quarta-feira, 25 de março de 2015

Aquele lugar de onde as lágrimas vem.

Vê? O
vento é
transparente.
Feito o amor
e a verdade.
Vento não 

se vê.
Feito o amor
e a saudade.

Vento se 
sente.

sábado, 21 de março de 2015

Para dormir, as vezes, é preciso fingir estar dormindo.

Vi o dia amanhecer hoje.
Agora o céu está azul e a rua vazia. Um cachorro latiu lá longe. E eu vi um bando de passarinhos voar. Pensei se eles estavam indo trabalhar. Sei que não. Hoje é sábado e pássaros não trabalham aos sábados.
Lentamente a rua vai sendo preenchida por carros. Pessoas trabalham sábados. Sábado passado nessa mesma hora, eu estava procurando trilhas sonoras para um projeto de um cliente. Gosto do silêncio da manhã. Gosto da calma que o mundo tem enquanto as pessoas dormem. Frequentemente me pego imaginando como era o planeta antes de existirmos. Os sons da natureza. A chuva que não incomodou ninguém. As árvores que cresceram e morreram sem nunca serem escaladas por nós. O cheiro das frutas em um longo espectro do doce ao podre. As estações do ano, sem ninguém reclamar do excesso de calor. A água correndo pelo rio. O mar. A noite. A vida que ninguém viu. O mundo que ninguém soube se realmente existiu.

Agora nós somos tão importantes.
Com os nossos seguidores do instagram e facebook. Nossas baterias de notebooks. Nossos motores e carros luxuosos. Nós somos tão corretos, com a nossa ética plástica e nossas alegrias instantâneas. Nossas certezas indubitáveis e nossa ciência monocular. Nossas experiências hedonistas. E a nossa realidade confusa.

A vida era para ser mais. Sempre achei.
A vida não era pra ser assim. Não consigo evitar de pensar.

Uma criança vende balas no semáforo. E as pessoas nem abaixam o vidro do carro.
É estranho, se tu parar para pensar.

Eu faria isso ser diferente, se tivesse a chance. As pessoas seriam mais gentis. Sem motivos aparentes. Só teríamos mais carinho. Mais amor. Menos dinheiro e menos dor.
Hoje eu vi o dia amanhecer. Quantos dias o mundo já amanheceu?
Um avião passou no céu. Os carros já tomaram as ruas. Uma senhora regou suas flores enquanto seu cachorro saltitava ao seu redor. O vento do inverno está vindo. Como no Game of Thrones: o inverno está vindo.
Nenhuma estação realmente está vindo.
Mas em breve será inverno.
Em breve, deixará de ser.
E depois disso, ele estará vindo de novo.
Como eu e você...

quinta-feira, 19 de março de 2015

Eu fico aqui imaginando.

Enquanto o dia corre para frente, eu tenho a impressão de que o mundo corre para trás.
Quase nada parece ser feito com o coração. O céu é lindo. O chão é horrível. Escutei alguém reclamando sobre o tempo que perdeu no telefone com a operadora de tv a cabo.

Tudo que consigo pensar é:
"- O universo não se importa."
Somos um grão de poeira flutuando. Descobri vendo uma comparação entre o tamanho dos planetas na Discovery. Parei para pensar em quem inventou o nome do canal Discovery. Disco very. Esse cara é um gênio. Será que o mundo vive mesmo sob a tutela de uma grupo de 7 trilionários alienígenas? Provavelmente não. Provavelmente nossa crueldade mútua é gratuita. E a vida não precisa de significado para acontecer. 

