quinta-feira, 26 de março de 2009

A Maria disse que eu não sou de nada... Que sou só de marmelada...

Nasci em 1982. Sempre achei os anos 80 uma boa época pra alguém nascer.
Cresci entre os melhores desenhos que a televisão brasileira já passou (Caverna do Dragão, Transformers, Super Mouse, Homem-Aranha e seu Incríveis Amigos e Ursinhos Gami) e brinquedos e jogos que marcaram até os dias atuais. Eu, pelo menos, ainda adoro jogar Imagem e Ação, Banco Imobiliário, Detetive e WAR. A diferença é que hoje a gente não toma mais Todinho de Caramelo e come Charge enquanto joga.
Outra coisa incrível é encontrar algum bonequinho da antiga coleção dos Comandos em Ação do meu irmão mais velho. Nossa, ele tinha todos os bonecos possiveis, aviões, carrinhos, e bugigangas que eram distribuidas pela Estrela... Na época em que o Shopping H não existia. No lugar dele era a Lojas Hering, com quatro andares de departamentos e a lanchonete que vendia a melhor banana split da Galáxia Conhecida.
Eu lembro de brincar de Lango-lango com meus primos. De ter um relógio do Jaspion. De dirigir loucamente meu Maximus pelas ruas de Blumenau. De quebrar a cabeça jogando Genius. De ficar puto com o choque que fazia "péééééééééé" quando errava jogando Operação. De tomar refrigerantes bizarríssimos e comer chocolates em forma de cigarros da PAM. Nossa, isso jamais seria vendido hoje em dia...
Eu lembro de assistir E.T. em VHS. De ver o Sérgio Malandro magro e menos drogado descendo de paraquedas no estúdio do show da Xuxa (meus pais não me deixavam ver Xuxa sempre...). Lembro do Zacarías e do Mussum em camera lenta gargalhando...
Do cheiro daquela época.
De como todos membros da minha família tinham cortes de cabelo incrivelmente mais feios.
Dos óculos Ray-Ban do meu velho. Das roupas super engraçadas da minha mãe. Dos meus dois irmãos que moravam em casa comigo, ainda crianças correndo.
Eu lembro de não poder fazer tudo que queria. De ter que dizer aonde eu ia, com quem, porque, e ouvir no final que era melhor eu ficar em casa. E realmente TER que ficar.
Alguns dos meus amigos estavam lá. Lembro deles no colégio. Pequenos, franzinos e ainda com cheiro de fralda. Lembro dos pais deles. Das festas de São João do Bella Vista. Das brincadeiras sem graça e das gírias incrivelmente boas que usávamos na época.
Lembro de cair de BMX. De usar tennis Puma. De ter uma lancheira do Super-Homem e um penal de ferro do Changeman. Era a época das escovas de dente elétricas. De Monty Phyton. De efeitos especiais muito safados. Do bigode do Sarney e das convicções de Ulysses Guimarães.
Eu lembro perfeitamente, como se tivesse acontecido hoje, do dia em que acordei de madrugada. Ainda era noite. E eu fui ao banheiro. Empurrei a porta e tentei acender a luz.
Eu não alcancei o interruptor. Lembro de ficar na ponta dos meus pés. De fazer um esforço gigantesco. E de não conseguir acender a luz. Aí eu fui até o quarto da minha mãe e sacudi o ombro dela "muito delicamente". Ela e meu pai acordaram achando que havia acontecido alguma coisa.
"- O que foi meu filho ?"
"- Mãe.... acende a luz do banheiro pra mim ?"
Ela sorriu. Fechou os olhos como quem dissesse "Meu Deus ! Achei que ele tivesse posto fogo na cama dos irmãos... de novo" E se levantou pra me ajudar a vencer mais aquele Monstro.
Eu e minha mãe matamos o Terrível Monstro do Banheiro. Ela me ensinou o antigo conhecimento "Caminha Borba" para acender a luz sem que precisasse acorda-la de novo. Conhecimento esse que é passado através das gerações. Anos depois eu compreendi, a essa altura ela queria que eu me virasse cada vez mais sozinho. E principalmente não a acordasse mais de madrugada a não ser que eu tivesse com problemas pra apagar o fogo que coloquei nas camas dos meus irmãos. Meus pais, nos ensinaram a voar. É por isso que quando eu penso em filhos hoje, não consigo deixar de querer vestir meu guri como super herói pelo máximo de tempo possivel. Quero sair com ele vestido de todas as fantasias possiveis (De Batman a Wolverine, com garrinhas...).

