terça-feira, 28 de abril de 2020

E A PRÓXIMA PANDEMIA?

Vai ver, que o planeta terra não é um lugar tão parecido com os programas de televisão assim... É lindo, não existe dúvida. Mas de certa forma é diferente desse subconsciente
coletivo que imagina uma "mãe natureza". Só porque a mãe de tudo que foi parido até hoje E NÓS CONHECEMOS, está viva ou um dia viveu nesse grão de areia que flutua pelo espaço.
Se a terra for uma mãe, é uma daquelas bem malucas. Meio surtada, mas que tem razão em surtar sabe? Sabe aquela mãe que pega 6 conduções para fazer o trabalho que ninguém quer por 10 horas por dia pra aturar um chefe escroto? E fez isso por umas 5 décadas que parecem ser 5 bilhões de anos. Então, essa é a "mãe terra". 
E ela tá de saco cheio, mas quem não estaria!?
A gente nunca limpa nada. Pelo contrário, a gente suja cada vez mais e mais. Quando ela cultiva alguma coisa, e a gente descobre que aquilo é gostoso, cheiroso ou faz bem a saúde, nós consumimos mais rápido do que ela pode plantar todas as vezes... Ou quando ela inventa de cozinhar algo gostoso e ter um dia agradável com todo mundo, a gente fica cutucando os amiguinhos, cuspimos no prato, fazemos birra sobre ela não ter cozinhado carne, reclamamos da temperatura e ainda fazemos xixi na frente das visitas. No chão mesmo, que a gente é bem nojento... Se a natureza fosse uma mãe, ela ia ser uma mãe bem pistola!

Eu não vou assumir essa persona da "mãe natureza", o meio ambiente é nossa mãe tanto quanto é o nosso coveiro:

Tu nasce do sistema. 
E esse mesmo sistema consome o teu cadáver.

Basta uma gripe diferente. Para esse jeito que a gente se acostumou a viver desmoronar. E o pior nem é isso, de verdade!! O pior é a forma como a gente recebe essa novidade. Pensando só nos próprios umbigos. Eu sinceramente não me espantaria se agora diante da VACINA PARA O COVID-19, alguns de nós dissessem coisas parecidas com:
"- O país X pode comercializar a vacina sim! Ele inventou ela, é de propriedade dele... Foi patenteado!"
Tu não estás cobrando pela cura, tu estás cobrando pela ausência da morte.
E acredita em mim, vai ter muita gente que não vai poder pagar. E só vai receber a vacina porque o governo fez política e o "Fulano de tal" que é presidente, imperador do lado negro da força, Rei, reencarnação de Buda ou Faraó, COMPROU NÃO SEI QUANTOS LOTES e vai salva-los. A partir de dezembro do próximo ano, porque demora pra chegar... Se a China conseguir entregar, claro.
Há algo de errado com essa forma de pensar. 
Em algum momento da nossa criação nós não aprendemos a lição de ajudar o próximo sempre que possível. Houve algum tipo de ensinamento perdido no caminho, a gente só pensa no nosso benefício. No que é bom para os meus. Na minha playlist, no meu perfil, na minha comida. Na minha vida.

Alguém escreveu um dia:
"Quem pensamos ser?
Que ousamos amar 

o que pode morrer..."

Não, eu não to propondo uma sociedade alternativa "Raul Seixas", cheia de duendes e unicórnios, com todo mundo cantando de mãos dadas e pés descalços... Nada disso.
Vou tentar por outro caminho: existe uma técnica Zen concebida pelo Mestre Hongzhi que trata a meditação como "apenas sentar". "Apenas sentar" significa meditar sem pretensão. Sem a expectativa de achar calma ou iluminação. Sem a necessidade de "se melhorar". Sem desejo, sem vontade, em busca de absolutamente nada. "Apenas sentar" buscar achar uma única realidade: o presente. Ele descreve a sensação de "apenas sentar" como um desfile das suas sensações, sentimentos e pensamentos. Em que podemos assisti-los ir e vir. O Mestre Hongzhi inclusive pontua que "o vento nos pinheiros e o reflexo da lua na água estão satisfeitos com a sua condição existencial, por isso nunca se perturbam...".