Desenho no papel. Rasgo o papel e jogo fora. Espero o arquivo subir para o FTP e imagino como será a internet daqui a 15 anos. Li esses dias, em alguma baía digital que o próximo passo da internet é não necessitar de conexão. Tudo estará conectado todo o tempo. Nós criamos uma rede global para fazer com que todos possam se comunicar de uma forma como esse planeta nunca conheceu. Isso é incrível. Nossas relações tomaram uma proporção absurdamente rápida. Ainda assim, meu vizinho divide o elevador comigo e só me dá "boa tarde". E fica olhando para o chão por quatro andares como se estivesse sozinho. Não no elevador, mas no universo. Talvez ele esteja. Talvez eu também esteja.
Talvez de alguma forma estranha, todos estejamos nos afastando a medida que nos aproximamos.
Queria ir para uma cachoeira de novo. Sentir as pedras geladas sob meus pés. Ouvir o som das folhas se batendo umas contra as outras. E ver a forma como a luz incide por entre as copas das árvores. Preciso voltar lá.
Aqui tudo que eu toco é sintético. E ar condicionado faz as pessoas espirrarem sem parar.
Me peguei olhando pelo vidro da janela.
Me peguei olhando para o copo da água.
Me peguei olhando para os pixels da tela.
Me peguei imaginando que as pessoas ao meu redor se movem no ritmo da música que toca no meu fone de ouvido.
Não consigo me pegar me deixando. Só me pego na hora que já me deixei.
O pensamento é uma forma estranha de existência. Alguns de nós tem certeza de que os controlam. Eu estou certo de que a casualidade guia nossas linhas de raciocínio. E que aceitamos essa direção dizendo:

"- Estou no controle!".
Como um piloto que segura o manche de uma aeronave que está caindo em direção ao chão.
Não importa o que ele faça, ele vai cair.
Se achando no controle ou não.
Me peguei pensando se era preciso explicar minha analogia. 

Se der tempo eu vou na cachoeira.
Depois da reunião.
Depois de ligar para aquele cliente.
Depois de subir mais um arquivo.
Depois de almoçar uma salada.
Depois disso.
Se der.


quinta-feira, 12 de março de 2015

Bú!

A besta que em ti reside.
Fez morada aqui também.
E é a mesma besta do João.
Que a Maria conhece tão bem.

A besta que nos habita a todos.
É uma só criatura.
Peluda, pelada, corcunda.
Mais velha, tão jovem e sem bunda.
A besta não nega por cor.
Por crença.
E posição.

A besta que mata sem doer.
Odeia sem falar.


Na nossa escuridão.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Não sei bem.

Se me falam do ódio, digo depende.
Ódio é irmão do amor.
Sentimentos são parentes.
Estão todos por perto, onde for.
Como visita que chega, sentimento vem.
Se abres a porta, pedem café também.
Se há jantar, não reclamam do que tem.
Sentimento come até merda.
E tudo bem.
Nós os alimentamos.
Os vemos crescer.
Eles vivem felizes.
Mas como tudo que é vivo,
sentimento precisa morrer.

Fim de sentimento é nada.
Sorriso.
É lágrima.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Um dia eu vou morrer. Um dia eu chego lá!

Transbordei.
Escorreu pelo mundo inteiro. Não sei o que era mas tinha cheiro de perfume e coco ao mesmo tempo. Engraçado que tudo que tem cheiro de perfume e coco ao mesmo tempo, vai ter cheiro só de coco. Ninguém cheira algo com perfume e bosta e diz:

"- Que perfume bom, pena que tem cheiro de coco."
Eu escorri isso.
Gaguejei em público enquanto suava no discurso da minha formatura.
Eu nunca fiz questão de morrer. Nem faço ainda. Só não quero me distanciar do meu próprio fim. Assim consigo não viver o filme holywoodiano que esse punhado de gente tansa quer protagonizar. E tudo bem que alguém me ache um babaca durante o caminho. Não é culpa de ninguém. A vida é assim mesmo. Superestimada. Na minha crença torta, o pós vida tá lá rindo das nossas dificuldades. Enquanto aqui sofremos terrivelmente com tudo e qualquer coisa.
Mas me diga, o que a vida te aprontou dessa vez?
Porque mesmo que a reposta seja nada, sem dúvidas tu vais estar chateado com essa ausência de problemas. Na minha teoria, quem não tem problemas engorda. 

Eu podia lançar um programa fitness do estilo perca peso em 10 dias. Sim! Idéia genial!
Se você não leu o sarcasmo, podes fechar essa janela agora.

Fechou?
Não?
Devias!
Ok.

Leve a vida leve. Ela tem data para acabar. Tu só não sabes quando é.

Esse dia não vai respeitar a tua passagem marcada.
O teu compromisso marcado.
Nem a vontade do teu namorado.


Um dia tu chegas lá ;)


terça-feira, 3 de março de 2015

Daqui a 33 anos quero ler esse texto.

