sexta-feira, 31 de julho de 2009

Um presente indesejado.

O dia amanheceu. Como sempre ele o via lá. Parado. Sobre seus dois pés cansados.
"- Se ao menos pudesse ouvir tua voz - ele lamentou - teria tanto para conversarmos..."
O rio os separava de forma semiótica. Todas pontes que haviam sido construídas foram metaforicamente derrubadas. Por vezes, as aguas do rio eram violentas e turvas. Haviam os dias em que eram calmas e transparentes como em contos de fada.
Mas mesmo nesses dias, ninguém o atravessava. Não se arriscava nem um aceno que fosse.
Atravessar jamais foi uma opção.
Do silêncio das duas bocas, tudo que se podia ouvir eram os olhares. E ainda assim, somente um observador extremamente astuto conseguiria distinguir a educação exemplar do desejo ardente, que se revelava com o dilatar das pupilas diante de seus olhos cruzados.
E a todo sol o mesmo ritual se repetiria. Cada qual do seu lado. Cada um Rei de seu castelo vazio.

Até que um dia...

... um deles esperaria sua companhia silenciosa chegar.

Mas ninguém apareceria.

O silêncio de um dos lados do rio, preferiu pelo motivo que fosse, partir. Ele não voltaria ao rio. Não ficaria mais ali, dia após dia. Seu vazio havia dado ao outro lado uma nova companheira.
Um presente indesejado, é verdade. Daqueles que não se pode trocar, devolver ou esquecer que se ganhou.

Não.

Sozinho, ele divagou:
"- Minha nova companhia, se chama tristeza... Finalmente tenho alguém comigo deste lado do rio."

"A Gente nasce e morre só.
E talvez, seja por isso mesmo é que se precise tanto viver acompanhado." (Rachel de Queiroz)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Enquanto isso..

O sol nasce incessantemente. Sempre irredutivel quanto ao trazer a luz. Penso em tudo que ele vê completando uma volta no planeta. Todas as pessoas que o enxergam e usam as mãos para defender-se da sua força.
Vê mortes e amores, nascimentos e sofredores.
Vê festas e serenatas. Abraços e risadas.
Como um juiz infalível. Ministro da verdade. Testemunha de tudo que foi e será, passa sobre nós o sol. Em silencioso caos. Cheio de explosões inaudíveis. Como risadas do nosso cotidiano. Passa por cima de todos como poesia.
E tentar engana-lo é sempre em vão. Mudamos nossa rotina para não vê-lo. Nos escondemos em casas e apartamentos. Mas ainda assim, como a mais alta nota de uma sinfonia, ele surge. Um raio através da persiana. Uma fresta na cortina. Um grito de brincalhão de criança. Lembrando que lá fora é dia. E que se vamos evita-lo, precisar tentar melhor.
O sol vê tudo que se passa.
Não há dia em que isso não aconteça.
De sol a sol, sobre nossas cabeças.
E que assim seja.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O fabuloso tempo e a infinfável maldição da tristeza do passar.

Passa tanto tempo.
Tempo só se vê ao passar.
Passa manso como vento. Ou revolto como mar.
Tempo passa tanto.
Tanto tempo passará.
Passa tempo tanto,
que nem não vou mais tentar.
Passa a lua e o relento.
Só vê reflexos de mar.
Passa chuva e trovoadas.
Chega a tristeza sem chorar.
Passa tempo, passa tanto.
Como carinho de Deus para aliviar.
Tempo grande solitário.
Procura outro tempo para amar.
Não encontra, pois o pobre tempo,
não sabe não passar.

Passa tempo, passa tanto. (:

terça-feira, 28 de julho de 2009

Dispenso...

Muito aconteceu
Agora deixa pra depois
Parece cena de novela
Colorida por nós dois

Nesse apartamento
Um vento sem consentimento
Que me bate atrás da porta
Que você fechou agora

Vem me dizer
Que um tempo aconteceu
Esse não é meu lugar
Dispenso o que você não fez

Posso até jurar
Já não vejo um jeito
Ser teu jogo
Ser teu direito
Então
Não posso
Não sou
Não quero

(Volver - Dispenso)

http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=4191

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Kátia e João.

