sexta-feira, 27 de junho de 2014

"Em execesso até fracasso faz sucesso por aí..." (Pouca vogal)

Aquilo que te aplaca o medo dos bolsos para fora das calças. Te larga na rua sem nome. Na noite sem dia. Com frio na alma. Apavorado como quem pula o muro em segredo. Ou é pego pelo tsunami sem avisos. É isso que te faz se sentir vivo. É isso que te lembra que a vida é mais que um dia atrás do outro. Com problemas, prazeres e planos. A vida não pode terminar com a morte. Nem a morte terminar com a vida. Caminhar para muito além do tempo. 

Porque tudo que o tempo faz é ter fim.
 

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Cometa que passou
por aqui.

Como ter saudade

do que não vi.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O problema dos bons livros e das pessoas legais é o mesmo.




Eventualmente, as duas coisas tem um fim.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Pô, és má!

Segue vida
Vai no caminho
Vem na vontade
Da trilha sonora

Roteiro e livro
Na garrafa do vinho
Janela aberta
E a porta trancada

Final de história
É sempre destino
Com noite comprida
Sem alvorada

Quietude do tempo
Do relógio de pulso
Coração que bate
Na vida passada.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Cartas à qualquer lugar.

Enquanto o mundo girava, eu escrevi essas palavras. E só as chamei de "cartas à qualquer lugar" porque elas fazem parte de uma antiga mania: escrever para ninguém.
Assim, tanto faz quem le-la. Tanto faz se ninguém ler. Não um tanto faz nojento e desimportado. É um tanto faz, tudo bem. Porque está tudo bem.
Por muitos anos tive a impressão de que a busca pelo sentido da vida (e de tantas outras coisas) é uma grande bobagem. Bobagem essa que provavelmente nos assombra a mais tempo do que podemos lembrar.
Acontece que outro dia, uma lesma me contou que o sentido para a vida e suas coisas é a busca. E que aqueles que encontram um sentido real para qualquer coisa, e alegam ser o sentido verdadeiro, são como aqueles que assistem a um unico por do sol e dizem que aquele é o por do sol mais belo do mundo. De todo o mundo inteiro.
A lesma foi embora. Me disse que tinha compromissos, pessoas com quem conversar. Assuntos para resolver. Coisas importantes. Ligações internacionais. Questões comerciais e alguns jogos de poder.

Eu fiquei sentado na beira do rio. Imaginando se a vida é sonho ou se o sonho é vida. Se há caminho, ou o caminhar é a trilha. Se o sentido é uma direção, feito norte ou sul. Ou se é a busca.

Me esforço para não ser tão misantropo. Me esforço para manter meu coração aberto. me esforço para ver além das mentiras e ignorâncias que a raça humana e seu ego podem criar e sustentar.

Ser humano as vezes é muito pouco.
É preciso ser mais.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Amores e desamores são igualmente bonitos. Se tu parar para pensar sobre isso. Se não, tanto faz. Como tudo na vida. Nem tudo. Mas quase. Tu entendeu. Provavelmente...

Não adianta. Escrever bonitinho não é para mim. Eu escrevo feio. Errado, e sei disso. Quase "dejeto" escrevendo. Como se dejetar fosse um verbo. Pois bem sabemos, não é. Mas podia ser. Tanto podia que você entendeu o que eu disse. E se não entendeu, bom, tanto faz... 
Sinceramente.

