terça-feira, 25 de novembro de 2014

Saudade é feito morte.
Não marca hora.
Ou lugar.
É vento forte.
Não tem mais tarde.
Para adiar.
Saudade é cachoeira.
Escorre se represar.
É feito a vida.
Feito amor.
Feito o mar.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Tu que passar por aqui, ouça: 



Perdi meu inferno de mim,
quando encontrei o teu.
Preferi tuas chamas.
O teu fosso.
E a tua lama.
Do que o meu 
próprio eu.
Me perdi quando
te achei.
Soube antes de ver.
Nú do que preservei.
Vestido do que me

mudei.

 



Ouvindo "The Cave Singers".

Encarando o impossível
Fez-se do utópico o real
Um sonho do imaginário
Como livro sem um final
É encarando o impossível
Que aprendeu a perder
Mas tornando-o verdade
Que se viu feito planta
Crescendo sem perceber.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Você vai me desculpar por tentar.

Vai. Eu sei que falhei. Deu errado, foi ruim, acabou mal, enfim... Mas deixa isso para lá e vai... Esquece da hora da tristeza. Daquele jantar sem mesa. Dos olhos em pranto. Dessa música sem canto. E do sofrimento tanto. Se rende, eu te peço. Joga fora todo esse imbróglio. Vira a página desse livro ágrafo.
Ou recomeça em um novo parágrafo.

Com outra fonte se preferires. 
Do jeito que achares menos pior. Nem te peço que retornes aos meus braços. Que consigas me beijar de novo nos lábios. Que tenhamos casa, cachorro e preguiça nos domingos. Não precisas disso. Tu sempre fostes a luz do dia, antes do sol. Os acordes das minhas noites em bemol. O diapasão das nossas notas musicais. A linha central do nosso rabisco inicial. O que jogava na cara dos outros casais o desdenho. Aquele não se importar tão bonito de se ver. Dificil de achar. Tão simples em sentir.
Tá tudo bem. Eu entendi. A gente cresce mesmo é sem se ver. Tipo a graça que te invade a alma e te faz rir. Quase que sem querer. Como suor a verter. Como o amor, o mar e o dor. Que não pedem, só vem.
Mas não pense que isso é uma carta a um amor perdido.
Nem a uma amizade atropelada.
Muito menos a um distante sentimento desatinado.


Não.

Eu falo é com a vida.

Com os dias que tem noites mais do que compridas.
Com a nossa existência labiríntica sem saída.
De dores sofridas.
E lágrimas escorridas.

Eu falo é com os amores todos, de uma só vez.
Com o amigos de taças de vinho das 20h as 6h.

Com os sentimentos mais insanos que escondemos por todo tempo.

E digo, me perdoem por tentar. Fiz meu melhor em tudo.
Fiz do meu melhor o meu mundo.
E não sem pesar lhes abandono.

Abrupto, assim, do jeito que vim.
Levando apenas o que traz a alma na chegada ao ventre.

O amor do coração e a paz da mente.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

É como escrever sem inspiração.

Ouça: https://www.youtube.com/watch?v=I6JMzb3w_s0

Em um mundo cheio de deixa para lá. Sinto o formigamento da alma. As palavras não dizem o que pretendo. E olha que tento. Mas é difícil velejar sem vento. Não impossível. Até porque impossível é só um pensamento. E todo mundo sabe que pensamento vai e vem. Todo mundo menos o próprio pensamento. Pensamento é sonho acordado. Não se escolhe. É como final da vida, só quem sabe é quem morre. Todos os outros ficam esperando o depois. O depois que vem, sabe-se lá quando. Lá fora faz sol, mas podia estar chovendo. Não discuto o tempo. O tempo discute comigo. Mas somos amigos. Fujo para longe de mim, sem me mover. Me escondo atrás de outro eu e fico ali. Lendo um livro silencioso e fumando um gentil cigarro. E quando espio por cima da pedra vejo um pouco do eu que não queria ver. Mas como eu disse: é o tempo que discute comigo.
Lá fora é quintal. Plantam flores e eu piso na grama. Ouço uma ave que nos chama. Prefiro ficar aqui. Escolho não fazer, mas deixar isso para lá é uma arte que poucos conhecem. Fujo do dia em que a noite não vem.
Corro a favor do sol enquanto a lua vem chamar.
Seres humanos vazam.
Escorrem tanto vida quanto água.
Meu suor.
E as nossas lágrimas.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Eu me afoguei na história de mim.

Suei muito na vida. Chorei. Cuspi. Vomitei. Fiz xixi. Sangrei. Perdi cabelos, pele, unhas e dentes.
A vida não foi gentil. E nem é! A verdade é que o céu não tem o dom de ceder. O tempo não sabe voltar, só ir em direção ao desconhecido. O tempo não tem tempo a perder. Viver é ser sozinho. Somos solitários que se acompanham enquanto dividem um ninho. Nascemos com data para o que o divórcio da vida e do corpo aconteça. Só não a conhecemos. E nem gostamos de falar dela. Porque para a nossa ignorância morrer é o fim de tudo. Não só da vida. Mas também do mar, do vento e do mundo.
Se tudo precisa de um fim, que pelo menos esse texto seja eterno.

Eu me recuso a lhe dar um ponto final

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Pensei que ia me esquecer, mas acabei me lembrando. E entendi que não acabei.

Para céus azuis
asas no pé.
Nos caminhos,
passo de fé.
Dos outonos,
as primaveras.
Do que fomos
o que eras.
A eras: sendo

o que seremos.
Como moinho para o vento.
Noite pro relento.
Relógio pro tempo.
Estante pro momento.
Da lembrança ao esquecimento.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Sobre do que se deve levar da vida.

Leve da vida. O leve de levar. O cheiro da noite e o som do mar. O sol no teu olho. A música daquele dia. O sorriso do lábio e o frio que fazia. O trejeito gentil. A lágrima que caiu. A palavra bonita e a foto da cachoeira. O leve da vida de tão leve que é, nem se carrega. Flutua. Vem junto para onde fores. Como tuas unhas e teus amores. É leve de ter. De reviver. De recordar. O leve da vida é sem pesar. Sem chorar. Sem doer. Um leve transparente que guardamos sozinhos. Tão no fundo. Tão escondido. Que ele se solda ao que somos. E nos desperta sem acordar. Nos muda sem falar. Completando a vida. Como uma paisagem faz com o olhar. Enchendo nossos corações com asas que não conseguem voar. Que nos dizem que a vida está ali e lá. Longe e perto do errado e do certo. Em cima do embaixo. No esquerdo do direito. Para todo ser vivo, moça e sujeito. Sem nunca negar que é um leve difícil de achar. Principalmente em um mundo onde tudo pesa. Onde muito lesa. Onde tantos deixam. Alguns de pé e outros que deitam. Para no fim, não existir final. Não existir nada além do que existirá. Nada além do leve momento. Do cheiro da brisa. E do gosto do vento.



"Primeiro há que saber sofrer. 
Depois amar. Depois partir. 
Por fim andar sem pensamento." 
(Laranjeira em flor - Virgilio Expósito)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Existir e desistir.

O mundo é um lugar escuro, que insiste em não ser abismo, flertando com o sol.
O mundo é um lugar vazio, que insiste em ser vivo, como rio que escoa no mar.
O mundo é um lugar imoto, que insiste em girar, até o tudo ter fim.

- Mundo não sei para onde vais, mas serei em ti.