Não importa a sua orientação, a vida precisa ser mais importante. Toda ela. Saibamos disso e que possamos lançar esse olhar para dentro de nós mesmos. O dom da vida precisa ser maior do que todo o resto. E apoiar a vida além da nossa própria, é uma lição muito valiosa. Que nos permite encontrar o momento presente desse planeta. Que nos permite enxergar os dias além da nossa morte e o que deixaremos para trás.

Haverão outras pandemias, todos sabemos.
Mas pense a respeito: haverá mais vida?
Deveria...

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Platão digital e a caverna Corona.

O dicionário define a palavra "PERCEBER" como "tomar consciência de" ou "compreender". E já faz algum tempo que a gente decidiu que temos o direito de "perceber" o mundo de forma individual. Eu sou a favor dessa ideia, de verdade. Acho importante que cada um de nós tenha a possibilidade de exercer a própria soberania intelectual sobre as ondas que vem do mundo externo para o dentro de si.
Em "A caverna" Platão viaja na ideia de como alguns homens vivem cativos dentro de cavernas. E ali, "aprisionados" dentro de suas cavernas (que podem ser suas próprias mentes) esses homens vibram, choram e se refastelam com um show de projeções de sombras vindo da junção da caverna com o mundo exterior. Vou dizer isso melhor: as projeções são controladas por outros homens, as vezes elas não são controladas por ninguém... Pode ser um animal que cruza a boca da caverna durante o dia e projeta a sua sombra para dentro, sem nem querer. Ou alguém que propositalmente passa no mesmo local com a intenção de gerar a sombra para aqueles que estão lá dentro aprisionados. De uma forma ou de outra, os que vivem cativos no seu interior assistem a projeção. É o que eles fazem. Na história de Platão, um dos cativos é liberto e forçado a deixar a caverna e tem dificuldade em compreender o mundo externo. Ele se recorda dos seus companheiros de cativeiro e retorna para alerta-los, para liberta-los da prisão. Mas aqueles que vivem dentro dos limites da pedra zombam dele e terminam por mata-lo. 
Trágico. 
Ainda mais para um livro que foi escrito em algum momento a mais ou menos 2.400 anos atrás. E o pensamento humano ainda passa pela mesma mecânica. 
Por esses dias, o ministro da Saúde afirmou que espera que a ciência crie nos próximos meses, anos, uma solução mais elegante do que a quarentena para o Coronavírus. Que a solução que temos hoje de nos isolarmos e de usarmos pedaços de papel e pano para tapar as nossas vias respiratórias é bem rudimentar. E se tu pensar bem sobre isso, provavelmente vais entender: a gente criou energia elétrica, aprendeu a retirar órgãos de dentro de uns e colocar dentro de outros para deixar mais gente viva, viajamos até a lua dentro de uma dispositivo feito de metal e plástico, criamos uma rede digital que conecta praticamente todo globo por onde trocamos experiências, vendemos produtos e serviços, nos comunicamos como nunca antes... Mas diante de uma cepa de uma antiga doença o que podemos fazer? Nos entocarmos e taparmos nossas vias respiratórias como animais? É bem por aí... Nada do que a gente fez até aqui resolveu esse problema de imediato. Muito do que a gente fez até aqui como coletivo humano vai ajudar. Neste momento vários centros ao redor do planeta trabalham usando todos os seus recursos para que uma cura seja encontrada. E provavelmente será. Até lá, nós precisamos fugir. Porque existe algo nessa "floresta" capaz de matar muitos do nosso bando. 
O Homo Sapiens Sapiens é tido como uma espécie no topo da cadeia evolutiva. Inclusive, "Homo Sapiens" significa literalmente "homem que sabe...". A versão "Sapiens Sapiens" é tipo "o homem sabichão". Mas nem tanto... Aqui de dentro da minha caverna, eu tenho trabalhado, feito reuniões pela internet, conversado com a minha família, amigos e clientes. Tenho me nutrido, tentado me manter saudável, lido e assistido a filmes (que é uma das criações do Sapiens Sapiens que mais me fascina). Mas bem no fundo, o que eu e o mundo inteiro estamos fazendo é esperar. Esperar que os homens mais sabichões entre todos nós sabichões possam indicar uma saída.
Uma saída.
Uma forma de sairmos de novo da caverna.
E tomara que o mundo não seja o mesmo quando a gente sair. Tomara que o sol arda diferente na nossa pele e olhos. Tomara que a gente se olhe de outra maneira. Que a gente se trate de outra forma.
Platão escreveu em 380/385 AC: "Não são os olhos que veem, mas sim o que nós vemos através dos olhos..." 
Platão era sapiens sapiens. 
Vai ser legal se em algum ponto da jornada humana, todos possamos finalmente pensar nas palavras que ele deixou para trás...