Ele caminhava em silêncio. Olhando para seus próprios pés enquanto pensava que deveria comprar um cachorro. Afinal, seria bom ter alguma companhia. O inverno havia chegado como um visitante grosseiro. Sem muitas delongas, por favores ou com licenças.
"- Tá frio pra caralho !" - disse sozinho João.
Sem perceber e enquanto chingava o tempo ele entrou em rota de colisão contra ela. Linda, com o cabelo preso e ainda com seus óculos de leitura. Carregava os livros da biblioteca da universidade pensando se conseguiria entregar o trabalho até sexta feira. Sentiu uma brisa gelada lhe agarrar pelas têmporas e instantaneamente encolheu sua cabeça entre os ombros abaixando-a.
Muitos, a esse ponto da história vão chamar isso de destino. Dizer com os olhos cheios de convicção e carinho que "era pra ser...", enquanto sorriem... Outros, mais frios e racionais, dirão ser a probabilidade. Sorte talvez. Mas nada além de um "poderia acontecer com qualquer um...". Eu não vou revelar minha opinião. Mas talvez concorde com todos e com nenhum.
João viu dois pés além dos seus, mas eles apontavam pro outro lado. Caminhando pela calçada não teve tempo para fazer nada além de erguer a cabeça e vira-la.
Chocaram-se.
Kátia, coitada, tomou um susto e largou seus livros pelo chão. Levando as mãos a testa fez uma cara de dor. Ele deu um passo para trás quase que instantaneamente dizendo:
"- Meu Deus moça, me desculpa... Eu não te vi..."
Ela não respondeu, mas o chingou bem baixinho enquanto tirava as mãos da frente dos olhos e ajeitava seu óculos. Quando recuperou a visão pronta pra lhe dizer como devia prestar mais atenção ao caminhar na rua (mesmo sabendo que também não estava olhando...). Ela parou.
João estava abaixado juntando seus livros e dizendo que estava com a cabeça nas núvens. Pensando em comprar um cachorro mas que isso não era desculpa. Que sentia muito. Perguntava se podia fazer alguma coisa, comprar um band-aid, pagar um taxi ou um café...
Ela achou graça do rapaz meio atrapalhado, vestido de jeito engraçado e se esforçando para ser gentil mesmo tendo sentido a mesma dor que ela.
"- Café." - respondeu acanhada.
Ele parou e olhou para cima... Não tinha olhado ainda...

Ela era linda. Não bonita como uma modelo de revista ou uma atriz de cinema. Ela era simplesmente linda. Sem aquela maquiagem escrota ou toda aquela luz que se usa no mundo da moda. E sem parecer vulgar ou uma freira também...
Ela parecia ser exatamente o que queria. Linda. Linda demais pra João dizer qualquer coisa sem parecer um idiota. Ele ficou sério olhando pra ela, sem palavras.
Pensando que aquela era a mulher mais bonita que ele já tinha visto diante de si...
Foi quase constrangedor.