Edward Sharpe & The Magnetic Zeros gritam nos meus fones que "casa é onde eu estiver com você". 
"- Clica e ouça você também" (esse fui eu sendo digital).
A lista de coisas "para se fazer" na vida não para de crescer. Apesar de eu nunca ter feito essa lista. E nem acreditar que um dia irei faze-la.
O amor entre duas pessoas que se respeitam de verdade é tão raro que eu não consigo mais acreditar em qualquer amor. Isso é como uma maldição. Eu digo, não acreditar é como uma maldição.
Um amigo murmurou outro dia, que a mentira é a unica forma de realidade tolerável. Que a verdade verdadeira, aquela sem as suavidades da voz "dela". Sem a calma a luz de velas de um jantar de vinho e carinho. Sem o regozijo de se estar junto a alguém que tu realmente admiras. Essa verdade, sem isso tudo, é quase intolerável. É brutalmente dolorida. Profundamente agressiva. Desesperadamente fria. Tal como aço afiado que rasga a pele. Fazendo aquela camada rançosa de gordura branca amarelada que carregamos no corpo brotar e escorrer. Essa verdade é daquelas silenciosas, parecida com o jeito de que alguém morre. Como muitos já morreram. Olhando para tetos de quartos bem iluminados. Lembrando daquele livreco daquele autoreco, "Cem sonetos de amor" de Pablo Neruda. Que poderia se chamar "Sem sonetos de amor". 


Ou ao invés de tudo isso, sê aquilo que imaginas:

"Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale, mas sê
O melhor arbusto à margem do riacho.
Sê um ramo, se não puderes ser a árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma passagem,
Se não puderes ser o Sol, sê estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê verdade no que quer que sejas.
Ou não serás."

(Pablo Neruda e eu)

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O certo que o errado fez.

Você nasce, cresce e morre. Essa é a lei. Alguns se escondem da regra. Não nascem ou não crescem. Talvez alguém não morra também. 

Vai ver o mundo tem mesmo magia, duendes e dragões. Vai ver em algum vale distante se esconde um castelo de pedra cinza, cheio de elfos com orelhas pontudas que dançam ao som de Enya. Vai ver que Enya é um conjunto musical saido das profundezas desse mundo. Diretamente para as paradas pop dos anos 80.

Vai ver que tudo é um grande devaneio. E a vida como a conhecemos é só um teatro que  Salvador Dalí convenceu o "Criador" de que era uma ótima idéia fazer. E lhe deixou dirigir. Partindo finalmente para as suas tão esperadas férias na constelação mais distante do universo. Longe de toda nossa ignorância e prepotência arbitraria infantil inerente a humanidade.

Pouco me importa de onde a paixão vem, me disse a televisão, o que me importa é para onde ela vai me levar.


Gira mundo.
Espera universo.

Eu fico aqui no meu centimetro cúbico kármico, sentado. 


Aguardando nosso desfecho.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

2014.

Do lado de fora dos estádios, não tem festa. Nenhuma fantasia com coreografia, música alta bonita, fumaça colorida e cornetas divertidas. Do lado de fora do estádio, nós ouviamos tudo isso de longe.  E ficamos imaginando. Com os pés no chão de barro molhado. 
Nossas roupas não são oficiais da Nike, ou listradas Adidas. Achamos esses calções por aqui mesmo. Jogados fora por alguém que poderia comprar outros pelo computador. Por alguém que viajou para Miami a pouco tempo e encontrou uma daquelas promoções 3 peças por 19.99 dolares na gondola de coleções antigas que os norte americanos ignoram. E os latinos emergentes que compram suas passagens aéreas em 60x no cartão de crédito, adoram. Nossas camisetas são de propagandas ultrapassadas. Antigas com logos rasgadas na frente. Golas alargadas nos pescoços. Furo nas costuras. Manchas de sujeira. Merda, lama e poeira.
Os cabelos dos jogadores, são disputados a tesouradas metafóricas por cabeleireiros internacionais. Cortes e tinturas que custam carros zero. Penachos. Tranças. Cores das suas bandeiras. Terra mãe. Como verdadeiros guerreiros tribais prontos para os combates. Os comerciais da televisão nos mostravam isso. Eles eram o mais próximo que nós conhecemos de hérois. Se armando para a guerra. Com direito a close do Rambo apertando o cadarço do cuturno que aqui era uma chuteira dourada como ouro. Com seus dentes brancos colgate. Suas namoradas barbies. Seus maseratis de ultima geração. Bancos de couro. Motores potentes. Cores metalicas. Como armaduras para garanhões medievais.
Nossos cabelos são ruins. Enrolados. Palhaça de aço, da puta que me pariu.
Nós andamos de bicicleta roubada, por não ter dinheiro pro metro. Rondamos o centro da cidade, e por medo da polícia que nos chama de ladrões, vagabundos e maconheiros, não ficamos muito tempo na mesma sinaleira. Comemos do que tem. No nosso menu tem pão velho, restos de salgadinhos e depois uma bituca de cigarro. Para nossas crianças, a marca de baton vale muito. É como beijar mulher na boca. Elas brincam. Sentem o calor do seus corpos. Acariciam seus seios e sentem seu perfume frances. Nós rimos de suas brincadeiras. Enquanto os carros das avenidas correm apressados. Rumo aos condominios fechados. Das garrafas de vinho importadas. E aos quartos quentes, de camas grandes onde eles dormem.
Nós também dormimos. Nem sempre no mesmo lugar. Mas também dormimos. Dormimos e sonhamos. Imaginos se quem tem dinheiro para grandes estádios. Para ajudar outros paises. Para fazer tudo que fazem. Também não pode nos ajudar.
Enquanto aqui, durante essa ultima madrugada, nosso vizinho morreu de frio. Sem gritar, sem gemer, sem chorar, sem sofrer? Não sei. Mas morreu. Foi encontrado duro na cama. Tava meio roxo, meio azul, foi preto a vida inteira e tinha o olho branco, dentro da boca era vermelho e na palma dos pés quase amarelo. Meu filho me perguntou em casa:
- Tem uma bandeira com essas cores pai?
Respondi:
- Não sei.