O Brasil é um país lindo.
Mas somos um povo burro.
E eu não chamo de burro a porção tida como "ignorante" da população. Eu não me refiro aos analfabetos ou aos que não tem acesso a cultura e comunicação.
A verdade é que o povo brasileiro é mole. Nós somos pacíficos demais, somos serenos demais. Somos calmos demais.
Aí alguém vai me dizer: "mas com essa violência toda, você diz que somos pacíficos?".
Sim, aceitamos a violência com muita paz. Aceitamos a corrupção com muita calma. Aceitamos a imposição do Estado de forma muito moderada.
Enquanto escrevo esse texto, sinto que estamos a beira de uma revolução. E eu não poderia desejar coisa melhor para essa nação. Não vivo o sonho utópico de imaginar um país soberano com nenhuma corrupção.  Não. Mas também não precisamos viver em um país que de soberano tem pouco e ainda menos e de ético. 


O Brasil é um país cruel. Nosso povo ainda é escravo.
Só que não temos mais um dono. Temos vários, sentados em palácios (da alvorada, do congresso nacional ou da justiça, temos muitos...) e decidindo nossos futuros como um coronel fazia com seus negros no Brasil de mil quinhentos e pouco...

Somos ainda uma colônia.
Só que não temos mais um país sede. Uma pátria mãe, como era Portugal.  Temos várias empresas e partidos políticos que mandam em quem segura o leme da nação. Obedecemos ordens como uma criança que está sendo guiada. Seguimos os interesses daqueles que nos lideram ou ficamos de castigo.


Vivemos uma guerra civil silenciosa desde que nós chamamos de democracia.

Os números no ano de 2015 mostram um Brasil mais violento que as zonas de guerra ao redor do mundo! Isso mesmo, nós matamos mais que o oriente médio. Nossas favelas são comunidades paralelas com poderes paralelos (e bota "poderes" nesse poderes).
O simples fato de você estar próximo a um favela do Rio de Janeiro, pode te tornar uma vítima das balas perdidas desse confronto.

Mas a maior violência, é a corrupção.
Nosso país está podre, falido e desesperado.
As secas de 2014 e 2015 tem feito da falta da água uma visita indesejada muito presente.

Nossos representantes políticos acabaram de aprovar mais um aumento salarial para ele mesmos. Isso mesmo que você leu. Vou escrever de novo: nossos representantes políticos aumentam o próprio salário todo ano. Eles alegam na maior parte das vezes algo como: o reajuste é legítimo, está dentro da lei.
A lei é que não é legítima.

O Brasil é um país de abismos.
A maconha aqui é proibida, mas se você quiser comprar crack na cracolândia (é como chamamos um bairro ou rua onde o consumo de crack não é proibido), é só ir lá e comprar.

Aqui deputados, senadores, prefeitos, governadores, presidentes e ministros tem salários de 20-30-40 mil reais. O que não é assustador, de verdade. Mas possuem, na contra mão desse cálculo bens (imóveis, fazendas, carros, casas e apartamentos) que se somam 20-30 vezes o que um indíviduo que tem essa renda conseguiria acumular.
É mais ou menos assim: se nossos políticos fossem crianças, nós pagariamos mais ou menos 500,00 reais de mesada para eles.
Mas nossos filhos tem Ferraris, coberturas e dinheiro guardado na Suiça. E nós achamos normal.
E quando perguntamos:

"- Filho, essa Ferrari, como você comprou?"
Eles respondem:

"- Com a mesada pai!"
E nós achamos normal.
"- Meu filho está bem!" - nós dizemos.

E ligamos a televisão no jornal nacional para assistir o resultado do nosso time do coração.

E existem também aqueles zumbis que me dizem:

"- Mas isso sempre foi assim! Tu deverias parar de dizer essas coisas..."
Como se o errado fosse questionar. Como se o errado fosse apontar o dedo e dizer: 
"- Me explica isso aí! Me explica como tu comprou isso!"
O dinheiro que essas pessoas guardam e gastam, é o que construiria nossos hospitais. Nossas escolas. Que daria salários decentes aos nosso policiais. Que construiria estradas. Metros e aeroportos. Com esse dinheiro é que teríamos defesas em nossas fronteiras, teríamos planejamentos para questões como a água da amazônia, para o desenvolvimento industrial nacional, para subsidiar nossos empreendedores, nossas pesquisas científicas, nossa cultura, nossas vidas!

Aqui estou eu.
Sou brasileiro por nascimento e não por escolha, se eu pudesse escolher teria sido outra coisa.

Algo mais humano e menos burro, provavelmente.