"- Café moço... Se arrependeu de oferecer ?"
"- NÃO !" - pulou João tentando se levantar e deixando os livros e papeis que havia juntado cairem novamente....
Kátia começou a rir e ele também. Trocaram seus nomes com um aperto de mão desengonçado.
Ele pagou o café.
Ela falava calmamente, contou que estudava psicologia, 7 semestre... Que gostava de cinema e de Beatles, principalmente do albúm chamado Revolver.
Ele falava rápido e era um pouco atrapalhado, fumou dois cigarros. Contou que trabalhava na empresa do pais. Adorava cinema e achava Revolver o album mais medíocre que os garotos de Liverpool haviam feito. Mas mentiu dizendo que também gostava muito... Lembrou-se até de uma faixa para provar que gostava.
Eles cantarolaram juntos até ficarem com vergonha um do outro.
Trocaram telefones ao descobrir que gostavam dos mesmo tipos de filme. Ele brincou dizendo que precisava a convidar pra ir ao cinema, já que um show dos Beatles não daria. Ela sorriu educadamente, mas não achou graça de verdade. Ele não percebeu.
Despediram-se.
Casaram-se 4 anos depois. Ela havia se formado. Ele aberto a própria empresa. Adoravam estar juntos. Viajavam conversando com o som do carro desligado. Trocavam apelidos engraçados. E fizeram vários amigos em comum.
Em uma dessas viagens, João escreveu na parte de dentro da porta do quarto com um canivete:
"João e Kátia - 2003".
Quando ela acordou ele lhe disse que não queria a perder jamais...
Apesar de normalmente não beija-lo sem escovar os dentes. Ela se permitiu e o beijou demoradamente. Disse que ele jamais a perderia enquanto o abraçava.

Eu não escrevi nada desde sexta feira porque estava viajando.
Fiquei no quarto em que João e Kátia haviam ficado a 6 anos atrás.

É isso : ) seja lá o que isso for...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Pingo de chuva sobre a minha cabeça.

Sentido pra vida até há.
Mas se procurares pelo visível,
nada verás.
Sentido é cheiro de flor.
Carinho gentil de paixão.
Beijo de amor.
Força de amigo pra onde tu for.
Compreensão de nossas mães.
É luta lutada sem se render.
Guerra perdida que consegues vencer.
Não resta muito disso no mundo, eu acho que sei.
Música boa pra filme ruim.
Herói mentiroso que de joelhos chora no chão.
Pulsa acelerado como um coração.
E sentido pra vida até há de haver...
Nós na verdade, somos eu sem você.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

É de se arrepender.

Se vale o gosto de vaso quebrado, vamos varrer o chão e jogar os cacos fora.
Isso é lágrima sobre leite derramado ? É choro de lobo vestido com pele de crocodilo fingindo estar arrependido.
Porque arrependimento é amargo e dói demais se esquecer do que se fez. Queria eu me lembrar do teu cheiro. Mas não do perfume ou do gosto da boca milimétricamente limpa. Não. Falo do cheiro da pele amanhecida ou do cabelo amassado pelo nosso desejo. Do lençol marcado pela nossa presença, como desenhos rupestres registrando a passagem dos que estiveram alí... Onde ninguém jamais vai estar.
A verdade é que o tempo sempre espera pra depois. E passando ele engana tua mão. Lá no final, quando a estrada acaba, você percebe. Se arrepender é piada de relógio. E não há mais flautas que te levem a sair da cidade levando todos os ratos atrás de ti. Essa é a nova casa deles. E de outros bichos escrotos. Dos esgotos. Anos 80 ? Fita cassete no walkman ! Vou fazer um feitiço pra que todo iPod da minha cidade se transforme em um walkman sony. Se eu conseguir isso, não vou me arrepender. Sei que não. Pessoas de todo o Globo vão me procurar pra que eu faça o mesmo em suas cidades !
Eu sei o que quer dizer se arrepender.
A felicidade de viver, é triste. Pois não temos um dia de viver sem também ganharmos um dia a mais de morrer. E vivo está aquele que se sente pleno em estar. E não o que respira e caminha. Pois respirar e caminhar é possivel até pros fantasmas que nos assombram. Te acompanhando em silêncio pela vereda do que já foi tua cidade. E agora não é mais. Pois não tens mais um lugar teu. E quem iria saber que seria assim ? Triste.
Alguém me diz que ninguém poderia prever. Me sinto obrigado a concordar.

Chove lágrima sobre o mar.

E quem ama o mar nunca está sozinho. Porque sempre, o mar está lá... ( :



terça-feira, 21 de julho de 2009

Cem/Sem (ótimas) idéias

Poesia, se escreve sobre tudo que se vê no mundo, sem precisar usar os olhos...
Mas continuas medindo os dias em cafés.
E poderia ser pior. Muito pior....





segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ouso perguntar. Ouço perguntar.

