terça-feira, 31 de março de 2009

Sem o dia terminar...

Dois posts no mesmo dia ? Acho que tudo bem !
Essa é pra dar o contra ponto do post anterior (graças ao bom Deus):

Fim do dia é suave.
Chega em silêncio,
como poucos sabem.
Preenche espaço e faz chuva parar.
Enche teu abraço.
Não deixa lágrima chorar.
Fim do dia é velho amigo chegando cedo.
Mostra felicidade diante do medo.
Vê luz e túnel em desapego.
Não se preocupa com o terminar.
Fim do dia é como vela e luar.
Ilumina quem quiser.
Ajuda a não atrapalhar.
Guia rédea com pulso firme.
Entrega flor, com vinho e filme.
Fim do dia é solução.
Chega de corridas em uma só direção.
Queremos estradas confusas e contra mão.
Garrafas abertas e olhares sem direção.
Escrevo poema sem me render a lição.
Não me arrependo de errar.
Sei que meu erro ainda vai acertar.
É só olhar pro céu,
e ver o fim do dia chegar.

: )

Rotina poetizada.

Solução foge de mim...
Pedra no caminho.
Abismo fundo assim.
Desse lado, eu sozinho.

ps: mais alguém ta ouvindo a chaleira ferver ???

segunda-feira, 30 de março de 2009

"Pois é, não deu... Deixa assim como está, sereno."

O domingo me atropelou.
"Avisa que é de se entregar, o viver..."
Meus olhos ardem. A proximidade com os 30 anos tem acrescido meu cansaço físico. Que medo de mim mesmo tive agora...
"Aquilo que eu temia aconteceu: você manchou nós dois e desbotou a cor de um só coração..."
Dias negros no horizonte ? É isso que você vê ? Tempestade e vento forte ??? Eu viro pro outro lado, e deixo a chuva no passado... Deixo que o teu vento, leve meu barco pra longe de ti. Vou em direção ao mar... Não me importo com o chegar. Desde que possa navegar.
"É que a sorte é preciso tirar, pra ter. Perigo é eu me esconder, em você. E quando eu vou voltar, quem vai saber ? Se alguém em uma curva me convidar... Vou lá ! Que andar é reconhecer, e olhar..."
Sonhei com um cachorro gigante. Um yorkshire do tamanho de um boi. Eu gosto de imaginar, de sonhar, de sentir e sorrir. Mas minha mente me prega peças. Me dá calços e me faz cair. Eu preciso constantemente lembra-la sobre quem dirige essa embarcação. Eu vivo em frequente estado de motim.
"Pois é, até onde o destino não previu. Sei mais, atrás. Vou até onde eu conseguir. Deixo o amanhã e a gente sorrir...Que o coração já quer descançar... Clareia minha vida amor, no olhar..."
Me encontro na falta de poesia. No corpo cansado e na rima batida. Na espada enferrujada e no beijo de despedida. Não me rendo ao perder o combate. Carrego comigo aquilo que não morre. E sei que somos só, o que ninguém vê.
"Vou pensar: como pode alguém sonhar o que é impossivel saber ? Não te dizer o que eu penso, já é pensar em dizer... isso eu vi ! O vento leva. Não sei mais, se tu quer como sonhar, que o esforço pra lembrar, é a vontade de esquecer...."
Ela aparece na minha frente. É linda como nos meus sonhos. Mas o destino não quis ajudar. Sem a benção do destino, nada se faz... Escorre como areia fina em punho fechado contra vento Sul. Como segurar água de correnteza. Ou dar gaiola pra pássaro cantar.
Tudo bem, acho que posso esperar. E acho que ela também pode...
"E eu que já não quero mais, ser um vencedor. Levo a vida devagar, pra não faltar amor..."
Chega de gente igual, eu falei. Me jogam uma pedra na testa. Nem machuca tanto. Eu tenho minha vida toda pela frente, posso viver mais uma semana ou mais 70 anos. Tanto faz ! Desde que no fim, eu saiba que preservei minhas asas pelo tempo que foi possivel.
Tudo que sobe, desce.
O que funciona, quebra.
E o que está vivo, morre.
Regras pro Universo ? Correntes em um pilar da solidão ? Solitária nazista com ratos e baratas como companhia ?
Eu não me importo vai. Realmente, não. Por mais triste que seja. Cheio de lágrimas e lábios choramingados. Com lenços e abraços de adeus. Tá tudo bem !
" Quis nunca te ganhar, tanto que forjei, asas nos teus pés. Sei, tanto te soltei, que você me quis em todo lugar... Que alguma coisa a gente tem que amar. Mas o que eu não sei mais... Os dias em que me vejo só. São dias em que me vejo mais..."
E se funcionar, olha que legal... Se funcionar ninguém vai esperar. Ninguém vai dizer:
"- Eu já sabia !"
Claro, você pode superar sua própria expectativa sempre a reduzindo. Mas como diz o Amarante: " O quanto mais longe tu olhar, mais longe vais estar...".
Não posso perder o fio da meada. Tapa com luva de pilíca é capricho tolo pra medroso.
Ficamos com medo do abismo. E se a gente não voar ? O que tem lá embaixo ?
Pedras.
Tipo pedra no caminho ?
Não, tipo Little Joy (de novo):
" Beija a flor, no ar. O rio fica lá, a água é que correu. Chega na maré, ele vira mar. Como se morrer, fosse desaguar. Derramar no céu, se purificar... Deixar para trás, sais e minerais. Evaporar..."
Mas isso nem falou de pedras... Pra mim falou.
Tu precisa ouvir pra escutar ? Tá, então precisas ver pra enxergar ? Tenho uma novidade pra ti. Depois que morre ninguém mais precisa usar óculos.
Morrer é se libertar dos óculos.
Eu não gostei disso. Pra variar, não posso nem ler o que escrevi pra não apagar tudo e tentar de novo.
Mas tem alguma coisa sobre os trens que você perde. E os que você se programa para pegar. Tem alguns desses trens que passam todo dia, ou ao menos de vez em quando.
E tem outros que só passam uma vez por década. Eu nunca vi um trem que não voltasse pra estação de origem...

Assim sendo.
Aperta teu cinto, porque esse trem deixa a estação agora.
E eu não vou perde-lo.

"- Ei maquinista, qual é a próxima parada ?"
"- Faz alguma diferença Lê ?"
"- Não... Como tu sabe meu nome ?"
"- Eu chutei !" : )
"- Aaaah tá !" : )








sexta-feira, 27 de março de 2009

Incubus - A kiss to send us off.

Sonhei comigo.
Eu morria sozinho.
Longe de mim.
Perto daqui.
Fechei a porta.
Não tinha mais nada.
Nem foto antiga ou memória rasgada.
Caminhava no escuro.
Batia contra um muro.
Sozinho sentado.
Via desfilando pra mim, meu passado.
Abanei minha mão dizendo "adeus".
Desejei boa viagem.
Sorriso como bagagem.
Caminhos gentis e verdades.
Como em filme antigo.
Vi um corte na trama.
Um baile de máscaras.
Cheiro de lama.
Pessoas dançando e mesas fartas.
Comida estragada e veneno nas taças.
O sol nascia enquanto alguém chorava.
Soluços de dor e rios de lágrimas.
Ouvi acorde estridente no horizonte.
Ligando planetas, existiam pontes.
"- Não abandona teu pesadelo" - ouvi ela falar.
"- O medo só existe se tu não o enfrentar."
Respondi ligeiro, sem olhar.
Vidro quebrado no fundo do mar.
Gosto amargo e é hora de voltar.
Eu me arrependo de não tentar.
Deixa assim...
Não guardo mais isso pra mim.
Tenho um baú aberto,
e deixo que roubem meu tesouro.
Só me levam as de latão, eu escondi as de ouro.
Ladrão, um dia tu pagas o preço.
O fim dessa estrada é o teu endereço.


quinta-feira, 26 de março de 2009

A Maria disse que eu não sou de nada... Que sou só de marmelada...

Nasci em 1982. Sempre achei os anos 80 uma boa época pra alguém nascer.
Cresci entre os melhores desenhos que a televisão brasileira já passou (Caverna do Dragão, Transformers, Super Mouse, Homem-Aranha e seu Incríveis Amigos e Ursinhos Gami) e brinquedos e jogos que marcaram até os dias atuais. Eu, pelo menos, ainda adoro jogar Imagem e Ação, Banco Imobiliário, Detetive e WAR. A diferença é que hoje a gente não toma mais Todinho de Caramelo e come Charge enquanto joga.
Outra coisa incrível é encontrar algum bonequinho da antiga coleção dos Comandos em Ação do meu irmão mais velho. Nossa, ele tinha todos os bonecos possiveis, aviões, carrinhos, e bugigangas que eram distribuidas pela Estrela... Na época em que o Shopping H não existia. No lugar dele era a Lojas Hering, com quatro andares de departamentos e a lanchonete que vendia a melhor banana split da Galáxia Conhecida.
Eu lembro de brincar de Lango-lango com meus primos. De ter um relógio do Jaspion. De dirigir loucamente meu Maximus pelas ruas de Blumenau. De quebrar a cabeça jogando Genius. De ficar puto com o choque que fazia "péééééééééé" quando errava jogando Operação. De tomar refrigerantes bizarríssimos e comer chocolates em forma de cigarros da PAM. Nossa, isso jamais seria vendido hoje em dia...
Eu lembro de assistir E.T. em VHS. De ver o Sérgio Malandro magro e menos drogado descendo de paraquedas no estúdio do show da Xuxa (meus pais não me deixavam ver Xuxa sempre...). Lembro do Zacarías e do Mussum em camera lenta gargalhando...
Do cheiro daquela época.
De como todos membros da minha família tinham cortes de cabelo incrivelmente mais feios.
Dos óculos Ray-Ban do meu velho. Das roupas super engraçadas da minha mãe. Dos meus dois irmãos que moravam em casa comigo, ainda crianças correndo.
Eu lembro de não poder fazer tudo que queria. De ter que dizer aonde eu ia, com quem, porque, e ouvir no final que era melhor eu ficar em casa. E realmente TER que ficar.
Alguns dos meus amigos estavam lá. Lembro deles no colégio. Pequenos, franzinos e ainda com cheiro de fralda. Lembro dos pais deles. Das festas de São João do Bella Vista. Das brincadeiras sem graça e das gírias incrivelmente boas que usávamos na época.
Lembro de cair de BMX. De usar tennis Puma. De ter uma lancheira do Super-Homem e um penal de ferro do Changeman. Era a época das escovas de dente elétricas. De Monty Phyton. De efeitos especiais muito safados. Do bigode do Sarney e das convicções de Ulysses Guimarães.
Eu lembro perfeitamente, como se tivesse acontecido hoje, do dia em que acordei de madrugada. Ainda era noite. E eu fui ao banheiro. Empurrei a porta e tentei acender a luz.
Eu não alcancei o interruptor. Lembro de ficar na ponta dos meus pés. De fazer um esforço gigantesco. E de não conseguir acender a luz. Aí eu fui até o quarto da minha mãe e sacudi o ombro dela "muito delicamente". Ela e meu pai acordaram achando que havia acontecido alguma coisa.
"- O que foi meu filho ?"
"- Mãe.... acende a luz do banheiro pra mim ?"
Ela sorriu. Fechou os olhos como quem dissesse "Meu Deus ! Achei que ele tivesse posto fogo na cama dos irmãos... de novo" E se levantou pra me ajudar a vencer mais aquele Monstro.
Eu e minha mãe matamos o Terrível Monstro do Banheiro. Ela me ensinou o antigo conhecimento "Caminha Borba" para acender a luz sem que precisasse acorda-la de novo. Conhecimento esse que é passado através das gerações. Anos depois eu compreendi, a essa altura ela queria que eu me virasse cada vez mais sozinho. E principalmente não a acordasse mais de madrugada a não ser que eu tivesse com problemas pra apagar o fogo que coloquei nas camas dos meus irmãos. Meus pais, nos ensinaram a voar. É por isso que quando eu penso em filhos hoje, não consigo deixar de querer vestir meu guri como super herói pelo máximo de tempo possivel. Quero sair com ele vestido de todas as fantasias possiveis (De Batman a Wolverine, com garrinhas...).