terça-feira, 3 de junho de 2014

A natureza humana, a Copa do Mundo no Brasil e um guarda chuva.

Ver a midia dizendo que não é culpa do nosso futebol o Brasil ser um dos paises com os piores índices sociais do planeta, me dá nojo.
Entre apoiar a sociedade civil e os blackblocs eu realmente fico em cima do muro. Entendo que nem todo individuo na sociedade brasileira precise ser o herói que os manifestantes esperam. Alguns de nós querem só viver suas vidas em paz. Ok. Isso é um direito de todo homem e mulher nesse planeta.

Só que nem todo homem e mulher pode se dar esse luxo.


Perceba, nobre leitor, é muito fácil para quem come todo dia e luta contra a balança para perder peso dizer que "esses vagabundos deviam é achar um emprego". A verdade é que a gente se esqueceu de como se colocar na posição dos outros. Vivemos, provavelmente, a era mais hedonista da história do planeta. Suprimimos tantas dores que até a dor alheia perdeu a intensidade. Estamos quase acostumados a ver pessoas moribundas pedindo dinheiro, comida, emprego, atenção, respeito... Aos nossos olhos programados para o nosso próprio prazer, todos são "vagabundos maconheiros bebados". E ajuda-los será só tapar o sol com a peneira.

Agora, quando a copa do mundo chega ao Brasil e alguém se levanta pra dizer: "perai! a gente precisava de hospitais e escolas ao invés de estadios!" tem jornalista que responde:
"- Ah, veja bem, a Copa é linda! O Brasil é o pais do futebol!"

Isso sim é tapar o sol com a peneira.

Se negar a ouvir esse apelo honesto é sim a verdadeira violência.

Outro dia, eu observava um grupo de pessoas em uma noite chuvosa. É o começo do inverno e aqui em Santa Catarina faz algum frio. As pessoas usavam guarda-chuvas. Pensei sobre as palavras: guarda-chuvas.
Tudo que um guarda-chuvas faz é empurrar a chuva pro lado. A chuva cai e bate na cobertura que faz a água deslizar até as pontas onde ela novamente cai até o chão. Ou seja, ela não molhará você.... Mas molhará quem está do seu lado.

O guarda-chuvas é só uma das nossas ferramentas hedonistas.
Como a corrupção.
Ou dizer que quem é contrário a Copa do Mundo é baderneiro.


As vezes, ser humano me cansa...