Apaguei o que ia escrever. Era muito peixe fora dá água. Vou manter o título porque me lembra sobre ouvir e ousar.

Pensamento do dia:

"Podemos medir através do tempo levado para se consumir um quilo de sal até você realmente conhecer alguém... Você não o conhece realmente antes disso."


domingo, 19 de julho de 2009

Devaneio dominical.

Who you think you are ?
Who you think you are ?
I´m Frodo Baggings from the shire.
Smeagel is my friend, he plays at my rock band !


sábado, 18 de julho de 2009

Questão de gosto.

A raiva machuca os ouvidos.

Eu prefiro o silêncio... Ele só machucará o coração.


sexta-feira, 17 de julho de 2009

Insólito

Engasgado. Amanheceu. Lembrança.
Tossi teu nome. Sol igual ao de ontem, sempre diferente. Longa noite.
Chega de cigarros. Sem chuva hoje. Rua estreita, lembro bem.
Café com leite. Sem fome, só de espírito. Meu bem...
Uma piada pra me fazer sorrir. Sexta feira. Sem/cem.
Isso nos torna ótimos amigos. Saudade. Mentiras e verdades.
Obrigado por isso. Obrigado por isso. Obrigado por isso.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

(Poesia pra uma tarde chuvosa - sem título)

Pobre coração, esqueceu de amar.
Pela rotina do viver.
Deixou ele passar.
Agora, no meio dessa confusão,
não consegue se arrepender.
Vigia a noite sempre calado,
fecha os olhos sempre cansado,
sempre desiste com os punhos cerrados.
Pobre coração quebrado.
Já não se vê mais feliz.
Mesmo tendo tudo que sempre quis.
Encontra o vazio arrebatador.
E se afoga sem a essência de ser.
Recebe o corte do vento
sem se defender.
Aceita a tormenta.
E só assim pode ser lembrar do sentir.
Faz tempo que é assim.
Escolhe todo dia seu caminho.
Sempre de sol a sol,
achando que é sozinho.
Triste que é seu existir.
Chora ao lembrar do teu sorrir.
E escreve cartas pra te entregar.
Nenhuma remete de fato, prefere as guardar.
Pobre coração que esqueceu como amar...


quarta-feira, 15 de julho de 2009

Café, café, café, café, café, café, café, café, cfaé, afacé,c alsaé ,a asº´sf+'3. as./&aa, as... preciso de mais um café !

Porque aqueles que falam cheios de certeza, raramente aceitam as certezas alheias ???
Isso é um saco ! Ter certeza é muito chato. Tá, eu sei. Existem as "coisas certas da vida". Bifurcações em que precisamos optar por esquerda ou direita. Por sim ou não. E não estou questionando isso.
Nessa longa caminhada, até o dia de hoje. Eu consegui aprender algumas lições importantes. Normal, todo aprendemos. A verdade é que do engatinhar ao dirigir todos tivemos uma longa caminhada. Mas um dia a gente levanta e se acostuma tanto a ficar em pé que até dá vergonha quando caímos no chão. Eu vi uma criança caindo e levantando. Ninguém ficou constrangido com o fato de ela precisar se equilibrar pra ficar sobre duas pernas. Mas se um de nós caisse. Com certeza seria embaraçoso.
E não caímos ?
Não seria a vida um eterno cair, levantar e se equilibrar novamente até a próxima queda ? As vezes a gente pode cair de joelhos e conseguimos nos reeguer rapidamente. Outras vezes podemos cair com o rosto no chão e mesmo depois de nos levantarmos vamos carregar os machucados por algum tempo. Até estarmos completamente sarados. As vezes podemos nem conseguir ficar em pé antes da próxima queda. Ou então podemos estar simplesmente cansados de ficar em pé por tanto tempo. Aí a gente senta por alguns instantes no chão até tudo voltar ao normal...
Cair e levantar. Estranho... não era sobre isso que eu queria falar. : )
Mas pode acontecer também de não vermos o motivo da queda. De ser como o vento é, invisível e imprevisível. Ou de vermos o motivo vindo. Como quem fica em pé sobre o trilho de uma locomotiva. De olhos fechados, ouvindo o som do apito. Acreditando que cada instante alí vale a pena. Sabendo que se ficar, não sobrará muito do que chamava de conciência pra contar o que aconteceu.
Mas de um jeito ou de outro. Você aprende que tua força é maior do que tu pensas. Que teu corpo aguenta mais do que tu achavas. Que mesmo sangrando tu ainda estás vivo. E que mesmo que alguém venha te chutar, depois de caires. Tu ainda vais conseguir te sair bem.
Isso é bem "In to the wild".
Chamar as coisas por seu verdadeiro nome. Já falamos sobre isso. Sim, falamos (no coletivo)... na minha cabeça só é possivel escrever como se fosse uma conversa. Concordando e discordando de mim mesmo. Todo o tempo.
Smeagol ? Me deixa com meu precioso. Meu precioso...
Por exemplo, eu estou em uma fase Fernando Pessoa. E to adorando. Me faz sentir menos ignorante. Fico feliz de saber que ele existiu e a tanto tempo atrás escrevia tanta coisa que posso carregar comigo por tanto tempo...