Eu lembro de uma menina chamada Letícia. Que estudava comigo na pré-escola. Nunca tive muita certeza, afinal nem nos falávamos. Mas acho que segunda ela, nós namorávamos. Um dia ela terminou comigo... eu também não sei porque ! Ali eu começei a compreender o quanto complexa é a mente feminina.
Conversei com um amigo sobre o final do meu relacionamento:
"- Tu viu Jaspion ontem ?" - perguntei querendo iniciar uma conversa séria.
"- Vi ! Legal né ?" - respondeu meu amigo expressando toda sua opinião sobre o assunto.
"- Não gostei. A Leticia disse pra Vanessa que ela não gosta mais de mim..." - cheguei finalmente ao meu ponto, após uma longa explanação.
"- Vamos correr até a cantina ?" - deu ele, sua importante opinião sobre o assunto.
"- Eu não posso correr !" - lamentei eu meu limite, entrando num assunto completamente diferente.
"- Tá..." - e saiu correndo. Terminando nossa conversa.

Ele me ajudou muito naquele dia. Era um bom amigo.

Os anos 80 existiram. Eu tava lá. Na década seguinte eu começaria a pensar em ser uma espécie de Médico Super-Herói Desenhista. E também a me questionar porque todos adultos tinham empregos chatos... Porque nenhum deles pegou o emprego do Lanterna-Verde ? Ou do Batman... Como eu os achava burros por não terem escolhido profissões mais legais. Engenheiros ? Puffffft !
"- Qualquer um pode construir casas... Eu quero é te ver voando pela Rua XV !"

Hoje eu não acho mais as profissões dos adultos chatas. E adoro o que faço.
Mas um dia desses eu tava no banco sentado, esperando minha vez quando uma menina que devia ter no máximo uns 6 anos de idade me mostrou um desenho que ela fazia. Naqueles espaços infantis, onde os pais deixam os filhos. Enquanto precisam fazer suas coisas chatas. Era ela, sua mãe (que estava voando) e seu pai (que media aproximadamente 10 metros de altura).

Pensei comigo:
"- Um dia vai ser minha vez de ensinar meus filhos a voar..."

quarta-feira, 25 de março de 2009

Eu também...

Me lembrei de um conto budista que adoro:

"Naquela época era comum para os que viajavam a pé entre as cidades, pedirem estada aos monges budistas durante a noite. Em uma dessas ocasiões, um viajante que sentiu o dia indo embora, parou na casa de um monge e lhe pediu para pernoitar alí. O monge aceitou prontamente o convidando para entrar:
- Está é minha casa, fique a vontade. - lhe disse o monge sorrindo.
Quando o homem entrou em sua sala percebeu que não havia nenhum móvel. Ele não tinha cadeiras, ou uma mesa. Não tinha estantes com taças ou estátuas de mármore. Não tinha absolutamente nada. Circulando pelos cômodos ele viu todos os quartos vazios. Não achou, se quer, um tapete ou uma almofada para repousar a cabeça,
Voltou perturbado ao encontro do monge que meditava na varanda e o questionou:
- Nobre monge, me desculpe a intromissão, mas não encontrei nenhuma cama em que pudesse repousar. Aonde estão os seus móveis ???
O monge abriu os olhos sorrindo e lhe perguntou de volta:
- Os meus móveis ? Me respondas tu, aonde estão os teus ??? Também não vejo nenhum deles...
O viajante respondeu irritado:
- Não vou ficar aqui muito tempo ! E esta é a SUA casa !
Eu estou de passagem...
Ainda sorrindo lhe disse o monge:
- Eu também."



segunda-feira, 23 de março de 2009

Voltei a ouvir "Her Morning Elegance - Oren Lavie"

Não dá pra mandar no coração ? Será mesmo ?!?
Eu realmente acho que dá ! Eu pelo menos mando no meu. Ele é meio desobediente as vezes. É meio teimoso e genioso, como o dono. Mas normalmente nos saimos muito bem juntos. Ele bate, eu caminho, ele pulsa, eu trabalho, ele palpita, eu olho em silêncio... É verdade que ultimamente ele tem palpitado bastante, não posso mentir ! Não vai ter graça se eu mentir.
Mandar no coração.
Não me entenda mal, tem muitas coisas que são ligadas a ele que não controlamos. As dores, malditas sejam. Tem gente que passa a navalha no teu coração e isso te marca pra sempre. Mas por favor, não me venha com ex namoradas(os), amigas(os) que te avacalharam ou desapontamentos mundanos... Precisas ir mais fundo. Precisas me falar sobre pessoas que conhecias a uma vida antes de elas partirem. Avós e pais, por exemplo. Precisas me falar de acidentes de carros com amores perdidos nas chamas. De chances que JAMAIS vais ter de volta. E não daquele moleque desajustado que começou a namorar aquela menina que achas linda... Deixa eles pra lá. O mundo ta cheio de gente que vai e gente que vem. O dificil é achar quem fique. Fique do teu lado quando tu chora e quando tu sorri. Pessoas que se preocupam contigo e com a tua amizade. Não só com a roupa que usas, o quão "legal" tu és ou se vais beijar ela na frente dos teus amigos.
Chega disso.
Vamos chorar nossas lágrimas por quem vale a pena. A nova ordem é comandar o próprio coração com mão de ferro. E não perder tempo por quem não vale uma pedaço de coco seco do Gregory... (será que eu consigo vender isso no Mercado Livre ?).
Na verdade, eu acho que as vezes usamos algumas pessoas pra preencher algum vazio da vida. As coisas podem ir bem. Mas você sente falta de alguém com quem conversar, alguém que seja realmente legal. E nessa, você acaba se enganando duplamente. Primeiro tu te apaixonas pela pessoa errada. E feito isso não tens mais o direito de reclamar. O CARA ERA UM TRASTE ! SABIAS QUE ISSO IA ACONTECER ! Segundo tu forças teu coração a não querer deixar o traste ir embora. Trancas ele dentro do teu castelo. E choras pq ele pulou a janela...
Vamos lá. Sem pressa. A vida é curta sim, mas também não é pra tanto. Cada um sabe o valor que tem. Não dá pra ficar se vendendo pro primeiro(a) que aparece batendo a tua porta. Vamos NÃO nos anunciar em sites de compra e venda on-line. A gente é melhor que isso. Os dias vão passar e tem um monte de gente pra conhecermos por aí. Um monte de gente tão doida quanto a gente, gente divertida. Gente não tão divertida, mas legal também. Gente triste e gente feliz. Enfim... isso é praticamente um buffet de pessoas. Sirva-se.
Peraí, peraí, peraí.... Isso não era pra soar tão promíscuo.
Eu to falando de amigos, de gente que pode sim se tornar um amor... ou não. To falando das pessoas com quem vais ter as conversas mais engraçadas da tua vida. Um dia vamos nos casar. E todo mundo vai precisar se preocupar com as rotinas da vida. Todo mundo vai precisar deixar de planejar aquela viagem com os amigos pela America Latina, simplesmente porque precisa pegar o filho no colégio as 11h45.
Basicamente, guarda tua seriedade pra quando ela for impressendível. Pra quando não tiveres outra opção. Guarda pros funerais. Pros dias de tristeza verdadeira. Pras catástrofes e doenças sem cura.
No resto do tempo ? Desencana. Ninguém liga se não sabes dançar ou se tu vais contar uma piada na frente de completos estranhos. E quem liga que se interne ! Ninguém quer saber quais os bens que tens ou se tu deixou de investir na bolsa. Guarda isso pra segunda feira. Veste um sorriso. Tira tua roupa e sai pela rua. Deixa o mundo se horrorizar enquanto tu assiste a grama crescendo com um sorvete na mão. PROBLEMA DELE !
Mandar no coração. Tudo bem, pode não ser tão ridiculamente fácil. Mas vem comigo: um dia, teu coração vai parar de pulsar. Tu não podes mudar isso. Se tu soubesses que dia isso vai acontecer. Se tivesses um prazo de validade pra encarar essa data. O que ias preferir ? Chorar e se perder pelas ruas da Negra Cidade do Escorneamento ? Ou sair com teus amigos e amigas, tomar chopp em um por do sol na praia, rir de piadas sem graça assistindo filmes com ótimas companhias e ver um novo dia nascer depois disso ?
A escolha é realmente tua. Não existe mistério.
Deixa os que se foram, irem. Te guarda pra ti. Como eu disse: tu sabes melhor que ninguém teus valores e defeitos. Preserva esse pensamento. Melhora no que podes, e olha todo dia pra tua parte boa. Te lembra de quem és. E se não sabes, tenta descobrir...
Coroar alguém que não merece ser coroado é um erro comum. Mas não é incorrigível.
Poucas coisas na vida são incorrigíveis !
Uma vida perdida pela falta de sentido. Pela falta de propósito.
As lagrimas que não valeram a pena.
Os sorrisos perdidos.
E os olhares disperdiçados.
Isso é incorrigível. Mas ao mesmo tempo é tão fácil de evitar. É tão fácil de contornar. Basta vontade. Basta lembrar de que amanhã o dia vai nascer de novo. E que hoje podemos ir sim viajar. Podemos sair pra dançar. Ir ao sushi. Assistir aquele filme Holandês que está na gaveta a tanto tempo. E depois convidar todo mundo pra jogar Imagem e Ação aqui em casa. Tanto faz. Se preocupar é inutil, na grande maioria das vezes. E não podemos nos dar o luxo de gastar nossas preocupações com quem já desistiu da gente. É fácil... : )
Mandar no coração ? Acho que dá pé sim. Diz pra ele assim:
"- ei ei ei shhhh ooo, ooooo... Sussega aí coração ! Hoje a gente não se preocupa com nosso casamento. Deixa isso pra depois. Depois não é nunca... Depois é além daquela curva. Passando um pouquinho o Fantástico Reino Das Botas Ortopédicas Falantes. Tem uma cidade lá, cheia de amigos nossos sentados em bares. Abrindo garrafas de vinhos e ouvindo Beattles. Você vai gostar... Mas hoje não ! Hoje tu me deixa em paz... tudo bem ?"
"- Tudo bem Lê. Podemos falar sobre isso depois ?"
"- Tá cara, podemos... Mas não para de bater tá ?"
"- Não vou parar.. hahaha"

Meu coração tem um péssimo senso de humor.
Opa, não !
Ele tem um ótimo senso de humor. : )

Ver, ouvir e falar.

