face like hell

Been talkin' 'bout the way things change
And my family lives in a different state
If you don't know what to make of this
Then we will not relate
So if you don't know what to make of this
Then we will not relate


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O que se foi.

Entendi:
a vida passa.
O vento,
a chuva, o verão,
e a estação das luvas.
Olhos derramarão rios.
Bocas soprarão versos.
Amigos partirão sozinhos.
Fotos se amarelarão.
Dias futuros serão passados.

Nada mudará isso:
a vida passa.
E enquanto leres isso
um pouco mais dela terá ido.

Ó vida, não sei para onde vais,

mas irei contigo.
 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

E quem disse?

Se a vida fosse um filme. Tudo que você teria assistido é ao trailler dos outros. Da sua não, da sua você lembra de cada quadro. Dos cortes do diretor. Dos comentários dos produtores e dos atores. Lembra de quem fez a iluminação. Da linguagem da camera. Das lentes que o diretor de fotografia quis usar. Das locações mesmo, tu lembra de uma por uma. Dia após dia de produção. Dos cafés tomados. Dos cigarros fumados. "Mas eu não fumo e nem bebo café!?!". Foda-se. Tu lembras dos teus sucos de tomate com hortelã. E das vezes que ninguém acreditou em ti. Tu lembras das trilhas sonoras. Dos enredos que as vezes eram de novela mexicana, as vezes pareciam escritos pelo Woody Allen. E em outras parecia coisa do Almodóvar. "Mas eu nem sei quem são essas pessoas!?!". Dane-se. Tu sabes cada nome. Alguns lembram dos dias e dos meses. Outros da sensação. Mas tu lembras...
É engraçado como a tua vida te parece um filme. E a vida do outro não pareça tão importante. "Mas eu não acho que a minha vida pareça um filme!?!".

A sabedoria tem limite. A ignorância não.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Tudo aquilo que não foi, mas que podia ter sido.

Não sabiam eles que estavam vivendo o momento da vida em que se sentiriam mais importantes.
"- Mas aa Marco véio" - gritou o menor, enquanto descia o maior no carrrinho (sim com 3 erres).
O morro da vó Salvelina ficou pequeno. 
Decolaram voo pela internet. A televisão bateu na sua porta. A radio os chamou pra falar. Filmes publicitários. Funk. Domingão do gordão. "Taca lhe o pau!", repetiam. A cidade inteira ferveu. O prefeito fez palanque, elogiou a família. Disse que a vó Salvelina era uma cidadã respeitavel de bem, como nenhuma outra. Que a chance que essa família estava proporcionando ao município precisava ser aproveitada. Que era a hora de brilhar.
E brilhou. E como brilhou...

O garoto de 12 anos perdeu a virgindade depois de aparecer no jornal de domingo a noite. A menina tinha 19 e nunca tinha olhado (e nem olharia, se não fosse o sucesso que ele vivia naquele instante) para o Marco "véio". Também pudera. Ele mal sabia o que estava acontecendo enquanto ela se sentava sobre o colo nu dele. As calças arriadas e as promessas da moça bonita lhe sussurrando ao pé do ouvido:
"- Calma, tu vais gostar... Isso assim..."
Os olhos arregalados do moleque. Seu gemido rápido e tudo foi apenas um instante. Ela repetiria isso algumas vezes, até ter certeza. Nos dias que se passaram eles passearam juntos atrás da igreja. Na cachoeira. Atrás da casa da vó Salvelina.

E engravidou. O filho recebeu o nome de Jr.
Eles se separaram 6 meses depois da criança nascer.
Marcos tinha 13 anos feitos. E ao contrário da aposta da garota, nenhum dinheiro... Ele havia se tornado uma criança hiperativa. Solitária. E com severos traços de depressão. Se mataria aos 16. Tomando remédios que encontrou na gaveta da casa da avó. Sua família nunca comentou o que houve.

O mais novo tentou ser modelo. A mãe o achava lindo. Tentou gravar outros vídeos. Emplacar outros jargões. Fez publicidade local. Depois estadual. Uma agência de comunicação de São Paulo o procurou para orçar um filme publicitário para uma grande marca de carros, uma montadora de fora do Brasil. A família lhe cobrou migalhas e ainda assim o orçamento não foi aceito. Seu pai lhe olhava torto. Como uma promessa que nunca se cumprira. Como um sonho que nunca chegou a se tornar realidade. Leandro era seu nome. Ele ficou sozinho. Marco (o tal Marco "véio"), tinha alguma fama. Tinha uma namorada. Tinha mais gente ao seu redor. Leandro não. Ele envelheceu triste e amargurado. Sua tristeza se tornou uma raiva. Sua amargura cresceu até torna-lo seco e duro. Grosseiro. Facilmente irritado. Arranjou um serviço de representante aos 18 anos. Algumas vezes dizia quem era. O que tinha feito.
"- Você já assistiu esse vídeo?" - ele perguntava.
"- Fui eu quem filmou..." - dizia em seguida.
No começo era reconhecido. Até foi bem tratado. Tratado com diferença.
Depois não.

Parou de perguntar.
Largou o emprego.

Bebia frequentemente. Cada vez mais.
Um dia desapareceu.
Alguns disseram que fugiu. Alguns, que morreu.
Sua família também não comentou seu sumisso.
Algumas décadas depois, um programa procurou os envolvidos para falar sobre as celebridades da internet. Para entrevista-los. Puro entretenimento "fastfood".
A casa da vó Salvelina havia sido vendida. A família não quis falar.
Os vizinhos comentaram que nada deu muito certo para eles.

"- Vocês conhecem aqueles meninos que gravaram o vídeo do "taca lhe o pau Marco véio"?  - perguntou o produtor.
E as portas se fechavam com poucas palavras:
"- Não".
(porta fechando).
"- Não sei nada deles".
(porta fechando).
"- Vão embora!".
 (porta fechada).

Surgiram e sumiram do mesmo jeito, sem ninguém notar.
Sem ninguém se importar.
Como se suas vidas nunca nem tivessem existido.
Como se fossem só um sonho de uma noite.
Breve. Intenso. E com pouquíssima verdade.