Tenho pena e não respondo.
Mas não tenho culpa enfim
De que em mim não correspondo.
Ao outro que amaste em mim.

Cada um é muita gente.
Para mim sou quem me penso.
Para outros sou o que cada um sente.
O que julga,
e é um erro imenso.

Ah, deixem-me sossegar.
Não me sonhem nem me outrem.
Se eu não me quero encontrar,
Quererei que outros me encontrem?

(Fernando Pessoa)

Não. Não quererei. : )



terça-feira, 14 de julho de 2009

Talk tonight (Oasis)

Cena 58:
Interna - Teatro (texto editado)
Elizete (texto editado) fala sobre Pedro.

"Eu considero ele uma pessoa satisfeita..."

até

"... que felicidade !" (TC:52´11")

Fade out
.
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segunda-feira, 13 de julho de 2009

Uma bela melodia no piano.

Algumas notas soltas. Quase espadaçadas demais, mas não chega a tanto. Elas saltitam sobre a fronteira do estranho e do bonito. Pisando nos dois Reinos ao mesmo tempo. Girando com um bailarino. Suave. Gentil.

- Me considero uma pessoa muito feliz, apesar de ser solitário. Mas quem ama a arte, é como quem ama o mar. Quem ama o mar, nunca está sozinho...

E é assim que eu me sinto.


domingo, 12 de julho de 2009

Vento gelado e janelas abertas.

Não seria tão mais fácil se tudo se encaixasse feito um quebra-cabeças para crianças com até 7 anos de idade ?
Seria sim !
Mas é um pouco mais complexo que isso eu acho, nem tudo se encaixa perfeitamente. Algumas peças precisam ser relocadas. Outras nem com um terromoto tu consegues tirar do lugar.
Mas na medida que vamos as dispondo sobre a mesa, um quadro maior vai se formando. Que seria o resultado do quebra-cabeças. Acho que tudo bem chegar no final dele com algumas faltando. E outras sendo forçadas a ocupar um espaço que não é o original. "É a vida !" dirá alguém.
É. É a vida, eu vou repetir.
Devia ter um manual de instruções.
Um 0800 pra resolver dúvidas.
Um especialista, um psiquiatra, alguém que pudesse te esclarecer os problemas. Te dar soluções.

Vamos nos dar as mãos e acordar com o leve toque do dia em nossas faces.
Sorrir as tristezas e enxugar lágrimas de infelicidade com os ombros de nossos amigos.
Vamos abraçar desconhecidos nas ruas.
Ajudar quem é invisível, mas passa frio e tem fome.
Levantar quem caiu.
E distribuir todos os murros nas caras daqueles que jamais pensaram que sofreriam as consequencias.
Vamos lutar até o final, mesmo já tendo perdido a batalha.
Minha espada ainda tem fio e meu escudo não está tão mal assim. Exatamente como o seu...
Eu acho que levo pelo menos mais dois deles comigo. E você ? Também ?