Caminho torto.
Estrada de barro.
Café morno apagou meu cigarro.
Muro alto de longe eu vi.
Tempestade distante,
já passou por aqui.
Dobra esquinas e entra nas ruas.
Eu, procuro minha memórias.
Tu, procura as tuas.
Não temos tempo pro silêncio.
Escuta o que eu te digo:
às vezes teu sonho, é o pior inimigo.

Longas lembranças ao mar.
Solidão procura, pra me achar.
O Norte é longe, mas vou chegar.
Deixo uma foto pra alguém lembrar.
E minha lápide diz no fim:
"Aqui nos reencontramos.
Eu com a eternidade, tu pra pensar em mim."

domingo, 22 de março de 2009

"Por favor... desenha-me um carneiro... ?"

"Quando encontrava uma pessoa que me parecia um pouco esclarecida, fazia a experiência do meu desenho, que sempre conservei comigo. Eu queria saber se ela era na verdade uma pessoa inteligente. Mas a resposta era sempre a mesma: "É um chapéu." Então eu não falava nem de jibóias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Colocava-me no seu nível. Falava de bridge, de golfe, de política e de gravatas. E a pessoa grande ficava encantada de conhecer um homem tão versátil.
Vivi, portanto, só, sem alguém com quem pudesse realmente conversar...
(O pequeno Príncipe - pág.11)"


quinta-feira, 19 de março de 2009

Um ponto oito - Pato Fu, E um sorriso.

"Quando dois homens discutem, devemos dar a razão para aquele que possui o "eu vi" e não ao que alega "me falaram que" (Pensamento Hindu).

Eu escrevo asneiras. Estou convencido disso. Volto pra ler o que escrevi, algum tempo depois e a minha auto-crítica corta minha carne como uma navalha afiada. Ela ramente perdoa.

O radiohead vai vir. E eu não vou estar lá. Droga ! Achei que estaria. Desde o momento em que fui avisado que eles viriam... Mas acho que eu queria mesmo era ver o Los Hermanos juntos, tocando. Vai ser muito legal sem dúvida.

Eu deveria ter um tema sobre o qual escrever.
Acho que normalmente tenho. Mas não hoje.
Hoje eu quero escrever sobre a minha diarréia mental. Sobre a falta de trilhos no meu trem. Sobre não ter tema.

Luz no fim do túnel: meu iTunes no aleatório começa a tocar "De onde vem a calma - Los Hermanos". Seria o destino usando os meios digitais para escrever torto por linhas retas ? Não sei. Tanta gente usa a internet como uma forma de encontrar o próprio destino que é bem possivel que ele já tenha até desitido do mundo real.
Destino e desistido.
Palavras parecidas demais.
Se o destino tiver desistido eu quero saber.
E se a gente desistir de destinar ? E se agora ninguém mais pudesse saber o que irá acontecer com o nosso rumo ? Nem quem prevê o futuro, nem mesmo o Destino desistente !?!
Seriamos nós destinados a não desistirmos de nos tornarmos detidos pelo confuso destino ?
Destino é fim. É linha de chegada.
Qual é a pressa ???
Eu quero é largadas. Quero aplausos sinceros. Sons de rolhas abertas e taças cheias.
Quero sorrisos de verdade e felicidade. Exacerbada e descontrolada felicidade. Felicidade não represada. Rios violentos de água tranquila que derrubam pontes e dão peixes de sobra. Quero grama verde em tardes de domingo.
Abraços apertados e companhia dos meus amigos.
Quero menos velórios e mais batizados.
Dança despreocupada com a opinião dos outros. Quero distância dos que sente "vergonha alheia". Chega de perceber no outro os defeitos que não se quer pra si. Chega de limitar o que não se controla.
Eu preciso de papel higiênico pro meu cérebro.

Preciso ? Será que alguém sabe ?
Sim Neruda, podes falar:
"- A verdade é que não existe verdade." - ele diz acendendo um cigarro na janela.
- Boa Pablo. Devias pensar em escrever alguma coisa...

Não preciso. E se preciso não quero precisar, logo, não precisarei.

Pisa no acelerador. Eu to com pressa. Pressa pra chegar ? Não ! Pra sair daqui.

Conecta esse texto com alguma coisa, fica ruim de ler teus pensamentos dispersos...
Fica queita e continua afiando essas pontas de lança ai no canto, consciência. A gente vai usar elas depois.

A definição é o que faz reclamar. Enquanto não definido, ele sabia dançar. Enquanto longe dela, tinha certeza que sabia amar. A definição etiquetou a liberdade. Cuspiu no rosto da criação e a mandou pra outra cidade. Fez rima boba com a mentira e a confundiu com a verdade. Comprou carro, casa e companheiro, mudou de localidade. Se encheu de si e se aquietou na maldade. Subiu em altar de certeza e beleza. E decidiu não descer. Decidiu não mover. Decidiu sem dúvida acertar. Mirou flecha no alvo e atirou a sorrir. Certa de que definido estava o não errar. A definição não errou. Ela jamais poderá. Mas o tiro foi pra longe. Girou seu mundo além do horizonte. Passou por florestas, ruas e montes. E por cima de seus ombros resolveu voltar.
A definição não pode escutar. A flecha não lhe desculpou. Correu campo verde, cruzou esquinas e avenidas movimentadas
atravessou.
Pobre definição. Caida do altar. Não tinha ninguém realmente pra lhe avisar.
Que a alvo onde foi mirar, era espelho e só em suas costas iria chegar.
Tiro pela culatra ninguém prevê.
Mira de certeza já não se tem.
Definição matou a única pessoa que conseguiu realmente amar.
Caida no chão alguém percebe e diz:
- O coração dela parou de pulsar.

De onde veio isso ?
Sei lá ! Acho que meus dedos vomitaram...

Não parece tão ruim daqui !
É eu também acho. Mas espera 24h pra ver...
Define isso aí: prazo de validade pra achar legal existe ? : )
Agora com a sua licença eu vou praticar arco e flecha !


Today - Smashing Punpkins

- Tá tudo bem ?
- Acho que não. Quando eu penso que sim, percebo que a contagem regressiva começa. Que dou um prazo de validade pro meu bem estar. É como uma maldição, como uma macumba, sei lá. Nem acredito nessas coisas...
- Tá, calma. Não existe contagem regressiva pro teu bem estar.
- Não ? Então porque toda vez que eu me sinto bem, percebo que é vazio. Que não tá certo. E que seguindo um padrão de comportamento, eu vou voltar a me sentir triste de novo ?
- Por partes: Você percebe o vazio, antes você não o via. Você não o cria. Ele simplesmente existia sem tu perceberes. Você o nota...
E você volta a se sentir triste, porque carregas esse sentimento contigo. Só vais conseguir cala-lo as vezes. Talvez muitas vezes. Talvez não. Mas enquanto ele existir, tu vais estar triste também...
- Que que eu faço ?
- Não tem muito o que se fazer na realidade...
- Muitas possibilidades são uma merda.
- Pode ser, mas isso é passageiro.
- A tristeza, ou as possibilidades ?
- As duas. Tudo, na realidade !
- Sem relatividades por favor...
- Não é ser relativo extremista. Me diz algo que não é passageiro ?
- Eu te digo algo que não é. Se tu me disser algo que é...

Ela sorriu.
Eu fiquei em silêncio.
O silêncio me conforta. É o abraço que me falta. O silêncio, como a sorte, são meus amigos.
Eu me sinto ficando para trás.
Me sinto sendo errado.
Me sinto mal.

- O vento é passageiro. - ela responde.
- É sim. Queres falar sobre isso ?
- Não. Me diz o que não é ?
- Algumas dores jamais morrem. Você não para de senti-las. Você se acostuma a sangrar.

E fiquei em silêncio.
Ela sorriu. Abaixou o óculos. Levantou. Colocou água em um copo. E me ofereceu:

- Segura.

Eu peguei o copo. A água dançava. O copo tinha aquele gelado pelo lado de fora. E era bonito. Tive vontade de não quebra-lo.

- Tá meio vazio ou meio cheio ?
- Meu Senhor ! Tu não fez essa pergunta... Que piegas ! Por favor... - respondi indignado.

Ela sorriu. Abaixou a cabeça enquanto escrevia alguma coisa. Me deixou falar. Quando eu parei, ela perguntou calmamente.

- Tá meio vazio ou meio cheio ?

Olhei pro copo. Tava com água pela metade. Mas eu não tinha certeza se isso era meio vazio ou meio cheio. Eu não sabia a resposta. Pensei em não dizer nada, essa seria minha resposta. Vou ficar quieto. Que tipo de psicologia é essa do copo ? Se eu não soubesse que essa mulher é tão boa eu iria embora agora... Daqui a pouco ela vai querer desvendar meus sonhos ? Vai me mandar escrever redações e fazer desenhos !?! Vai me pedir pra jogar canastra nas segundas feiras de manhã.
Copo, foca no copo !
Meio vazio ou meio cheio ?
- Eu não sei. É um copo com água pela metade...

Ela me olhou atentamente.

- Vazio ou cheio ?

Vazio ou cheio ! O que Buda diria ? Eu to com sede. Não vou beber o objeto de análise dela. Se bem que venho aqui como um amigo. Mas tudo bem, vou respeitar... Acho que ela tem um ponto. Podia ser um daqueles pensamentos super legais que te dão resoluções na vida. Ela podia dizer uma frase e esclarecer tudo... Ia ser tão legal.
Vazio ou cheio cara ! Responde alguma coisa...

Olhei pra ela. Tinha tirado o óculos. E me olhava sorrindo. Esperando.

- Esse copo está... - Me coçei. Franzi as sombrancelhas. Olhei pros lados.
- O copo está ?
- Esse copo é uma possibilidade. Ele pode estar meio vazio e meio cheio ao mesmo tempo. Pode estar só meio vazio ou só meio cheio. Esse copo é o internacionalmente conhecido por carregar tempestades. Ele tem uma nuvenzinha negra em cima. Solta trovões. É incrivel. Esse aqui é um copo mágico. A gente devia dar um nome pra ele...
- Sim. Podia ser o teu.
Começei a rir. Ela também.
- Desculpa, não quis avacalhar tua análise.
- Eu sei. Tá tudo bem. A tua resposta foi suficiente. E não to te analisando, somos amigos...
- Foi ?
- Sim ! - ela respondeu sorrindo novamente - Não somos todos copos dá agua ?

Parei. Pensei: " somos !". Mas não respondi nada, fiquei olhando pra ela e pro copo.

- Tudo é passageiro. Um dia deixamos de ser copo, nos transformamos em outras coisas. Em jarras. Em bandejas cheias de copinhos menores. Ou nos quebramos no chão. Mas você não deveria pensar sobre isso agora. Não deve se preocupar com o que não controla. Seja o melhor copo que puderes. Meio vazio ou meio cheio, não importa.

Eu bebi a água em um grande gole.

(Parte do "Murro na cara !" editada)

Eu me rendo. Desejo a felicidade dos que se casam.
Desejo paz pro meu coração e um copo cheio.

Escrever esse negócio me faz bem: pronto, passou : )








quarta-feira, 18 de março de 2009

25 coisas (des)importantes ao meu respeito.