Eu lembro de uma menina chamada Letícia. Que estudava comigo na pré-escola. Nunca tive muita certeza, afinal nem nos falávamos. Mas acho que segunda ela, nós namorávamos. Um dia ela terminou comigo... eu também não sei porque ! Ali eu começei a compreender o quanto complexa é a mente feminina.
Conversei com um amigo sobre o final do meu relacionamento:
"- Tu viu Jaspion ontem ?" - perguntei querendo iniciar uma conversa séria.
"- Vi ! Legal né ?" - respondeu meu amigo expressando toda sua opinião sobre o assunto.
"- Não gostei. A Leticia disse pra Vanessa que ela não gosta mais de mim..." - cheguei finalmente ao meu ponto, após uma longa explanação.
"- Vamos correr até a cantina ?" - deu ele, sua importante opinião sobre o assunto.
"- Eu não posso correr !" - lamentei eu meu limite, entrando num assunto completamente diferente.
"- Tá..." - e saiu correndo. Terminando nossa conversa.

Ele me ajudou muito naquele dia. Era um bom amigo.

Os anos 80 existiram. Eu tava lá. Na década seguinte eu começaria a pensar em ser uma espécie de Médico Super-Herói Desenhista. E também a me questionar porque todos adultos tinham empregos chatos... Porque nenhum deles pegou o emprego do Lanterna-Verde ? Ou do Batman... Como eu os achava burros por não terem escolhido profissões mais legais. Engenheiros ? Puffffft !
"- Qualquer um pode construir casas... Eu quero é te ver voando pela Rua XV !"

Hoje eu não acho mais as profissões dos adultos chatas. E adoro o que faço.
Mas um dia desses eu tava no banco sentado, esperando minha vez quando uma menina que devia ter no máximo uns 6 anos de idade me mostrou um desenho que ela fazia. Naqueles espaços infantis, onde os pais deixam os filhos. Enquanto precisam fazer suas coisas chatas. Era ela, sua mãe (que estava voando) e seu pai (que media aproximadamente 10 metros de altura).

Pensei comigo:
"- Um dia vai ser minha vez de ensinar meus filhos a voar..."

2 comentários:

  1. Lê...Que viagem ao túnel do tempo incrível...terminei de ler pedindo bis! Parece que senti, num piscar de olhos, aquela sensação aconchegante e confortante que o passado nos traz. Falar que "naquele tempo éramos felizes" seria óbvio demais...prefiro dizer:"estou feliz por ter lembranças assim. Por ter o meu passado escrito de forma tão gostosa, que o meu presente se torna ainda mais prazeroso e o meu futuro mais desafiador...
    E para terminar... que tal...As festas juninas do Santo com quadrilha, o pastel fiado do recreio, sair do colégio e cruzar o túnel correndo para chegar no shopping (uau...ele era grande!!!), das festas de parzinhos dançando, dos jogos da primavera, do chá da dona Onilva, de ouvir a bandinha tocar na Rua XV aos sabados, do tempo em que passe de onibus era 0,50 centavos...Ioio da Coca-Cola, brincar de escola com os vizinhos...lembro da época que o final de semana nada mais era do que mais um dia...que chips no colégio acabava em 5 minutos (todo mundo queria 1), que as amizades eram puras e que podiamos simplesmente ser o que queriamos e como queriamos!!

    Hoje, se pudesse resgatar algo dessa época, gostaria de ter a liberdade que tinha....liberdade de pensamento, de atitude,...liberdade de sonhar e realizar, porque tudo era possível!!!

    Um beijo Lê...e obrigada pelo Flash back!!!

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