sexta-feira, 27 de maio de 2016

Não fode.

Acordei estuprado. Fui vítima da ignorância. Igual a você, sua mãe, seu irmão e sua avó. O motivo do meu medo, não é de ser estuprado de novo. Não, eu tenho mais medo de ficar igual a todo mundo. De concordar com a idéia que a culpa do estupro é da minha roupa. É do meu sexo frágil. É da minha escolha. Que a culpa é minha. A culpa não é minha. Mas pode ser de tanta gente. Que eu nem saberia por onde começar. Mentira, saberia sim. A culpa é de quem passa a mão na minha bunda. De quem chupa os dentes ao me ver passar na calçada. A culpa é de quem acha que pode me comer porque quer. A culpa é de quem ensinou para os filhos que mulher é menor que homem. A culpa é de quem já levantou a mão para a esposa, namorada, noiva, ficante ou desconhecida. A culpa é nossa. E não adianta não ver a culpa para ela não ser tua. A culpa te acha. Te droga. E te estupra enquanto tu dormes.
Amanhã, vais ter filhos da culpa.
Seu filho da puta!

quarta-feira, 25 de maio de 2016

A lembrança do nosso esquecimento será assustadora.

Era silencioso. Eu não era medroso. Mas tinha medo. Como criança assustada. Quando a noite te cala. Quando o dia não vem. E a penumbra era tudo que te restava. Onde eu havia me metido? Tanto, terror. Tanto, que agora era nada.
Ouvi o choro sofrido de um de nós.

Corri, sem caminho.
Sempre sozinho.
Até encontrar.

O mundo.
Num vaso de planta.

Esperei a semente crescer.
E fui o que sou. Aqui estou. E agora vou.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Pra ver a minha dor passar...

Foi na batida do repente imaginário, que meu mundo girou. Veio a baixo a estante. E a linha reta entortou. Bateram na minha porta de madrugada. Era a solidão de saco e mala. Tomando seu lugar a mesa de jantar. Cantando antigas cantigas esquecidas de ninar. Eu não dormi até ela chegar. E nunca mais consegui me acordar. Passou o dia e a noite veio. Só para outro sol nascer, em total silêncio. Pássaros que não cantam e não voam nos observam, a respirar. Empilhamos nossos cadáveres nas ruas, exibindo nossa ignorância mortal, pra quem passar. Somos pó no deserto do existir. Chamamos de futuro tudo aquilo que está por vir. De passado, o que se foi. E o presente não existe. O presente é a mais pura das ilusões. Uma alucinação coletiva tão profunda que nos impede de ver o mundo como ele é. Vivemos a perturbação como se fôssemos parte dela. As maiores constantes do mundo são o vento e a morte. Sempre haverá vento e morte. Todo lugar é o mesmo lugar. Todo amor é o mesmo amar. Todo viver é o mesmo existir. Neva na escuridão do mundo. Nasce mais uma criança de um amor profundo. Morre no tiro perdido outro adulto. Entre as árvores cortadas e o rios destruídos, existe aquela última tribo. Daquela gente que não conheceu outra gente e não sabe o que é ser ruim. Daquela gente que não sabe que o homem é o lobo da gente e sempre viveu assim. Longe do que fizemos. Sem tanto "tendo", "sendo", "vendo". Mais sentindo. Ouvindo. Sorrindo. E que o criador me julgue se ele puder. Porque minha alma agora é livre. E o tempo passa bem, aqui. Aprendi tanta coisa e tenho tanta gratidão por isso que não consigo encontrar palavras que pudessem me fazer dizer a maior parte do que realmente sinto. Me lembro de quando eu era pequeno e ainda caia enquanto caminhava. Um dia, ouvi meu velho pai dizendo: "precisar aprender a caminhar...".
"É o único jeito de ver a tua dor passar...".
Entendi pai, obrigado.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Introdução.

Eu fiquei confuso ao escrever sem fuso. O céu azul me corrigiu, há frio. O café é quente. Meus cigarros são pacientes. Tive uma idéia idiota. Ou talvez só queria contextualizar a palavra demente. A vida é rara, diz a NASA. A vida é tão rara, disse Lenine. Eu sofro pra lavar minhas mãos no inverno. E sinto falta do abraço materno. Me confundi desenhando na parede. Achei que era criatividade, mas foi só sede. Enquanto o dia amanhece eu vejo as barras de renders de computadores correndo frenéticas por suas telas. Já já todo esse lado do planeta vai despertar. Imagine só, todos os olhos que se abrem em perfeita sincronia. E eu imagino como Machado de Assis leria o que eu escrevo, tanta diacronia. Tanta raiva nas ruas. Da janela eu vejo a linha do horizonte. Ela tá logo ali. Escondida atrás de um monte de terra. Já vi ela. Ela tá ali. Minha xícara de porcelana branca tem padrões formados pelo que restou do café nela. Um dos desenhos parece um rosto triste. Outro olhos que choram. Eu preciso me auto examinar com rorschach, certeza que haverá algo de errado comigo. Melhor deixar assim. Ainda estou vivo. Pensei nas coisas que perdi e não consigo recuperar. Há tanto tão longe. Talvez o destino tenha me passado a perna. Talvez a vida seja mesmo assim. Talvez o futuro seja só um presente que te faz sentir saudade do passado. Mas se o presente fosse eterno, tu sentirias falta de outra coisa. Talvez essa seja a natureza humana, o que nos moveu pra fora da caverna no primeiro momento. O que te fez olhar pro fogo das árvores com mais coragem do que medo. O que te fez imaginar que serias melhor em outro lugar. Em outro momento. Que era preciso caminhar. Que o caminho nos chamava. Que ficar, não dava mais. Talvez sejamos assim e só por isso estejamos aqui. Me ocorre que seria algo muito legal se cada encarnação fosse vivida em um planeta diferente. Flutuando a partícula que é nossa essência através dos planetas que existem nesse vazio. Fecundando novas células em diferentes atmosferas e rompendo a existência em novas vidas toda vez. Nascendo. Vivendo. Morrendo. E flutuando até nascer novamente. Pode ser. Vai ver existe até um tipo de maré cósmica que guia nossa essência através dos planetas. O sopro de Deus. Aquilo que nos criou. Ou vai ver, aquilo que nos criou foi o puro acaso. Uma deformidade do que eramos pra ser. Vai ver nosso maior defeito é pensar sobre isso. E sejamos só o azar de Darwin nos impulsos genéticos simples e frios de um homem que vê uma bunda bonita swingando em movimentos astrais quando passa pela calçada. Talvez sejamos pouco. Talvez sejamos tudo. Talvez a vida tenha nos dado mais do que possamos entender para que aprendamos.
Eu por exemplo aprendi a cozinhar. Vai ver, o planeta terra é a introdução do que ainda há de vir.
Mundos e mundos de existência.
Sem intervalos.
Só merchandising.