Eu gosto de rúcula.
Raramente perco uma oportunidade de ir ao cinema.
Eu adoro minha vida profissional, mesmo trabalhando demais.
Eu sangro. Se você cortar no lugar certo vai ver...
Gosto de música boa. O termo "música boa" nesse caso é bastante complexo.
Acredito nas pessoas. Me ludibriar não é muito dificil.
Aprendi a perdoar dando socos em pontas de facas.
Não gosto de cintos. Uso por obrigação.
Gosto de praia, mas prefiro as companhias.
Adoro ler. De bula de remédio a Gabriel Garcia Marques. Passando por: O Elefante, da Clínica de Oftalmologia Saramago´s.
Não tolero quem não sabe perder. A atitude "vejam todos como eu sou foda" é acometida por espancamento mental seguido de execução pública social. Sem a mínima tolerância.
Gosto de correr. Eu corro normalmente pra um lado só. Correr me lembra sobre ter um dos pés no chão, sempre.
Eu tomo vinho. E poderia tomar só vinho, pelo resto do meu tempo vivo.
Eu dificilmente jogo pedras de volta. Normalmente elas ficam no caminho.
No meu burro e curto entender, poesia é opção. Cada um sabe o que escreve e lê, metaforicamente.
Não aponto meu dedo pros outros. Não adoro que me apontem os seus.
Meu sono é muito pesado. Na verdade, meu sono é uma avalanche. Nada pode para-lo.
Eu falo rápido. Se você pedir educadamente, eu repito. Se fizer cara de quem não entendeu e fingir entender, eu repito. Mesmo que você me responda:
"- Eu entendi..."
Sinto saudades daquilo que não volta. Sinto falta da mudança no imutável. Um dia eu acho a formula, de novo.
Eu falo em silêncio. Tenho solitários diálogos mentais. Ouço vozes e vejo cores estranhas.
Meus pensamentos favoritos, são os que eu preciso desenhar. Não falar.
Minha memória é ruim. Admiro pessoas com boa memória. Consigo, inexplicavelmente guardar fatos históricos com muita facilidade. Mas preciso do meu celular (pra ligar pra minha irmã) e confirmar o aniversário da minha mãe, todo ano...
No meu compreendimento, sou constantemente mal compreendido.
Faço a barba a cada dois dias. Pensei em deixa-la crescer ontem (dia 17 de março). Escrevi um texto a respeito e pretendo publica-lo aqui em um futuro próximo.
Um dia, quando o Sol e Lua se encontrarem no céu. Nós vamos dançando, ver a noite e o dia discutirem. E descobriremos enfim, se eles são amigos ou amantes. Namorados ou amores eternos. E quando o Reino das Nuvens abrir seus portões, os Cavaleiros Brancos, sob a batuta do Comandante Branquiocálio Neves, farão sua apresentação. E o mundo todo, vai parar pra olhar para cima e dançar. As guerras terão fim. Ninguém morrerá ou chorará de tristeza. As pessoas cegas vão sair dos carros nos semáforos e olhar, vendo. Os mortos abrirão suas covas e botarão suas carcaças a observar.
E os Cavaleiros vão rodopiar.
Tocando suas flautas transversais. E arrancar suspiros da platéia que não descolará os olhos e sentimentos do teto do Mundo nem por um instante.
E entoando em coro a beleza do Universo. Tudo será lindo. E a perfeição dirá que envelheceu. Que nada mais será como foi antes. E que é assim que será a partir de agora.
Nesse dia, tu vais te lembrar de mim. Essa é a vigésima quinta coisa (des)importante que eu tenho pra dizer ao meu próprio respeito...

: )

terça-feira, 17 de março de 2009

Little Joy e eu.

Pois é,
veio a noite.
Foi-se o céu e o sol.
Cai teu negro manto.
Em meu leito, deito.
Me rendo ao só.
O silêncio sorri.
Solidão, tenha dó.
Meu acorde em si.
Guarda o teu melhor.

Gentil é o mar.
Que me fecha os olhos,
e recorda o amar.
Que me acorda e diz:
- Sejas tu feliz.
Faz teu nó desatar.
A onda voltar.
Na areia eu vi.
O que não vem mais pra Cá.
Sem dó, sem si e sem lá.

Não me entenda mal.
Eu não sou final.
Caminhando parado.
Quem vem do meu lado ?
O que não vai solitário...
Joga pedras ao vizinho.
Teu telhado é de vidro.
Errei teu caminho.
Mas tudo bem,
vou sozinho.

Gosto amargo de café.
Palavra é verdade.
Solidão é má !
Mão de ré.
Se vem sol, vou de mi.
Se há dó, vou de lá.
Sem si não se faz fá.
Desisti de tentar.
Aprendi que o caminho é o fim,
até mais do que o chegar.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Foi durante a madrugada...

Quando eu era pequeno sempre acordava muito cedo.
Minha mãe dizia que era porque eu nasci as 4h30 da manhã de uma quarta-feira. O fato é que muitas vezes eu acordava enquanto ainda era noite. E ficava zanzando pela casa. Brincando com as coisas que os adultos não me deixavam brincar enquanto eles estavam ao redor. Como pregos, furadeira, facas, me debruçando nos parapeitos das janelas, correndo nas escadas e escalando os móveis enquanto eu derrotava os monstros da minha jovem mas já fértil imaginação.
E permitia que minha família dormisse em paz. Afinal, alguém precisava protege-los...
Um dia, durante um verão daqueles que ficávamos todos juntos na praia.
Eu acordei.
Não era mais noite, mas também ainda não era dia. Sabe aquele período, extremamente bonito e pacífico, em que o céu ainda não decidiu aceitar o sol e nem mandar a lua embora ? Fica um tom meio roxo amarelado com cinza, azul e vermelho. Tudo misturado, formando figuras. É como se o Criador, pintasse um quadro por dia. Usando o céu como tela.
Foi naquele horário.
Eu ouvi um choro, bem baixinho.
Curioso que sempre fui, me levantei usando meu pijama da Shell (ele era branco e cheio de "loguinhos" vermelhas da Shell...).
Atravessei a casa e o quintal tentando ser tão silencioso quanto um ninja.
Minha família toda me ouviu saindo... obviamente.
Fui até o portão, o abri. Lembro bem, a rua não tinha movimento.
O céu estava sendo pintado. E um vento praiano daqueles beeem gelados me fazia bater os dentes de frio.
Eu sou da época que leite vem em saco plástico.
E tinha um sacolinha daquelas, enconstada no portão da nossa casa. Bem vagarosamente ela se movia. Como se tivesse algo dentro. O choro também vinha dalí. Não demorou até ela botar as patas pra fora...
Era um cachorro. Cachorro não, uma cachorra. Eu não sabia dizer, mas parecia recem nascida. Tinha os olhos meio fechados e lambia a parte de dentro da sacola. Alguém tinha lhe abandonado a própria sorte.
E a sorte dela, a trouxe pra perto da minha.
Eu não preciso dizer...
Foi amor a primeira vista.
Peguei a cachorrinha no colo e nos tornamos melhores amigos do mundo. Quando eu me virei, minha mãe estava na varanda da casa com cara de quem queria saber o que o pequeno leandro estava aprontando dessa vez.
"- Eu não quebrei nada. Nem botei fogo em alguma coisa. Eu achei um cachorro : ) !"
Minha mãe sorriu.

Ela foi batizada de Madrugada. Meu pai achou pertinente. Nós concordamos.
Alguém tirou uma fotografia minha a segurando no colo. Essa foto falante está no meu quarto até hoje.

Eu sempre gostei da Madrugada. Ela foi muito carinhosa com toda a minha família. Nós nunca a abandonamos. Ela ficou conosco o tempo que quis e foi embora quando chegou a hora. Foi muito bom ter acordado cedo aquela manhã.
Até hoje, as madrugadas me trazem o inesperado. Talvez não mais em sacolas de leite. Mas toda vez que a maré muda, algo novo surge. E se não fosse assim, seria horrivel.
As vezes eu penso na Madrugada. Penso que ela foi meu primeiro cachorro.
Que outra pessoa podia ter acordado, um vizinho ou um irmão meu...
Que alguém podia ter passado e a levado embora.
Que ela podia ter sido atropelada, tentando explorar o universo além da sua sacola de leite.
Que qualquer coisa, além de eu ter levantado e saido de casa, podia ter acontecido.
Mas não. Nada disso aconteceu.
E eu e a Madrugada nos encontramos em uma madrugada de verão.
Acho que ela precisava de uma casa, de atenção e de leite...
Eu precisava de uma amiga, de um primeiro cachorro que me ensinasse a gostar tanto de bichos e de um motivo pra levantar da cama naquela madrugada.

Na verdade, fico um pouco triste quando penso na Madrugada.
Ela é uma das coisas que foi e não volta mais.
Ela é uma das minhas dores imutáveis.
Mas eu preciso continuar respirando.
Preciso continuar dormindo e acordando.
Preciso continuar levantando de madrugada e saindo pra explorar o quintal.

Afinal, quem pode me dizer o que a madrugada vai trazer amanhã ? ;)






domingo, 15 de março de 2009

Uma nuvem em forma de porco e o meu verão já acabou...

"- Tchau verão !"
"- Tchau Lê, te vejo depois..."





sexta-feira, 13 de março de 2009

Ouvindo Glycerine - Bush.

Refluxo mental.
Meu cérebro está com azia. Tudo queima. Péssimo dia pra não se ter certeza de qual é o sentido da vida.
O caminho é o sentido. É uma boa resposta.
Mas normalmente só me convence quando estou bem. Eu precisava arranjar um argumento pra quando estou mal. Pra quando a tempestade no copo alcança minha embarcação. Pra quando a Rapunzel não joga as tranças. Pra quando... você entendeu !!!
Pé na areia e eu sinto ele queimar. O sol me manda um flair na cara. Fecho os olhos pra não ficar cego. Fecho os olhos e penso que fechar os olhos é me cegar...
Maldito Saramago e seus ensaios perturbadores.

As fotos falam comigo.
Isso pode parecer mentira, mas não é. Eu digo que se você não sabe o que aconteceu antes ou depois de uma foto, ela não é completa. A imagem é um registro da imagem. Um abraço apaixonado, um beijo carinhoso dos seus pais ou um dia extremamente divertido e engraçado ao lado dos seus amigos.
Pra onde essas pessoas foram ? Não importa vai...
Nada mata um momento. Momentos são entidades cheias de vida. Que se escondem entre as colunas da nossa memória. Alguns ficam em cantos mais escuros, outros não desistem de ficar abaixo das lâmpadas da lembrança.
Então, sempre que vejo uma foto da qual me lembre. Da qual eu saiba o que aconteceu antes ou depois do "click". Eu ouço ela falar:
"- Lembra Lêêê ? Desse sítio em Ibirama ?"
"- Aquela festa foi animal não foi ???"
"- Fiquei muito feliz com o teu presente filho, obrigada..."

Fotos falam, definitivamente. Você só precisa saber/querer escutar.

Soco em ponta de faca. Corto meu punho. O sangue espirra contra a parede.
Eu admiro quem não desiste. Sério. Quem segue em frente, pisando em brasas e espinhos e sorrindo pro mundo...
Como aquela história do beija-flor.
A floresta toda pegou fogo e todos animais corriam pra longe com medo.
Na meio do desespero o leão percebeu que um beija-flor ia até uma poça de água, enchia o bico e soltava sobre as labaredas. Inutilmente.
O leão correu até o pássaro e gritou:
"- Beija-flooor, o que tais fazendo ??? Não tá adiantando nada !!! Corre enquanto ainda podes..."
O beija-flor parou no ar, sacudindo suas asas freneticamente e respondeu:
"- Estou fazendo o que posso. Se cada um fizesse sua parte, o fogo seria apagado."

