quinta-feira, 10 de novembro de 2016

É um mundo estranho.

Faz tempo que guardo no baú da cabeça a ideia de que eu não entendendo o mundo. Só para começar, a própria palavra ideia é escrita sem acento. E meu computador sabe mais disso do que eu. Porque eu escrevo idéia e ele a sublinha de vermelho, dizendo:
"- Leandro, essa palavra está escrita errado."
Eu respondo:

"- Obrigado máquina, vou corrigir." E ouço ela dizendo:
"- Eu podia fazer isso sem você, e faria melhor."
E me calo. Olhando para as pontas dos meus dedos no teclado.

"- Caralho, que mundo estranho...".
Li em algum lugar que o "fim está próximo". Foi em uma foto tirada nos anos 70. Um homem velho, nos estados unidos, usando roupas maltrapilhas segurava uma placa com isso escrito. Com um rosto cansado de viver. Os olhos dele pediam socorro. Mas não acho que alguém o ajudou. Vai ver o fim estava próximo quando a foto foi tirada.. Vai ver ele já chegou. O homem da placa se foi e o fim ficou. O fim é foda. Ele acaba mesmo. Termina com qualquer coisa. Não tem com licença, por favor e obrigado. É fim e pronto. Acaba. C'est fini. Arrivederci. The end. Nem de ponto precisava. Já acabou mesmo. Podia ser como é nos cinemas.
The end
Mas sempre vem algo depois do filme. As vezes eu fico pensando, nesses amores "para sempre" dos filmes. O que acontece depois do letreiro? Eles nunca mais discutem? E o herói que se casa com a princesa, depois de salva-la do dragão? Eles se descobrem imcompatíveis sexualmente? E a vila que foi libertada pelo exército? Eles conseguem se recuperar de todas aquelas mortes? E o vilão? Ele vira bom? Ele pensa:

"- Porra que babaca eu fui, pra que querer dominar o mundo? Eu tive problemas de relação com o meu pai... Preciso trabalhar isso com um profissional...".
E aqueles figurantes todos? Vão pra onde? Qual era mesmo o nome deles? Eles trabalham? E o melhor amigo daquele cara? Que pulou do carro para dar tempo de ele chegar... Ele viveu? O que aconteceu?
Ai o Trump se elege o presidente dos USA. E todo mundo pira. 

"- É o fim do mundo, preparem-se". Dizem no facebook. Eu já li isso em algum lugar. Penso.
A gente elege o Tiririca e o Frank Aguiar como representantes do povo. E agora reclamamos do Trump? Isso é o fim do mundo mesmo. Não! É pior que o fim do mundo. O fim foi antes. A gente tá vivendo o depois do "the end". É isso aqui que acontece.
 

Na literatura de Pablo Neruda, ele divaga sobre o fim da vida. Sobre a morte. Ele não foi o único, já falei antes de Ariano Suassuna. E tem também meu chara Leandro Gomes de Barros que quase todo dia me pergunta:

Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?”


Essa gente toda já morreu, sabes né? Eu penso que seria muito legal ter a chance de ver uma conversa deles. Nem que fosse no pós vida. Bem quietinho. Segurando uma taça de vinho. Sentado no fundo da sala. Deixando eles explicarem o que viveram. E o que acharam que viveram. Deixando eles chorarem suas saudades. E rirem dos seus medos. Passar pela vida de cada um, através das suas palavras. É isso. É por isso que eu amo tanto o registro videográfico. Porque ele é uma espécie de mini eternidade. Porque, nesse mundo estranho é uma das coisas que existem depois do "fim".
E tu aí? O que amas depois do "the end"?
O que existe pra ti, quando eu termino essa frase?