"Wake up feeling good

Go to bed frequently lost in the wood
A soldier’s tale of soul winning love
No drunken stuff spewing out of my mouth
All over now out

Birdsong in the night
The sound drags a net through the twilight
Emptiness in computors bothers me
These are the seas in our minds
We make our own confine in time..."

(A soldier´s tale - The Good, the Bad and the Queen)


sábado, 11 de julho de 2009

Segue o seco.

Seria um idiota se fosse assim.

E eu sou um monte de coisa ruim. Mas não um idiota...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Mestre Jonas.

Dentro da baleia mora mestre Jonas
Desde que completou a maioridade
a baleia é sua casa, sua cidade
dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho.

E ele diz que se chama Jonas
E ele diz que é um santo homem
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria
E ele diz que está comprometido
E ele diz que assinou papel
que vai mante-lo preso na baleia até o fim da vida
Até o fim da vida

Dentro da baleia a vida é tão mais fácil
Nada incomoda o silêncio e a paz de Jonas
Quando o tempo é mal, a tempestade fica de fora
A baleia é mais segura que um grande navio

E ele diz que se chama Jonas
E ele diz que é um santo homem
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria
E ele diz que está comprometido
E ele diz que assinou papel
que vai mante-lo preso na baleia até o fim da vida
Até o fim da vida
Até subir pro céu...

http://www.youtube.com/watch?v=e-x86iiozsc

"E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria..." :D



quinta-feira, 9 de julho de 2009

Aceito a condição.

Você não existe. Todo resto o faz...
Você nasce.
Cresce.
E em determinado momento, começa a comprar coisas.
Casa, carro, fio dental e papel higiênico.
Televisão, player de blu-ray, chinelos e canetas.
Ternos, cuecas, óculos e camisetas.
Se torna dono de tudo que precisa e quer.
Pouco sabes sobre o nada ter.
Você se deita para dormir a noite.
Se senta para comer de dia.
Caminha as vezes, mas prefere voar.
Quando lá em cima, você olha para baixo e vê.
Tudo que tem e é.
Cheio de si. Satisfeito em existir.
Certa noite, você adormece fragilmente.
Mas jamais acorda.
Teu corpo apodrece em uma caixa de madeira.
Comido por vermes brancos.
Some daqui.
Como que engolido por uma baleia.
Pouco se lembram quem foi tu. De onde vinha e para onde ia.
Que era gentil e tinha mãos ásperas.
Que o azul dos olhos ofuscava o próprio mar.
Que o sorriso quase me fazia chorar.
Você vira lembrança.
Depois foto.
Depois esquecimento.
Depois você deixa de existir por completo.
Mas suas coisas estão lá. Quase todas elas.
Importantes que são agora... Enferrujadas e velhas.
Trocarias tudo por mais uma hora.
Uma brisa ensolarada.
Abraço apertado.
Taça de vinho amigo, lado a lado.
E quem de ti não lembra, para aí também vai.
Vive a vida esperando o final feliz.
Sempre no amanhã.
Sempre mais.
Certeza que se tem, é uma só:
Pra cada bebê um caixão.
E não poderia ser melhor...
(:



quarta-feira, 8 de julho de 2009

Tarefa pra herói.

"É preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê..."

