quarta-feira, 8 de abril de 2020

Platão digital e a caverna Corona.

O dicionário define a palavra "PERCEBER" como "tomar consciência de" ou "compreender". E já faz algum tempo que a gente decidiu que temos o direito de "perceber" o mundo de forma individual. Eu sou a favor dessa ideia, de verdade. Acho importante que cada um de nós tenha a possibilidade de exercer a própria soberania intelectual sobre as ondas que vem do mundo externo para o dentro de si.
Em "A caverna" Platão viaja na ideia de como alguns homens vivem cativos dentro de cavernas. E ali, "aprisionados" dentro de suas cavernas (que podem ser suas próprias mentes) esses homens vibram, choram e se refastelam com um show de projeções de sombras vindo da junção da caverna com o mundo exterior. Vou dizer isso melhor: as projeções são controladas por outros homens, as vezes elas não são controladas por ninguém... Pode ser um animal que cruza a boca da caverna durante o dia e projeta a sua sombra para dentro, sem nem querer. Ou alguém que propositalmente passa no mesmo local com a intenção de gerar a sombra para aqueles que estão lá dentro aprisionados. De uma forma ou de outra, os que vivem cativos no seu interior assistem a projeção. É o que eles fazem. Na história de Platão, um dos cativos é liberto e forçado a deixar a caverna e tem dificuldade em compreender o mundo externo. Ele se recorda dos seus companheiros de cativeiro e retorna para alerta-los, para liberta-los da prisão. Mas aqueles que vivem dentro dos limites da pedra zombam dele e terminam por mata-lo. 
Trágico. 
Ainda mais para um livro que foi escrito em algum momento a mais ou menos 2.400 anos atrás. E o pensamento humano ainda passa pela mesma mecânica. 
Por esses dias, o ministro da Saúde afirmou que espera que a ciência crie nos próximos meses, anos, uma solução mais elegante do que a quarentena para o Coronavírus. Que a solução que temos hoje de nos isolarmos e de usarmos pedaços de papel e pano para tapar as nossas vias respiratórias é bem rudimentar. E se tu pensar bem sobre isso, provavelmente vais entender: a gente criou energia elétrica, aprendeu a retirar órgãos de dentro de uns e colocar dentro de outros para deixar mais gente viva, viajamos até a lua dentro de uma dispositivo feito de metal e plástico, criamos uma rede digital que conecta praticamente todo globo por onde trocamos experiências, vendemos produtos e serviços, nos comunicamos como nunca antes... Mas diante de uma cepa de uma antiga doença o que podemos fazer? Nos entocarmos e taparmos nossas vias respiratórias como animais? É bem por aí... Nada do que a gente fez até aqui resolveu esse problema de imediato. Muito do que a gente fez até aqui como coletivo humano vai ajudar. Neste momento vários centros ao redor do planeta trabalham usando todos os seus recursos para que uma cura seja encontrada. E provavelmente será. Até lá, nós precisamos fugir. Porque existe algo nessa "floresta" capaz de matar muitos do nosso bando. 
O Homo Sapiens Sapiens é tido como uma espécie no topo da cadeia evolutiva. Inclusive, "Homo Sapiens" significa literalmente "homem que sabe...". A versão "Sapiens Sapiens" é tipo "o homem sabichão". Mas nem tanto... Aqui de dentro da minha caverna, eu tenho trabalhado, feito reuniões pela internet, conversado com a minha família, amigos e clientes. Tenho me nutrido, tentado me manter saudável, lido e assistido a filmes (que é uma das criações do Sapiens Sapiens que mais me fascina). Mas bem no fundo, o que eu e o mundo inteiro estamos fazendo é esperar. Esperar que os homens mais sabichões entre todos nós sabichões possam indicar uma saída.
Uma saída.
Uma forma de sairmos de novo da caverna.
E tomara que o mundo não seja o mesmo quando a gente sair. Tomara que o sol arda diferente na nossa pele e olhos. Tomara que a gente se olhe de outra maneira. Que a gente se trate de outra forma.
Platão escreveu em 380/385 AC: "Não são os olhos que veem, mas sim o que nós vemos através dos olhos..." 
Platão era sapiens sapiens. 
Vai ser legal se em algum ponto da jornada humana, todos possamos finalmente pensar nas palavras que ele deixou para trás...

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