Na história verdadeira todos os animais voltam e apagam o fogo. E o mundo é um lugar lindo.

Pra mim o beija-flor morre sozinho.
Sufucado pela fumaça e pela própria convicção de que está certo.
Todos animais morrem muitos anos mais tarde. Com suas famílias, uns 20 quilos mais gordos. Decorando o nome dos netos e lembrando de como era bom ser jovem.
O beija-flor não pode envelhecer. Ele jamais aguentaria perder sua capacidade de vôo.
Preferiu fazer sua parte e partir em paz.

Pra quem achou esse texto triste. Eu não tenho muito a dizer.
Nunca tenho, na verdade.
Meu silêncio conversa sim. As fotos falam. E meus olhos estão se mudando pra fora do país em Julho.
Mas tudo bem.

Eu estou feliz ! : )

"Lembro que em algum momento o Lindolf Bell entrou na minha vida, mas de uma forma esparsa. Não chegamos a ser grandes amigos, mas houve momentos que me marcaram. Houve, por exemplo, um dia em que estive na Galeria Açu-Açu, no tempo em que ela ficava na Rua Namy Deeke, e ele me chamou para olhar por uma janela que ele tinha feito, e que era muito bonita, e me disse que quando sonhávamos ou desejávamos alguma coisa na vida, tínhamos que seguir. E quando vivíamos numa cidade pequena como a nossa, e seguíamos o próprio sonho, no primeiro momento seríamos condenados, mas se persistirmos no sonho, adquirimos o respeito da comunidade. E é bem isso!"

(Urda Alice Klueger em entrevista ao Sarau Eletrônico)



quinta-feira, 12 de março de 2009

Belos dias e longas noites...

A água estava calma.
Batia no casco do navio suavemente, formando padrões. Ondas curtas e gentis. O mar parecia uma criança educada. Vez ou outra mostrava seu potencial, levantando uma onda um pouco mais perturbada. Mas permanecia calmo na maioria do tempo.
Nosso barco buscava o novo continente a vários meses. Completávamos quase um ano em alto mar. Na saída do ultimo porto, muitos ficaram para trás. Muitos homens começavam a adquirir o habito de se sentar no crepúsculo para ler as cartas que receberam na saída. Não haviam mais cartas para serem lidas. Todas as palavras já tinham entregue seus recados. E agora esses homens buscavam dia após dia, uma frase, uma expressão, um desenho, ou qualquer coisa que tivesse passado sem ser percebida. Até as manchas do papel contavam.
" - Ela tomou café enquanto me escrevia essa carta." - ele conseguia dizer pela mancha em circulo que a xícara havia deixado na base do manuscrito.
"- Minha esposa passou um pouco de seu perfume favorito no papel, ainda posso sentir o cheiro..." - o cheiro já não existia mais. Mas mesmo assim ele podia senti-lo... só ele podia...
"- Sempre que leio, eu posso ve-la acordando e sorrindo pra mim... Sinto menos saudade quando penso nisso..." - este havia recebido um bilhete. Nem carta era... Mas mesmo assim ele o guardava, com mais esmero do que guardava sua ração diária.
Os meses passados no mar são severos. No começo é fácil nos lembrarmos do que deixamos para trás. Mas com o passar dos dias. Quando as noites solitárias ficam cada vez mais longas e vazias, fica pior. Os homens param de conversar e as rodas de cigarros e rum ficam cada vez mais vazias. Até terem só dois homens.
Um que fuma e outro que bebe.
Os homens acordam cedo e resolvem os problemas do barco cada vez mais rápido. Depois dormem. Cansados. Muitos ficam se comer. A fome não alcança os que sofrem as saudades do coração.
Acordamos em um dia cinzento. O mar estava um pouco mais agitado. Perto do meio dia uma fina garoa caia sobre nosso barco. Meu primeiro imediato avisou que choveria a tarde...
Ele estava certo.
No final da tarde a chuva começou a ficar mais forte. Gotas grossas. Vento severo. Nossas flâmulas e bandeiras dançavam freneticamente sobre nossas cabeças. As ondas cresciam, uma após a outra.
Alguns homens se seguravam em cordas para caminhar sobre o convés. Passos cuidadosos, firmemente apoiados sobre a madeira molhada que rangia a cada torçida que nosso casco dava. Os mastros balançavam e algumas caixas começaram a se soltar das cordas em que estavam presas. O caos se desenhava.
Meu imediato avisou que a garoa que havia se tornado chuva, estava prestes a crescer até uma tempestade. Pedi para todos tivessem cuidado.
Os olhares de saudade estavam agora divididos com o medo.
Muitos homens eram marinheiros de primeira viagem.
Não demorou muito para o nosso navio começar a balançar feito um brinquedo de criança. Algumas ondas estouravam no próprio convés. Vinham como tapas contra uma face. A nossa. As caixas se soltavam novamente. Corriam pela madeira lisa se partiam nas muretas de proteção do navio. Muitas pessoas corriam de um lado para o outro, tentando salvar o que era possivel.
O mar não te dá muitos avisos do que pretende fazer. Afinal, foste tu que vieste até aqui... Eu não reclamava, eu respeito o mar.
Onda após onda, nossos homens se confundiram e perdemos nosso rumo... seria impossivel mantermos a linha.
O navio vagou a própria sorte.
Enquanto eu olhava pela janela vi algo próximo a nossa frente. Parecia uma grande núvem transparente. O mar se chocava contra ela, as ondas subiam além do que podiamos ver... O navio estava indo naquela direção.
Avisei o imediato para que virasse a bombordo com extrema urgência. Ele saiu correndo da minha cabine. Gritava com toda força de seus pulmões.
"- VIREM, VIREM AGOOOORA, VIIREEEEMMMMM..."
Continuei observando, esperando.
Lentamente o barco começou a deitar para a direita. Aquilo passou bem perto e quase nos chocamos. Ouvi os homens comemorando quando quase raspamos a lateral naquela coisa.
Pude ve-la melhor, era vidro...
Era uma grossa barreira de vidro transparente que represava o mar. Ela parecia curva. A tempestade nos impedia de chegar muito perto. E não podiamos ver além.
Pedi que trassassemos nossa localização usando as estrelas. Foi quando meu navegador disse:
"- Comandante, o sol está apagado...."
Olhando para cima vi. Não haviam estrelas, nem lua. Só um grande círculo cinzento que não emitia luz alguma. Além do círculo existia uma espécie de teto, branco, com gesso e paranho.
Pedi que meus homens levassem o barco de volta a parede de vidro.
Voltamos cuidadosamente. Usando minha luneta pude ver através do material. Parecia uma sala de jantar. Não sei se consigo lhe explicar, mas havia uma gigantesca mesa, com pratos e vários talheres do tamanho de castelos. Um pano dobrado próximo ao prato me pareceu ser um guardanapo. Dobrado e limpo, esperando lábios sujos de alimento.
Não consegui ver além da mesa. Era muito longe...
Não podia dizer isso aos meus homens, eles iam achar que eu havia ficado louco. Que a tempestade havia levado minha sanidade.
A chuva começava a parar.

Isso não é o mar. É um copo d´agua.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Pablo Neruda e a Terra das Sombras do meu apartamento

O insólito me visitou de madrugada. Conversamos sobre nossas vidas.
"- Sou pássaro preso em gaiola" - ele disse - "dependo da boa vontade das imaginações alheias para existir..."
O insólito flutuava enquanto falava. Alí parado na janela da minha sala eu o ouvia dizer:
"- É como se eu não pudesse existir de fato. Como se fosse um verme de caixão. Esperando a boa vontade do ser humano para me alimentar. Estou cansado dessa vida."
Entre um gole e outro eu ficava imaginando para aonde ele iria quando fosse embora.
"- Você conhece Pablo Neruda, Insólito ?"
"- Claro ! O odeio !"
"- Pois eu o adoro !"
"- Isso é porque, tens ossos, carne e pele... Eu não ! Eu sou um "algo". Nem entendido, sem mentira e sem verdade... Não tenho porque gostar dele. De suas questões. De seus longos e intediantes ensaios sobre a conduta de um viver..."
"- Tais um saco hoje hein ?"
"- Não me perturba que me vou... sabes disso ! Por sinal, só estou aqui porque tu me convidou. Por perturbada que anda tua imaginação me convocaste a conversar..."
"- Isto é verdade..." - concordei embaraçado.
"- Tudo bem. Realmente Pablo Neruda e eu temos nossas diferenças... Me desculpe."
"- Será que eu consigo escrever um texto que fala sobre a falta de solidez me pedindo desculpas ?"
"- Duvido muito..."
"- Concordo contigo."

"A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas."
(Friedrich Nietzche)

terça-feira, 10 de março de 2009

Eu vi !

Eu sei que vi.
Meio torto, borrado e sujo.
Estava alí.
Não tinha asas, nem era bonito.
Mas sorriu pra mim.
Eu sei que vi porque senti o cheiro.
Ninguém mais me entendeu dizer.
Falei em silêncio, quem poderia entender ??
Dificil é fingir que nada é nada.
Que o mundo gira feito pá furada.
Que abraços terminam e a faísca é apagada.
Mentira lavada !
Eu sei que vi.
Passou bem rápido.
Fez ar de formosa.
Fechou a cara, mas ficou prosa.
Senti o cheiro e pude ouvir bossa nova.
Pensei ter sido só comigo, eu sei.
Me dei o título de único Rei.
Vesti capa de veludo e coroa de ouro.
Mandei matar os videntes que viam mal agouro.
Tropeçei e caí.
Alí no chão me lembrei convicto:
Eu sei que vi !
Retina maldita que carrega a visão.
Se fosses uma foto ou um quadro, eu te teria nas mãos.
Não se apalpa os olhares que a vida te dá.
O silêncio é pesado e podes pesar.
A fala é navalha, é simples sentir.
Um gesto é flor, qualquer um pode ouvir.
Beijo de amor, despedidas não tem tchau.
Mas se o olhar te aplaca com força.
É pior que carrasco de forca
Não te dá nem final...
Tu fica sem ver, surdo e atordoado.
Olhar é onda violenta que quebra do teu lado.
Arrasta pro fundo e não deixa sair.
Te deixa sozinho pensando.
Te faz refletir.
Se demoras um poquinho, coisa banal.
Perdes o trem e ficas sem o tchau.
Passa o ponteiro não sobra ninguém.
Eu sei que vi.
E tu também...

segunda-feira, 9 de março de 2009

Quando no silêncio, meu olhos falam por mim.