Você supõe que se botar a mão na maçaneta e gira-la. A porta vai abrir.
Eu entendo que se a garrafa de vidro cair no chão. Ela vai se quebrar.
A gente sabe que se o carro voar aqui de cima. Vai rolar através de pedras, árvores, arbustos e terra. Até parar totalmente desconfigurado.
Se passar o dedo sobre a navalha. Você vai cortar sua pele.
O grito, faz barulho.
O sol me acordou hoje de manhã, gentilmente. Mas nós não conversamos. O engraçado é eu lembrar de deixar a janela aberta ontem, só pra ve-lo entrar hoje...
Se a tua previsão é chuva. Eu vou pra praia, lá tem sol.
Livro fechado não conta história. Mas a imaginação pinta quadros.
Pé no céu e mão no chão. Vamos rir do que ninguém ri...
Sorte de rio é chuva suave. Azar é pescador fumante.
Sonho amargo não é pesadelo. Mas ninguém sonha sabendo que vai acordar, simplesmente acorda e percebe que sonhou. Só depois disso sabe se foi bom ou ruim.
Memória mentirosa é barco sem remo. E lembrar realmente do que aconteceu é tarefa pra herói. O resto é suposição...
Poesia de doce estragado tem cheiro ruim. Café de verdade tem sorriso, nem que seja da solidão te acompanhando em um domingo de manhã.
Meu pé foi embora e voltou com três carimbos estranhos.
Tosse é o espírito tentando fugir. "Saúde" faz voltar.
Amigo de contramão é acaso despreocupado. Não tem como fugir. É só mudar o rumo.
Tem gente que é boa e se faz de ruim. Sofre.
Tem gente que é ruim e se faz de boa. Estrofe mal feita.
Partitura de tambor é baqueta quebrada. E se for tarde demais eu deixo o pão no chão e volto pra casa, porque é domingo. Fila de pé é espinho na nuca. Não mordida carinhosa ou beijo na testa. É tapa no rosto.
Coragem pra ver. Entrega na mão Dele e vai.
Mas não olha para trás. Nós fomos pro outro lado. E eu me vejo cantando sozinho de novo. Algum dia já foi diferente ?
Não sei dizer.
Saber de tudo é tarefa pra herói. Exatamente como lembrar de tudo que realmente aconteceu.


terça-feira, 7 de julho de 2009

Criar mensagem.

"- Que animal caminha com quatro pés pela manhã, dois ao meio-dia e três à tarde e é mais fraco quando tem mais pernas?" - perguntou com superioridade a Esfinge.
"- A solidão" - respondeu calmamente Édipo.


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Idéia pra nome de novo blog: Estrada de barro.

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia...
e se não ousarmos a fazê-la teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
(Fernando Pessoa)

Obrigado Bruna :)

Assim será.

Sendo assim, não vou voltar.
Flores de outono e
jardins para plantar.
O juízo correu para longe. Foi chorar.
Vivo com meu violão.
Cem canções para cantar.
Escrevemos livros para não esquecer.
Rasgamos nossas fotos ao amanhecer.
Morre céu azul e a chuva vem.
Sem pena de falcão, nem carta se tem.
Ouço a voz que chama, dizer: adeus.
Largo sorriso sem fim.
Mentira pior, é a que contas só pra ti.
Pesadelo acordado.
E continuo calado.
Mas a verdade mora perto.
Na verdade, ao lado.
Linha do horizonte é um pulo.
Minha boca diz uma palavra ao contrário.
Gentil olhar inesperado.
Solidão é boa amiga.
Me deu a mão na saída.
Espelho no rosto pra refletir tua risada.
Telhado de vidro com chuva de pedra.
Quem não gostar, não gostará !
E assim será.

:)



domingo, 5 de julho de 2009

La luna

"Según se sabe, esta mudable vida
Puede, entre tantas cosas, ser muy bella".
(Borges)

Agree.

sábado, 4 de julho de 2009

Pérolas aos porcos.

Não se oferece flores a cães.
Não se estende a mão pra quem vai te atacar pelas costas.
Não se chora sobre a culpa alheia. Nem sobre a desculpa.

Enforquem o culpado.
Botem fogo em sua morada.
Expulsem seu esposa e filhos da vila.
Construam uma taverna sobre sua antiga casa.
Esqueçam-se dele.
Morram cheios de si.

Dias remotos são aqueles em que eu sentia tua ira.
Tua lâmina quebrou.
Minhas costas sararam.

