quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

O que eles falam de nós...

O caminho é sozinho.
Junto ou separado.
Caminha-se só.
Caminhar é revolução.
É o novo. O futuro.
Parar é afundar
no oceano da espera.
Caminhando sigo.
Só, do nascer
ao morrer.
O caminho é curto.
O caminhar 
é eterno.



segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Desconsidere-se

Imagino um café com Pablo Neruda. E me perco ouvindo a playlist de Interstellar, enquanto o mundo insiste em girar. Ondas de rádio vindas de bilhões de anos luz avisam que a terra não está só. Existe vida além da via lactea, e provavelmente ela não se interessa por nós. Folho as páginas de um livro antigo e novamente me perco por entre as frases que o destino faz brotar nos meus olhos. Como flores em um jardim de inverno, iluminadas por um sol ameno, quase paternal. Me aproximo de uma flor amarela, a mais bela. Mas antes que possa toca-la sou transportado para a Travessa da Saudade, uma rua como outra qualquer. Em qualquer cidade. Com uma placa em um poste. E um silêncio ensurdecedor no ar. Fecho meus olhos e sinto o calor, é difícil até respirar. Ouço um ruído. Quem está aí? Sou eu! Eu quem? Eu, você.
Me viro e me vejo me virar. Como um espelho em uma esquina que me confunde. Me vejo me imitar em um reflexo idêntico do que eu posso ser. Mas paro bruscamente, confuso. Franzindo o cenho, observo o meu reflexo idêntico a também me observar. Eis que ele diz enquanto estou calado:
- Sabes que o reflexo és tu, aí do outro lado!
Digo que não, enquanto sou imitado. Não pode ser. Eu sou eu, e esse reflexo é a minha cópia. Não?
- És a cópia de ti, eu sou o que vive fora do espelho. Tu estás aí aprisionado.
Olho para as minhas mãos. Quando foi que fiquei tão velho? Me pergunto sem resposta.
- O tempo é uma aposta garoto - me diz novamente o reflexo - que todos são obrigados a fazer.
Se isso é dentro do espelho e se eu sou o meu próprio reflexo, aonde está todo o resto?
Me confundo e falseio. Meus olhos se fecham lentamente, como em um desmaio. Dobro os joelhos, me apoio com a mão no chão para não cair. Ergo a cabeça e vejo meu próprio reflexo a rir. A escuridão me toma, só consigo pensar:

- Porque meu reflexo me odeia? Porque quer tomar meu lugar?
Acordo sozinho, no meu próprio quarto. Janela aberta, sol nascendo e pássaros a cantar. Vejo o espelho do banheiro e meu reflexo parece me obedecer. Ele me segue quando passo e para quando paro. Pisca quando pisco e sorri quando o faço.
Tudo bem de novo, imagino. Foi só um sonho.
- Foi - responde o reflexo - mas será que desses tu vais acordar?
Minha boca não se move, fico petrificado. Quem poderia sonhar? Um sonho dentro do sonho e eu não sei se acordei ou voltei a imaginar. Minha mente dança gentilmente entre a realidade e a imaginação. Me confundo com tantos outros eus no meio da multidão. E depois de uma tempestade de dias e noites me pergunto: qual é a minha solidão?
Todos os reflexos respondem simultaneamente, siga nessa direção. Minha mente vai, meus pés não. Nem tudo que se move, se mexe. Ouço alguém dizer. Me pergunto:
- Quem fala? Quem é?
Ouço minha voz:
- Você.
A pergunta mais antiga do mundo, volta para mim. Quem posso ser? Sou quem sou ou quem gostaria de ver? Existem varias repostas para a mesma pergunta, mas como posso saber?
Vejo no meio da confusão um reflexo que não dança, que não pula ou fala. Ele fica parado e me encara. Me aproximo, enquanto ele também vem. 
- Quem é você? - ele me pergunta.
Como assim? Quem sou? Ele é um reflexo, uma projeção. Eu sou...
- Você - respondo.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Vem cá, deixa isso pra lá.

Ouvindo isso: https://www.youtube.com/watch?v=VgwcPiCjQ-0
Eu penso que não temos tempo para perder. Nosso tempo é curto. E ainda assim, ninguém parece ligar. Dá vontade de correr pela rua gritando:
"- RAPIDO GENTE! FAÇAM SUAS COISAS ANTES QUE VCS MORRAM! TUDO MUNDO VAI MORRER!" - de uma forma hipotética, claro.
Alguém me disse uma vez, que se todo mundo desenvolvesse totalmente seu próprio potencial, o mundo seria um lugar absurdamente diferente. Mas de uma alguma forma, a gente se limita absurdamente. Curtimos esse lance de pé no rio em dia de sol. De sofá macio e TV grande. Wi-fi, Hi-fi e Sci-fi. A gente acende cigarros, sem nem entender why!? Acredite em mim, eu lutei com todas as minhas forças contra a inserção da palavra em inglês "why". Mas enfim, aparentemente eu perco muitas lutas contra mim mesmo. O outro eu é um desgraçado. Ele me bota de joelhos e me obriga a beijar o anel da sua mão, como um rei. E eu súdito, confabulo com os outros eus dos meus amigos um motim que vais nos levar ao castelo. E nos fazer reis.
Meu ponto é que se tu aceitar todos os teus primeiros pensamentos, sobre praticamente qualquer coisa, tu vai parar de te mover. E o bicho homem parado, não demora muito tempo a morrer.
A algum tempo eu conversava com uma amiga sobre vida, planos e coco de pássaros. E me espantei a ouvir o quanto ela achava que a minha vida era fácil. Minha vida não é fácil. E muito menos é mais difícil que a vida de qualquer outra pessoa. Mas as nossas mentes, mentirosas que são, fazem com que a grama do vizinho seja mais verde. Que o fardo do João seja mais leve que o meu. E que a Maria tenha uma vida tranquila, enquanto eu me fodo fazendo tudo que eu faço.
Não acredito muito nisso. Mas acredito em perspectiva. E o ponto de vista é uma ferramenta brutal quando se trata de tempo. E=mc², vcs lembram...
Existem várias versões desse conto, a minha é essa:
3 jovens passavam por um homem idoso, corcunda que gemia para se dobrar enquanto plantava árvores no solo remexido.

"- O que estás fazendo velho?" - disse o primeiro jovem.
O homem lentamente se desdobrou e respondeu:
"- Plantando árvores..."
"- Mas que idiota! Deve ser caduco... Nunca verá nenhuma dessas árvores crescidas. Tu és velho demais, morrerás antes de que qualquer fruto possa brotar dessas sementes!" - disse o segundo jovem.
O homem sorriu.
"- Sou obrigado a concordar com os meus amigos, ancião. Porque trabalhar com tamanha dificuldade?" - questionou o terceiro jovem.
"- Toda vida é breve meu jovem. Em um piscar de olhos se pula da infância para a velhice. Quem de nós pode garantir que eu serei o primeiro a morrer? A minha idade?? Não, por mais que o sentido prático seja esse, a vida não escuta a lógica. E eu não planto para comer frutos, eu planto para que meus netos os comam." - respondeu o velho homem.
Um dos jovens se inscreveu para a guerra e morreu com um tiro no pescoço.
Outro teve uma profunda dor no peito e caiu sem vida, dias depois de conhecer o velho.
O terceiro caiu de uma árvore e passou o resto da vida imóvel deitado em uma cama.

O velho homem também morreu. Em um final de tarde de outono. Na sua lápide pediu que fosse escrito: 
Toda vida é breve.