Você tem um minuto :
Rúcula com aceto balsâmico. Fecha teus olhos pra beber esse vinho, vais gostar...
Um filme em preto e branco. Menos de 29 frames por segundo... definitivamente.
Roda de crianças. Amigos pequenos, gente estranha e gente conhecida.
Um cachorro latindo. Isso é um sítio ? Que dia é hoje ?
6 de abril !
De que ano ?
1992 ! É o teu aniversário !
Mas eu já fiz aniversário esse ano ! Quantas vezes eu faço... esse ano ?
Um formigueiro gigante. Formigas do tamanho de ratos. Gente correndo pra todo lado, gritando:
"- Chamem um adulto, chamem um aduuuuuulto !"
Ele vem como um cavaleiro. Usa uma armadura prateada brilhante. Carrega o estandarte da família. Tem espada e escudo. Salva as donzelas e ensina a todos os pequeninos como devem se defender.
Todos dizem fascinados:
"- Obrigado vô !"
Eu digo:
"- Obrigado pai..."
A ampulheta vira e o tempo voa. Anos em instantes. Isso é um brinquedo da Disney ?!?
Joelhos ralados, escadarias sem fim e gente cantando.
Video games, bonecos dos comandos em ação, aviões e carrinhos de plástico. Uma flauta doce e um violoncelo. Acho que ouvi alguém tocando um piano... Deve ser domingo a tarde. Isso ou meus pais discutiram sobre alguma coisa pouco importante ! O piano faz tudo ficar melhor...
Já é Natal ? Em instantes será, aguarde sua vez na fila por favor.
Hoje foi Pascoa. O coelhinho existe. Ele te deixou uns ovos de chocolate.
Aonde mora a galinha que põe ovos de chocolate ?
Não são ovos de galinha, são ovos de dragões das montanhas... de chocolate.
Eu adoro ovos de dragões das montanhas... os de chocolate então, nem se fala.
Mas porque é um coelho que os entrega ?
Você faz perguntas demais.
Silêncio.
Eu vejo ela passando. Flutua como um fantasma. O tempo se move bem mais devagar ao seu redor. Poesia pura.
O carro faz uma curva na chuva. Eu, minha irmã e meu irmão estamos abraçados no banco de trás olhando pelo vidro aquele enorme cavalo deitado na asfalto frio. Minha mãe está triste. Meu pai sério, dirigindo.
Um tiro.
Os tiros de verdade raramente são esquecidos. Não é como no cinema. É diferente. É de verdade. Seco. Nunca mais vimos o cavalo do meu irmão.
Ele saiu do cercado e foi atropelado em uma noite de verão e o guarda pediu que meu pai o deixasse pra sacrifica-lo.
"- Deixa eu virar com o carro aquela curva, depois tu atira."
Ele não esperou. Acho que o guarda estava cansado e não queria ficar se molhando...
A chuva me deu essa lembrança.
O tempo flutua. Escapa como areia fina em uma mão apertada contra o vento.
Uma comemoração atrás da outra. Sorrisos sinceros e abraços eternos. Uma vez que você abraça alguém e lhe deseja o bem você entende. Alí fica um pedaço teu.
Uma foto falou comigo:
"- E aí ? Vais descer ?"
Eu não sei do que se trata. Você deve ter se enganado.
"- Não me enganei não. Tu vais descer ou não ?"
Fico em silêncio.
Estou descendo... Pedras voam pra todo lado ? Chuva de meteoros ? Guerra entre moleques que não tem bolas de neve ? Idéia de giríco ?
Vidraça quebrada.
"- Seu filho está metido em todas as confusões do colégio..."
Sem puxões de orelhas ou tapas na bunda. Os olhares de reprovação doíam bem mais que qualquer castigo.
Aprendi. Chega disso. Vamos nos comportar ?
Vai sonhando...
Um morro. Enorme. Centenas de dezenas de metros de decida.
"- Ele não vai conseguir parar..."
O verdadeiro morro, aquele da metáfora jamais termina. Você escolhe se sobe ou desce. Mas jamais para de subir ou descer... É uma caminhada de uma vida. Quando você estiver muito cansado, pare um pouco. Se tu dormires a gente vai colocar uma pedra com teu nome no teu lugar. Com a data em que tu começou a caminhar e a data em que você adormeceu. Pura convenção. Mas os que vierem atrás de ti vão saber aonde você parou...
Eventualmente alguém troca as flores.
Eventualmente, você !
Brilha uma luz ? Túnel ? Não, não...
As luzes se acendem, é um palco. Tá todo mundo aqui...
Acorde em mi menor. Esse é o palácio das caixas de som. Você pode ouvir de Joan Bach à Meat Puppets. Era a época em que o mundo conhecia o grunge. Eu tava lá !
Quem foi Kurt Kobain ? Depende de quem responde !
Os dois concordam que Nirvana foi ótimo.
Tambores ao sul. Som bem baixinho, tun tun tun tun... Eles não param.
Novidades eletrônicas.
O mundo a um clique de distância.
Tudo muda. Tudo gira. Tudo passa. Tudo voa.
Tem uma baleia gigante seguindo minha irmã pela rua. Ela flutua como em um filme dos Beatles. Balança as barbatanas como se estivesse nadando no mar. É uma enorme baleia azul.
É realmente muito legal.
Terra do Fogo.
Ouvi o vento dizer que tudo vai ficar bem.
E o futuro ? Eu to subindo ou descendo ?
Tais parado ? Não, parado não !
Fica tranquilo... tá tudo bem...
Pedras no caminho. Vários montes delas... Alguém me diz pra guardar, construir um castelo... algo assim ! Perda de tempo. Eu sei aonde vende pedras. Não vou catar as que os outros me jogam. Deixo pra eles limparem essa bagunça. Eu sou só outro alguém sem importância que pode ser apedrejado por estranhos.
Isso é texto, um diário, um devaneio ou uma tentativa frustada de escrever poesia ?
Isso é uma ampulheta de areia. A Magnífica Ampulheta das Areias do Tempo.
Quanto tempo ainda tenho ?
Teu tempo acabou.

Mas eu queria dizer que


domingo, 8 de março de 2009

Se não for eu, quem mais vai perceber o que é bom pra mim ? Dispenso a previsão ! Se o que eu sou é, também, o que escolhi ser ! Aceito a condição !!!

- E além daquelas colinas ? O que existe ? - eu perguntei apontando.
- Lá é a terra dos gigantes ! Ninguém vai pra lá. Ninguém volta de lá. - ele disse de forma séria.
A estrada não ia em direção as colinas. Ela as contornava. Havia algumas placas de aviso dizendo: "Não passe" e "Não siga a diante".
- Eu queria saber porque ninguém gosta dos gigantes...
- Como assim ? - ele me perguntou indignado.
- Por que você os odeia ? Você já se perguntou isso ?
Em silêncio ele ficou me olhando, mas não respondeu nada. Ensaiou dizer alguma coisa mas se conteve. Permaneceu quieto me olhando.
- Eu nunca vi nenhum deles. Nem você... NEM NINGUÉM ! Discutimos a respeito sempre ! Os ofendemos a distância, dizemos que são piores, que são ruins... Mas nem os conhecemos. Nem queremos conhecer. Vivemos dizendo que no passado tivemos guerras, que fomos traídos por suas alianças, que nos passaram para trás. Mas ninguém lembra como aconteceu. Quando aconteceu. Ninguém se importa realmente, desde que o ódio e mágoa permaneçam... Desde que tenhamos um motivo, mesmo que mentiroso, para odia-los. E para continuar ensinando nossos filhos a odia-los. A verdade, é que temos medo deles. É que ficando aqui, do outro lado das colinas nada irá nos confrontar. Que poderemos ter nossas velhices, gordos, fracos e cheios de netos para contarmos como é bom viver longe dos gigantes. Como somos felizes da forma como vivemos. De como estamos cobertos de razão e certeza. De como jamais erramos sobre coisa alguma. E finalmente, de como nossas vidas tem sentido assim...
Ele continuava me olhando de forma séria, parecendo odiar a cada palavra que eu dizia.
- E mesmo que discordes de mim, e que eu vá ser banido por minha palavras. Eu prefiro dize-las. Prefiro falar o que penso do que viver imerso nesse mar de ignorância. De quem tem certeza que está certo. De quem morre achando que a vida é isso. Que deixa o orgulho sufocar. Deixa o orgulho transbordar dos potes e molhar toda uma vida. E vive ignorante, achando que é Rei de um castelo que na verdade fica no meio de um pântano. Escuro. Pútrido. E vazio.
Parei de falar. Meus olhos observavam por cima dos ombros dele as colinas.
- Devias ir pra lá. - ele disse.
Eu fiquei em silêncio.
- Devias descobrir quem de nós está certo. E voltar pra me dizer. Pra me avisar se eu levo uma vida em vão, protegendo essa fronteira.
- Pois é o que eu farei cavaleiro. - e me coloquei a marchar em direção as colinas.
Ele não me disse nem uma palavra.
Ficou observando minhas costas enquanto o final da tarde derrubava seu manto sobre nossas cabeças.
É uma longa viagem até a Terra dos Gigantes. Leva-se vários meses pra atravessar as colinas. É um caminho solitário. Um caminho que te desafia a mente e o corpo. Nem tenho certeza de que vou conseguir ir até o fim. Mas sei que preciso tentar chegar até lá.
Talvez eu nem chegue.
Talvez eu chegue e seja morto.
Talvez eu perceba que estava errado. Que devia ter ficado em casa.
Mas mesmo que qualquer uma dessas coisa aconteça. Eu sei que serei mais feliz tentando do que me rendendo ao velho igual de sempre. Ao mesmo.
Eu sei que vou !

- Tenha uma boa viagem velho amigo - ele pensou vendo minhas costas desaparecerem na noite... - Vá em paz.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Tim Maia. Céu azul de brigadeiro. E o meu passado respira do meu lado.