Tu continua com a tua raiva.
Eu carrego uma cicatriz pequena...
Chega de perolas aos porcos.

O problema é teu !

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Simples.

"Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio..."
(Mario Quintana)

Hã ?!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A Industria de Memórias do Dr. Mundsig.

Me lembro de acordar com o cheiro do café em casa. Corria até a cozinha para conversar com meu pai. Ele sempre tinha uma história de antigamente pra contar. Quando não existia nada por aqui. Só algumas famílias sofrendo pra tentar construir uma cidade melhor.
Ele estava no meio deles.
Eu sempre procurei ouvir atentamente o que ele me contava, de uma algum jeito estranho valia a pena. Alguns contos tinham punch line outros terminavam em questionamento. Mas de uma forma ou outra, era sempre bom ouvir meu velho falar.
Acho que esses dias passaram. E talvez meu relacionamento com ele nem tenha sido tão perfeito assim. Afinal, éramos (às vezes) pai e filho. Por tanto precisávamos discutir algumas coisas irremediavelmente. Mas ainda assim, acredito firmemente que pai e filho não era nossa relação original. Prefiro pensar que fomos amigos com uma grande diferença de idade.
Consigo, ao menos, acreditar que mudamos bastante a vida um do outro. E foi bom.
Bom não. Foi do caralho.

Mas terminou.

Acordei pensando em começos e fins. Tudo que você acha que não terá fim e tem. E aquilo que você pensa que passa, e não passa. Pensei em espinhos nos dedos e dores de cabeça. Em fotos velhas e músicas que nossos instrumentos não tocam mais.
Acho que como uma metáfora, podemos concordar que tudo nasce, cresce e morre. Algumas coisas deixam filhos mais novos que gostam de ouvir histórias. Outras nem se casam...
Algumas vidas duram dois meses. Outras 96 anos.

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade - Os ombros suportam o Mundo



quarta-feira, 1 de julho de 2009

A tristeza é minha e eu carrego ela pra onde eu quiser.

Lex Luthor e outros vilões.

O herói morreu.
Foi cena de filme hollywoodiano. A camera em slow motion. Colunas de fumaça ao fundo. Ele ajoelhado com seu lindo rosto de mocinho injustiçado, mas um pouco sujo (afinal ele sofreu muito pra chegar até alí) e com o cabelo milimetricamente desarrumado. Explosões ao seu redor, sem que nenhum estilhaço lhe interrompesse o momento "PORQUE ????". Uma trilha solitária, triste e tocada em um piano preferencialmente. Notas espaçadas.
Assim ele morre.
Com um tiro pelas costas.
Deixando uma platéia de gente indignada. Dizendo que não gosta de finais tristes. Que se contenta somente com mocinhos que se casam com donzelas em finais medíocres de filmes roteirizados por chimpanzés que fumam charutos e bebem uisque enquanto trabalham em suas máquinas de escrever 24h por dia. 7 dias por semana.
Lex Luthor riu dessa cena.
Ele sabe que um vilão é tão importante quanto o herói.
Os vilões são só caras fazendo oque eles querem fazer.
O herói pensa no bem de toda sociedade.
O vilão em si próprio e em seus objetivos.
O herói ganha os louros, bustos de cobre nas praças, livros e filmes.
O vilão fica com a má fama e o julgamento de todos.
O herói se casa no Hawaii dançando ula-ula.
O vilão fuma cigarros na cadeia, pensando em como fugir.

O herói termina a vida sem ser herói. Ele foi herói e deixou de ser quando venceu o vilão que nunca mais se libertou.

O vilão termina a vida sendo o vilão. Até o ultimo momento ele pensou em como se libertar. Em como conseguir o que tanto queria. O que planejou por tanto tempo. Comprometido, a sua maneira, até o fim.

O herói não. Ele só queria uma boa aposentadoria pra poder dizer: "estou velho demais pra isso...".

Não existem heróis sem vilões. O contrário não é verdade.