sexta-feira, 13 de março de 2009

Ouvindo Glycerine - Bush.

Refluxo mental.
Meu cérebro está com azia. Tudo queima. Péssimo dia pra não se ter certeza de qual é o sentido da vida.
O caminho é o sentido. É uma boa resposta.
Mas normalmente só me convence quando estou bem. Eu precisava arranjar um argumento pra quando estou mal. Pra quando a tempestade no copo alcança minha embarcação. Pra quando a Rapunzel não joga as tranças. Pra quando... você entendeu !!!
Pé na areia e eu sinto ele queimar. O sol me manda um flair na cara. Fecho os olhos pra não ficar cego. Fecho os olhos e penso que fechar os olhos é me cegar...
Maldito Saramago e seus ensaios perturbadores.

As fotos falam comigo.
Isso pode parecer mentira, mas não é. Eu digo que se você não sabe o que aconteceu antes ou depois de uma foto, ela não é completa. A imagem é um registro da imagem. Um abraço apaixonado, um beijo carinhoso dos seus pais ou um dia extremamente divertido e engraçado ao lado dos seus amigos.
Pra onde essas pessoas foram ? Não importa vai...
Nada mata um momento. Momentos são entidades cheias de vida. Que se escondem entre as colunas da nossa memória. Alguns ficam em cantos mais escuros, outros não desistem de ficar abaixo das lâmpadas da lembrança.
Então, sempre que vejo uma foto da qual me lembre. Da qual eu saiba o que aconteceu antes ou depois do "click". Eu ouço ela falar:
"- Lembra Lêêê ? Desse sítio em Ibirama ?"
"- Aquela festa foi animal não foi ???"
"- Fiquei muito feliz com o teu presente filho, obrigada..."

Fotos falam, definitivamente. Você só precisa saber/querer escutar.

Soco em ponta de faca. Corto meu punho. O sangue espirra contra a parede.
Eu admiro quem não desiste. Sério. Quem segue em frente, pisando em brasas e espinhos e sorrindo pro mundo...
Como aquela história do beija-flor.
A floresta toda pegou fogo e todos animais corriam pra longe com medo.
Na meio do desespero o leão percebeu que um beija-flor ia até uma poça de água, enchia o bico e soltava sobre as labaredas. Inutilmente.
O leão correu até o pássaro e gritou:
"- Beija-flooor, o que tais fazendo ??? Não tá adiantando nada !!! Corre enquanto ainda podes..."
O beija-flor parou no ar, sacudindo suas asas freneticamente e respondeu:
"- Estou fazendo o que posso. Se cada um fizesse sua parte, o fogo seria apagado."

Na história verdadeira todos os animais voltam e apagam o fogo. E o mundo é um lugar lindo.

Pra mim o beija-flor morre sozinho.
Sufucado pela fumaça e pela própria convicção de que está certo.
Todos animais morrem muitos anos mais tarde. Com suas famílias, uns 20 quilos mais gordos. Decorando o nome dos netos e lembrando de como era bom ser jovem.
O beija-flor não pode envelhecer. Ele jamais aguentaria perder sua capacidade de vôo.
Preferiu fazer sua parte e partir em paz.

Pra quem achou esse texto triste. Eu não tenho muito a dizer.
Nunca tenho, na verdade.
Meu silêncio conversa sim. As fotos falam. E meus olhos estão se mudando pra fora do país em Julho.
Mas tudo bem.

Eu estou feliz ! : )

"Lembro que em algum momento o Lindolf Bell entrou na minha vida, mas de uma forma esparsa. Não chegamos a ser grandes amigos, mas houve momentos que me marcaram. Houve, por exemplo, um dia em que estive na Galeria Açu-Açu, no tempo em que ela ficava na Rua Namy Deeke, e ele me chamou para olhar por uma janela que ele tinha feito, e que era muito bonita, e me disse que quando sonhávamos ou desejávamos alguma coisa na vida, tínhamos que seguir. E quando vivíamos numa cidade pequena como a nossa, e seguíamos o próprio sonho, no primeiro momento seríamos condenados, mas se persistirmos no sonho, adquirimos o respeito da comunidade. E é bem isso!"

(Urda Alice Klueger em entrevista ao Sarau Eletrônico)



1 comentário:

  1. Le...
    ontem ouvi essa história do beija-flor, não conhecia e lendo seu texto deparo-me com as mesmas palavras... reflexão dupla...!!! E o complemento com o texto da Urda...perfeito. Acho que deveríamos ser assim, mas somos apenas em alguns(poucos)momentos...

    beijos

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