O Gregory é leve.
Eu senti suas quatro patas, duas no meu peito e duas na minha barriga. Ele passava sua língua do meu queixo até meu nariz. De forma rápida. Com um intervalo menor que um segundo entre cada lambida.
Eu viro a cabeça pro lado e digo pegando meu celular:
"- Bom dia cara..."
Ele senta na cama abanando o rabo. Com uma orelha pra baixo e outra pra cima...
Minha garganta está um pouco irritada. Culpa do ar condicionado.
Enquanto eu ligo o chuveiro, penso que deveria comer alguma coisa. Levando em consideração que a última coisa que eu ingeri foram as cervejas que um amigo havia levado pra minha casa na noite anterior. Antes disso eu havia almoçado.
Meu telefone toca.
"- Alo ?"
"- Booooooommmmm diiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaa !"
Eu dormindo. Ele pensando em pular de para-quedas.
Agradeço o convite, mas não posso !
Hoje é um dia importante, hoje é um grande dia pra produtora.
"- Combinamos alguma coisa mais tarde, pode ser ?"
Ele concorda. Nós desligamos, por hora...
Meu cachorro ainda tá sentado, balançando seu rabo sentimental. Com as orelhas desalinhadas. E um olhar de que comeria meia banana picada.
Tudo bem, eu te corto uma banana "Gré" !
Enquanto eu saio do banho o telefone toca de novo.
"- Tudo bom filho ?"
"- Oi mãe..."
Minha irmã sempre faz caras de desaprovação quando eu atendo nossa mãe no telefone.
Ela sempre diz que eu deveria dar mais atenção a essas ligações. Deveria "falar direito".
Eu sempre passo o telefone pra minha irmã quando ela está próxima e minha mãe liga.
Normalmente ela atende dizendo:
"- Sim mãe. O Leandro tá bem..."
Ainda bem que não tem ninguém mais em casa. Se o Gregory falasse talvez ele estivesse dizendo:
"- Fala direito, chomp chomp... com a tua, chomp chomp... mãe, lê chomp" (chomp é a onomatopéia para alguém que está comendo...).
"- To indo trabalhar cara..." - deixo a televisão ligada no cartoon network. Assim como eu, ele gosta de desenhos animados.
Desço as escadas pensando em tudo que é compromisso profissional que tenho. Ligar pra lá, cobrar email de cá. Tentar por alí. Assinar contrato. Passar cotação.
Abro a porta.
É um mundo mágico, um video clipe, um filme do Kurosawa, sei lá
...
Amanheceu um céu azul de brigadeiro.
Na hora que eu boto o pé pra fora de casa, vejo que tudo é camera lenta. Um bimotor passa dando um rasante com uma faixa presa a cauda dizendo:
"- BOM DIA LEANDRO !"
Uma linda menininha loira de olhos verdes, com no máximo dez anos de idade se aproxima e me dá uma flor sorrindo. Um grupo de pessoas começa a fazer uma dança coreografada, pulando de lado pro outro... Entra um carro alegórico em minha rua, totalmente colorido, cheio de gente em cima. Pessoas tocando tambores, flautas, violões. Eu olho pro alto e vejo outros aviões que passam e deixam rastros de fumaça colorida. Vermelho. Verde. Amarelo. Rodopiando em loops, fazendo figuras. Abaixo a cabeça e vejo dois cães adestrados, usando roupa de Senhor dos Anéis sobre suas patas traseiras. Alguém toca no meu braço, eu olho pro lado ainda muito atordoado. É uma senhora que trabalha no café que fica na esquina da rua. Ela me oferece uma xícara com um café expresso. Eu agradeço... Alguém toca em minhas costas gentilmente. Eu me viro. É uma moça, muito bonita... Parece com aquela menina que me havia acabado de entregar a flor. Mas pelo menos doze anos mais velha. Eu penso:
"- Nossa, você cresceu..."
Ela diz:
"- É hora de ir pro trabalho Lê." - e aponta pro meu carro.
Eu sorrio e penso:
"- A gente devia fazer alguma coisa juntos qualquer hora dessas..."
Ela me olha. Eu não digo nada.
De repente, todos somem. Nenhum carro passa. Não tem mais ninguém na rua. Nada de vento. Ou sons distantes. Eu to sozinho. Completamente.
Meu carro desarma o alarme sem eu fazer nada. Sem apertar nenhum botão.
Bip bip (como o papaléguas).
A porta dele se abre e o motor liga.
Eu entro e a porta fecha. Ele começa a se mover. Através do vidro eu vejo realmente a cidade ficou vazia.
O céu está azul.
" - Acho que já é inverno..." - eu penso olhando para as árvores e a forma como a luz do Sol as ilumina. Desço a rua Sete de Setembro sem cruzar com nenhuma alma viva. Meu carro liga Sigur Rós em um volume agradável.
Chegando no trabalho.
Eu ouço um som. O carro para e abre a porta. Alguém diz:
"- Chegamos."
Sem me importar de onde veio a voz (realmente é irrelevante) eu respondo:
"- Não é aqui..."
Silêncio.
Eu saio do carro e quando piso, me falta o chão sob os pés.
Eu caio.
É um abismo. Me viro lentamente e olho para cima. Um penhasco, meu carro, uma montanha e o céu continua azul. É tão bonito.
Instantes antes de atingir o chão eu fecho os olhos com um sorriso no rosto.
Alguma coisa lambe meu queixo.
Eu abro os olhos novamente.
O Gregory é leve.
Eu senti suas quatro patas, duas no meu peito e duas na minha barriga. Ele passava sua língua do meu queixo até meu nariz. De forma rápida. Com um intervalo menor que um segundo entre cada lambida.
Eu viro a cabeça pro lado e digo pegando meu celular:
"- Bom dia cara..."

Peraí. Eu olho pela janela. E o dia está realmente muito bonito.

Eu olho para o Gregory e ele está sentado com o rabo abanando. Eu digo:
"- Tu queres uma banana ?"

Ele responde:
"- Teu amigo vai te convidar pra pular de paraquedas antes. Depois tu me dá a banana. Depois tua mãe vai te ligar, fala direito com ela..."
Eu digo:
"- Tá, isso foi um sonho ?!?!"
Ele sorri. O telefone toca.

Ao menos o céu continua azul ! : )

quarta-feira, 4 de março de 2009

E no final, assim calado eu sei, que vou ser coroado o Rei de mim...

O texto anterior foi bem estranho eu sei. Confuso e cheio de raiva. Acho que ele foi fruto de um momento não tão bom. Desses que eu espero que todo mundo tenha as vezes.
Maaaasss, Los hermanos, alguns cigarros e jantar na companhia das super divertidas meninas da sala, acalmaram minha mente.
Lá vai então:

Minha irmã me falou que estava fazendo yoga de manhã cedo e viu o Sol nascer e se por ao mesmo tempo. A Bia é mesmo meio mística. Pra começar pelo nome dela. Que na verdade é Helena Maria Caminha Beduschi, mas a família toda chama de Bia. Pra terminar que ela tem um elo mental comigo e a gente constantemente tem os mesmos pensamentos... a distância ! É bem estranho...
Meu irmão me disse que as mulheres falam uma língua diferente dos homens. Cheias de siglas e linguagens corporais. Eu tentei argumentar, dizer que os homens também usa a linguagem corporal como forma de expressão. Mas quem conhece o Leo sabe que ele "raramente está errado". E a pior parte é que ele raramente está...
Meus amigos e eu temos um Templo. E todo mundo que acha que sabe do que se trata, não sabe de nada. Nosso Templo é uma casa para onde fugimos de todos outros adultos chatos. Um lugar onde dois deles moram, que é dedicado aos bons momentos. Aos dias de sol. Aos sorriso fáceis. As verdades infindáveis. Aos abraços e afagos mesmo no meio das nossas racionais discussões.
Minha mãe é cega. Não, ela não é deficiente física. Ela vê, lê, assiste televisão e faz tudo que qualquer pessoa normal faz. Mas ainda assim ela é cega. Minha mãe não consegue ver nada ruim no mundo. Pra algo ser ruim, tem que ser totalmente absurdo e obscuro. Assim, do jeito dela, ela consegue ver um mundo bonito. Cheio de gente honesta e feliz. E por favor, não a tome como alguém que mente pra si mesmo ou que não se importa com o resto do planeta. Por que ela não é assim. Ela só não consegue falar mal dos outros, discutir ou ser grosseira.
Acho que minha mãe tem a cegueira que o Saramago descobriu...
Eu tenho várias irmãs. Ela são o máximo, cada uma parece saida de um filme diferente do Almodóvar.
Mas tenho uma em especial que é muito engraçada. Ela se veste com as roupas mais estranhas do Universo. Tem os comportamentos sociais mais absurdamente legais do tipo "eu não me importo com o que vocês pensam de mim". E acha tudo muito bom ! Pra ela, a palavra "merda" não é palavrão e pode ser dita em absolutamente qualquer situação... Vai saber né ?! Eu costumo dizer pra ela:
"- Os anos 60 já acabaram..."
Meu avó, o pai da minha mãe era careca, gordo e tinha um Dálmata. Ele faleceu enquanto eu era bem pequeno, não me lembro de muita coisa. Mas lembro que sempre que eu chegava em sua casa, em Florianópolis ele dizia que iria me dar pro cachorro comer. E me abraçava muito.
Fiquei bem triste no dia que ele foi embora.
Meu pai não tomava água. É sério. Ele tomava vários sucos, vinho, café ou qualquer outra coisa. Mas eu nunca o vi tomar água. Nem quando chegava do sítio com lama dos cabelos até a sola do pé... Ele se lavava e fazia um suco de laranja. Mas não tomava água...
Conheço um cara que faz o dia chover. E isso não é uma letra dos Pistoleiros não. A identidade dele precisa ser mantida em segredo. Mas os dias chovem quando ele decide. É bem bizarro. Talvez ele seja de uma antiga linhagem de "fazedores de chuva" ou só um maluco com muita sorte e uma ótima conexão de ADSL. Mas o fato é que ele realmente faz chover !

Não conheci os pais do meu pai. Acho que eles morreram antes de 1930...
Não conheci o irmão da minha mãe, ele faleceu em uma acidente de avião. Foi bem triste.
Não estava lá quando nenhum dos meus irmãos nasceu. Eu sou o mais novo.
Não pude realmente dizer tchau pro pai da minha mãe. Eu fui no enterro, e perguntei porque estavam botando a caixa em que o vô se escondeu naquele buraco ? Ninguém me respondeu...
Nunca vi um dia nascer e morrer ao mesmo tempo.
Nem realmente convenci meu irmão de alguma coisa em que ele não quisesse ser convencido.

Tem muita coisa ainda que quero fazer antes de dizer "chega". Antes de jogar a toalha. De pendurar as chuteiras. Ou qualquer outro desses jargões supimpas.
Tem algumas coisas que não dá mais pra voltar e fazer.
Pra essas eu to acabando de construir meu primeiro protótipo de máquina do tempo. Eu não vou vender a invenção.

Não.

Eu vou criar um escritório chamado: "Administração da Linha Temporal" ou o ALT (de Alterar). Lá eu vou receber as pessoas com suas histórias. Gente querendo dizer tchau pra avós. Pessoas querendo mais um momento ao lado de ex maridos e ex esposas. Filhos querendo ver o amor de seus pais ainda jovens. Donos de cachorros que já partiram. Enfim.
Pessoas interessadas em voltar no tempo por algum tempo. E não altera-lo em definitivo.

O ALT vai ser um sucesso.
E talvez eu volte um dia pra me ver escrevendo esse texto.
Só pra ver minha expressão de dúvida enquanto eu clico no botão laranja que fica na parte inferior da janela dizendo "publicar mensagem".

Talvez : )




O fogo morreu, a água o matou.

A Juno é legal. A Kate Nash é perturbada. O Thom Yorke diz que não, mas curte ser mirolho. Por mais que eles se esforçem a relação do Frodo com o Sam tem fortes traços homosexuais. O Jim Carrey errou ao aceitar fazer O máscara. O único filme do Tim Burton que realmente tem um cheiro esquesito é o primeiro Batman.
Chega de cinema...
A Amy Winehouse é um produto midiático. Tinha uma Amy em Balneário Camboriu, dentro da igreja em que a filha da minha sobrinha foi batizada. Isso foi realmente estranho, levando em consideração que ela devia ter no máximo 17 anos.
Os livros do Harry Potter só existem por que alguém viu (e entendeu) o quanto as histórias de J.R.R Tolkien fizeram sucesso.
O Guns nunca mais vai ser o mesmo, e o Chinese Democracy é sim medíocre.
A Mtv devia mudar seu nome pra Propaganda Televisão (o que bizarramente resultaria na sigla "PT"). E o site, overdrive, devia ser encerrado. Todos os "vj´s" deviam ser presos e obrigados a pedir desculpas públicas. E os roteiristas deviam ter suas mãos e línguas cortadas.
Junto com os caras que escrevem Malhação.
Devia existir uma forma de obrigar as pessoas a ler no mínimo, quatro livros por ano. E você teria que comprovar isso com uma prova oral sobre o livro. Da qual, se você faltasse, seria preso e sodomisado.
R.P.G devia ser matéria obrigatória no segundo grau de todos colégios.
"- Formem grupos e criem estratégias que viabelizem a derrota do monstro na página 56." - diria o professor.
O último Indiana Jones não devia ter existido. Enquanto ele preencheu as masmorras da nossa imaginação foi ótimo. Mas deixou de ser bom depois que "aquilo" foi filmado.
Os de "Volta para o futuro" são a melhor sequência que Hollywood já conseguiu criar.
A "Valsa com Bashir" é uma obra de arte.
Pagode e axé são formas de manifestação de uma cultura
subvertida que já foi tão deturpada e "globalizada" que se tornou uma idosa franzina amarrada por correntes a uma cadeira de rodas no último quarto de um asilo escuro e triste em uma tarde chuvosa de domingo, esperando a visita de um filho que não chegará.
Exatamente como o R.A.P que o 50 Cent faz.
A música dos Mamonas Assassinas.
E a moda do sertanejo universitário.
A proposta inicial do Kraftwerk
é bem diferente da do Armin Van Buuren, Tiesto ou John Digweed. Isso também se perdeu por entre colunas de dinheiro e cartelas de ácido. Criando um mar de pessoas que acham que sabem tudo sobre música eletrônica. Mas que não conhecem nada sobre o Radio Activity, Trans-Europe Express ou The Man-Machine.
A teoria dos sonhos de Freud é super valorizada. As pessoas tem medo de ir contra ela. Tem medo de serem tachadas de burras.

