quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Meu prato é cheio de poesia. Se não fosse, pó seria! Escrever sobre o branco é como abrir um pedaço da alma. Desenhando linhas curvas de caos, cheias de calma. Falando comigo mesmo, me lembro de olhar para o céu. Sempre ele, eu sei. Seu e meu. Céu e seu. Seu é céu. De céu a céu? É o mesmo céu. Sopra o vento de novo e leva meu chapéu. Não um chapéu de verdade, porque não tenho chapéu. Como nem toda noiva tem véu. Como nem todo véu é de noiva. Como nem tudo que parece ser é. Como brilho da estrela que não é diamante. Como o beijo daquela boca que não era para sempre. Como tantas palavras de raiva que você já ouviu. Como daquela vez que você partiu. Como dias sem sol e tramas sem fio. Como aquele choro bonito que alguém cheia de dor, pariu. A vida muda tudo. E tudo muda com a vida. As pedras ficam mais lisas. As árvores mais floridas. O mar se recolhe e volta em ondas de eterno som. Os pássaros caem no chão e apodrecem, de volta a terra. Para voltar ao ar. Para voltar a voar. Parar para chegar. E eu me vejo lembrando do caminho. Tortuoso. Solitário. Tão longo. Tão bonito. Eu sei que espero um dia te ver de novo. Sentado no teu trono. De coroa na cabeça e sorriso no rosto. Mas será que ainda vou poder sentar no teu colo? Será que vais me reconhecer? Já vivi tanto. Já fui tão longe. Já discordei de mim e de ti. Já chorei. Sorri. E sofri. A vida aqui passou. Será que passou também por aí? Aqui eu cresci a barba. Fiquei gordo e emagreci. Aqui eu trabalhei de madrugada, paguei contas e pensei em ti. Aqui tirei fotos, me orgulhei do que fiz. E até vazio me senti. O que aconteceu contigo? Tu nasceu de novo? Eu sou agora o velho e tu serás o novo? Vou te dar conselhos e te ensinar a caminhar. Olhar nos teus olhos azuis e enxuga-los quando fores chorar? Vou te dizer o que é certo e errado. Que existe honra em ser bom. Que a vida é uma brisa que vai e vem. Será que vais me olhar com estranheza? Será que vais ter alguma lembrança de tudo que já fizesses? Será que no meio desses meus conselhos tu me ensinas mais alguma coisa? Daquele teu jeito, como tu sempre fez.
Vai ver que a gente se encontra todo dia, sem nem saber.
Vai ver que tu me conheces de longe sem me dizer.
Vai ver que a vida é livro sem fim.
Que só nos capitulos acaba.

Como o final de um texto.
Ou o "FIM" dessa página.


                                                                             Fim.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

2+2=3?

Talvez alguém algum dia leia tudo o que escrevi aqui. A sensação de que a minha memória ficará registrada mesmo depois do meu tempo nesse planeta é esquisita. Talvez ninguém nunca entre aqui e em algum momento o blogger e o google decidam que os bytes e pixels que eu ocupo com esse blog devam ser cedidos a outra pessoa. Como "das cinzas eu vim e para as cinzas voltarei" só que na versão digital. Talvez isso tudo aconteça sem que ninguém saiba. No silêncio da história que não foi contada. Atrás das cortinas desse palco que é a vida humana. Esse pensamento assombra um pouco a minha existência. Como um fantasma que me persegue para onde vou. E eu já pensei muito sobre ele. Sei que a culpa verdadeira é do ego humano. Que de altruísta nada tem. Que nos transforma em crianças sem limites ou consequências. Que precisa de regulação constante e atenção total. Para que nossas ações não se tornem a doença que nos consome. Mesmo assim, algo sempre te consumirá. Qualquer coisa. O tempo. O fim. O vento. O não e o sim. Toda decisão é uma letra a mais nesse livro de final trágico. Nessa comédia de graça complexa. Na nossa história de tantos romances e dramas. De tantas lembranças e lágrimas. Um dia, eu planejo perguntar a alguém qual foi o sentido desse vento que soprou e nos trouxe para cá. Posso descobrir que nada existe e que o fim é mesmo o final. E nesse caso, tudo bem. Não haverá o que fazer. Mas caso eu acorde em qualquer outro lugar, após morrer, espero que pelo menos lá existam repostas. Outro dia, enquanto um cigarro queimava no meu dedo eu ouvi um personagem da minha imaginação dizendo que como sol e lua se alternam, são a vida e a morte. E que quem está do lado de lá, se pergunta porque precisa nascer de novo. Em um ciclo sem direção. Sem final. E de eterna repetição.
Estaríamos todos em uma dízima períodica da existência?

3,3333333333333?

ou 3,3333333339?

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Querida escuridão,

A escuridão te acompanha. Em todo lugar que estás, ela nos segue. Sempre que fecho os olhos, ela se repete. Em um intervalo negro para o mundo que vejo. Para o mundo a minha frente. Ela corta a realidade. A decepa como uma navalha quente. Dizendo aos ouvidos que sabem escutar que está aqui. Que te vê. Que acompanha teus passos, teus risos e teus embaraços. Ela não opina nas tuas questões. Mas sempre que quiseres, fecha teus olhos. E aceita o seu abraço. A escuridão é chuva repentina. Não pede licença. É visita inesperada. Amizade de longa data encontrada ao dobrar a esquina. Ela te reconhece. Houve um tempo em que tudo que vias era ela. No ventre da tua mãe não havia aquarela. 
- Escuridão, minha querida, porque me acompanhas?
- Sou eu que te mostro que há fim na vida!

- Mas vida é feita para ser vivida, não para esperar o fim!
- Só podes vive-la se lembrares de mim. Do contrário haverá sempre um dia igual ao outro. Em um livro de fotos repetidas, que simplesmente termina.
- Queres me dar um sentido para viver?
- Quero te dar um sentido para morrer!


Alguém um dia disse que ninguém nunca foi capaz de nos explicar porque viemos para esse planeta e porque nos obrigam a ir embora dele.


A escuridão sabe do que eu estou falando.
Feche seus olhos...