quarta-feira, 1 de abril de 2020

COVID-19 e a lista de schindler.

Se você já viu o filme "A lista de Schindler" eu vou precisar de um pouco da tua paciência.
Se você não viu, você deveria ler isso e assistir o filme:

No filme, Oskar Schindler busca de várias formas diferentes usar da sua influência política e econômica para retirar judeus dos campos de concentração e emprega-los em sua fábrica. 
Em um dos momentos finais do filme, com o fim da guerra declarado, Schindler foge com a esposa na presença de todos que salvou. 1.100 pessoas, se não me falha a memória. Mas antes de partir, ele tem uma epifania:
"- Eu poderia ter salvo mais pessoas..." - ele diz.
"- O Senhor salvou 1.100 pessoas, gerações nascerão por sua causa..." - lhe responde Itzhak Stern, seu contador.
"- Esse carro vale pelo menos dez pessoas..." - continua - "... esse broche de ouro vale duas, eles me dariam no mínimo uma pessoa por esse broche...".

O personagem Oskar Schindler foi bastante questionado por historiadores alguns anos depois. Sobre a sua benevolência e sobre a suposta caridade que cometeu (ou não). Eu continuo gostando do filme mesmo diante de todas as novas vertentes que a história moderna nos trouxe.
Porque considero o longa um convite a reflexão. Um convite feito em 1993 e vencedor do Oscar de melhor filme de 1994. Mas que estranhamente nunca deixou de ser atual, e inclusive consegue se tornar até mais atual do que já foi...

"A lista de Schindler" sussurra aos olhos de quem a assiste que a vida é rara. O filme nos conta como cada ser humano é incrível dentro das suas próprias características e anseios. E que cada vida tem o direito de existir da sua forma sem nunca dar fim a nenhuma outra vida.
Não existe "escolha de Sofia" entre a vida e qualquer outra alternativa. Nem haveria como existir.

São tempos perturbadores esses que vivemos. Alguns especialistas dizem que essa é a maior crise desta geração. Ao redor do mundo os números crescem e poucos parecem perceber que bastou a natureza bater a nossa porta com seus tentáculos invisíveis e dizer:
"- Oi sumidos, lembram de mim?"
Para que absolutamente todo nosso modo de vida tivesse que ser repensado globalmente. E ainda assim, enquanto fazemos isso, contamos as semanas e os dias que levam para poderemos retomar o nosso velho jeito de existir. Esperando que em breve tudo isso seja só uma lembrança no passado...

Eu me vejo encarando a janela enquanto a noite puxa seu manto sobre o dia, pensando que o ser humano é uma criatura complexa.
Para alguns de nós, podemos valer a guerra entre as nações causando desolação e morte para centenas de milhares. Para outros o nosso valor é um simples broche de lapela.
A resposta aparentemente depende de quem pergunta e do índice Dow Jones do dia em que perguntou...