Esse é o estágio final da nossa sociedade.
Todo mundo conhece bem e já viu, a cagada que a gente fez com esse planeta. E que muito provavelmente, entre tratados de Kyoto não assinados aqui e "achamentos" de que ainda vai dar pé alí, nossos netos não vão ter onde morar. Vão brigar por água. Passar muito calor. E sofrer com as pestes que vamos deixar para trás.

A ignorância que foi plantada a tanto tempo atrás. No principio de uma sociedade que arranjou um jeito de criar regras pra poder se matar. Pra poder justificar porque alguns morrem de ataque cardíaco com 30 anos e um coração cheio de banha, enquanto outros com 10 já sentiram a fome de um jeito que nenhum de nós vai um dia conhecer.
E finalmente deu frutos.

Agora adivinha ?!?

A geração que comeu desses frutos podres e amargos. Cheios de vermes brancos que sobem pelas narinas e fazem sua morada nos crânios dos que os mastigam.

Os acham super saborosos. Acham que é assim que todas as frutas são.

Acham isso rebolando funk. Fazendo abortos aos 9 anos de idade. Bebendo coca-cola gelada.
Acham isso e ai de quem disser o contrário.

E ai de quem escrever isso em um blog...







terça-feira, 3 de março de 2009

Ouvindo: Ágætis Byrjun - Sigur Rós

Gente de longe dizendo que lê o "Murro na Cara" TODO DIA ! :)
Muito bom...

Eu nasci com os pés tortos. Não é brincadeira. Usei um par de botas ortopédicas até aproximadamente os cinco anos de idade. Isso se refletiu de diversas formas na minha vida. Pra começar eu passei um longo tempo sem ganhar tenis. Ou poder usar sandálias. A bota era o único calçado que eu podia usar. Ou poder andar descalço na praia. Ou correr, brincar, subir em árvores, chutar pedras e todas outras asneiras que meninos fazem quando são crianças.
Eu ficava muito tempo sentado. Olhando pro mundo, cheio de gente correndo. Cheio de crianças pulando corda, rindo e fazendo danças de roda... Enquanto eu ficava alí. No mundo dos sentados. Com meus livros cheios de figuras, meus desenhos de giz de cera e alguns brinquedos que não me exigiam estar em pé para usa-los.
A parte boa é que aprendi a ler um pouco antes. Isso fez com que eu me interessasse por livros já bem novo. Tinha o Macaco Simão, que era ruim com seus amigos e depois aprendia sua lição sendo ajudado por todos eles em um momento de necessidade. Tinha Os músicos de Bremen, que terminavam tocando seus instrumentos em uma grande festa (era um burro, um cachorro, um gato e um galo). E os clássicos dos irmãos Grimm: Rapunzel, O ganso de ouro e João e Maria.
Eu adorava ler.
Lembro perfeitamente do dia em que consegui pela primeira vez.
Caminhei até meus pais (eu correria se pudesse) e falei que estava lendo. Meu pai duvidou com um sorriso na cara. Minha mãe só observou enquanto eu voltava até o quarto para pegar um livro, levava-o até sala, sentava no chão e começava a ler tropeçando minhas primeiras palavras.
Eu li o livro todo. Até o fim. E eles me ouviram. Alí, sentados.
Quando terminei meu pai ainda sorria e minha mãe me abraçou.
Foi como ter conseguido correr uma maratona. Como ter escalado a maior árvore do bairro. Como ter beijado a vizinha mais bonita na frente de todo mundo. Eu fui o Rei da rua pra mim e pros meus pais naquele momento. Pra ninguém mais.
Nunca consegui jogar futebol bem. Por isso aprendi a jogar basquete.
Nunca consegui ser o mais rápido nas corridas. Por isso aprendi a fazer manobras com minha bicicleta.
E quando todos começavam a sair pra festinhas e a dançar. Eu não conseguia me mover de forma igual. Sempre fui desingonçado.
Isso nunca me incomodou profundamente. Jamais parei e leventei os braços pro céu gritando:
"- Porque Seeeenhor ??? Poooooorqueeeeee ???"
Eu sei o porque.
É o mesmo motivo pelo qual eu tenho um, hoje, minúsculo sopro cardíaco desde meu nascimento. No dia em que eu nasci, meu pai tinha 78 anos. Eu fui o último. Nasci com 4.8 quilos. Com um par de bochechas rosas. Um coração furado. E os pés tortos. Isso faz quase vinte e sete anos.
Lembro de quando acordei, e vi as botas no chão. Pensei em jogar as duas pela janela do apartamento. Eu não aguentava mais usa-las. Mas fiquei com medo de alguém ficar bravo comigo. Meu raciocínio foi simples:
"- Ora, se eu jogar as duas botas, alguém vai brigar comigo. Se eu jogar uma só, não vou ser mais obrigado a usa-las e a pessoa que ficará brava, vai ficar metade do que ficaria se eu jogasse as duas..."
A bota foi arremessada pra fora da janela. Em camera lenta ela girou no ar. Rodopiando com o pesado solado de metal. Girava como um brinquedo. Eu fiquei a observar voando. A bota não caiu... Ela foi voando pra longe. Ela voltou pro Fantástico Reino das Botas Ortopédicas Brancas.
Foi minha redenção.
Antes de desaparecer entre as núvens ela parou, se virou pra mim e gritou:
"- Tchau Lêêê, me desculpe pelo incomoooodooooo..." - e foi embora.
Eu saí descalço do quarto e corri.
Atravessei o corredor e a cozinha enquanto meus pais tomavam café da manhã na sala.
Desci as escadas do meu prédio correndo.
Corri até aonde consegui e parei ofegante. Exausto.
Meu coração furado palpitava por causa da disfunção cardíaca genética. Meus pés tortos latejavam, quase dormentes. Eu suava muito. Mas não mais do que sorria. Eu quase gargalhava de felicidade.

Entre botas ortopédicas falantes e mini maratonas altruistas eu cresci.

Hoje quando eu olho pra trás, sei que minhas pegadas ficaram tortas assim por que devia ter usado minhas botas por mais tempo.
Mas quer saber ???
Eu gosto delas assim ! Elas não são tão retas como a de todo mundo. Nem tão tortas...
Elas são as minhas pegadas. São as pegadas que EU fiz. Que jogam futebol mal. Que gostam da NBA. Desengonçadas. Que gostam de ler. Entre tantas outras coisas.
E eu não voltaria atrás pra apagar nenhuma delas. Nenhuma ! Nem as mais tortas de todas.

Foi em cima desses pés tortos que eu cheguei até aqui. Não é tão longe, eu sei. E o caminho também não acabou. Tem uma curva alí na frente, não sei o que vem depois... Talvez seja o Fantástico Reino das Botas Ortopédicas Brancas. Talvez eu reencontre minha antiga bota. Casada. Com um par de botinhas. Morando em uma caixa de sapatos com dois andares.

E eu sei que vai estar tudo bem.
Desde que eu pare ofegante, suando e sorrindo.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Lightning Song - Rainhas da Idade da Pedra.

Eu continuo igual.
Pato fu ainda é trilha sonora da minha vida. Junto com Queens of Stone Age, Radiohead, Beatles e Smashing Punpkins.
Woody Allen ainda não me convenceu. Ao contrário do Sean peen, Wes Anderson, Guy Ritchie
e Steven Soderbergh.
O Lula segue sem ser o meu Presidente da Republica.
E eu ainda não suporto quem não sabe perder. Talvez precise me acostumar com o fato do mundo só gostar de vencedores...
Mas tudo bem. Acho que dessa vez minhas mudanças vão ser mais definitivas. Ou talvez eu só queira isso. Talvez seja algo que eu fantasie. Algo não real.
É normal temer o "mudar" né ?
Você encontra um cantinho quente e confortável nesse mundo. E se senta. Esperando ansiosamente que absolutamente nada aconteça. Que você possa ficar alí sentado. Imerso em paz (mesmo que a tua paz seja uma rave).
Mas infelizmente isso não dura pra sempre. Ou felizmente né ?

"- Qual é a primeira coisa que você faz quando fica gripado ?"
"- Sei lá. Eu tomo alguns remédios... eu acho !"
"- Você mata a gripe né ?"
"- É... Eu acho que sim !"
"- Entendi !"
"- Querias que eu fizesse O QUE ?"
"- Eu ? Eu não quero nada. A gripe que provavelmente não queria morrer né ? Mas fica tranquilo... O ser humano faz isso mesmo. Ele mata as coisas."
"- É só uma GRIPE ..."
"- É só uma analogia ..."
"- aaaaaaaaaaaaatchim... "
"- Saúde gripe."
"- Vai te fuder.... - indo embora."
"- Assassino !"

Pro pequeno príncipe, o essencial é invisivel aos olhos. E eu concordo.
Tantas vezes por dia eu me vejo pensando em coisas ligadas ao comercial. Prazo. Orçamento. Investimento. Novos prospects. Negociação. Cobrança. Novos mercados. Novos serviços. Pra no final, fechando ou não. Cobrando ou não. Conseguindo ou não. O silêncio alcançar e preencher as lacunas do meu já baleado subconsciente. Pra eu perceber que tudo que deu certo podia muito bem ter dado errado. E que tudo que deu errado podia muito bem ter dado certo. E seria exatamente igual.
A sorte é minha amiga. Eu tenho o celular dela e ligo de vez em quando. A gente se conheceu em uma festa. Depois descobrimos que temos amigos em comum. Mostrei um filme que gosto. Ela mostrou um que ela gosta. Conversamos no MSN as vezes. A sorte é cheia de brincadeiras sem graça. Mas no final ela é alguém legal.
Posso dizer que a sorte sempre tem "uma carta na manga".
Que sempre acerta o 20 no D20. Que guarda o copas pra trucar em cima do espada. Que não tropeça. Não quebra copos ou deixa garrafas cairem no chão. Não pega chuva em finais de semana de praia. Que não fica sem bateria no celular. Nunca...

Não sei como terminar esse texto. Na verdade, acho que não sabia como começa-lo.
Acho que aqui no final é o começo. E você leu ele ao contrário.

Oi, tudo bem ? : )