segunda-feira, 28 de março de 2016

Não é?

Vai ver
morrer é
Nadar
sem dar pé
Tentar
só na fé
Desistir 
do "se quer"
Para aprender:
Que vida e morte

são um só.
 

Tudo, é.
 
 
 

sábado, 12 de março de 2016

Dizem por aí...

Me disseram
que um é tolo.
E a outra é safada.
Que a vida é boa
e pra morte não se leva nada.
Nos convenceram a sentar 
na escola.
Nos carros.
E nos escritórios.
Nos ensinaram a ser igual.

Educados. Limpos. Simplórios.
Faça silêncio, sinal da cruz
caminhe reto.
Veja a luz!
Sei lá, 

não vejo nada...
Viver pra morrer.
Não é pra mim.
Mas ouvi dizer:
"-É sim!"

segunda-feira, 7 de março de 2016

A gente cansou de ser brasileiro.

Quase todo mundo conhece aquela sensação de acordar cansado. Sabe? De abrir os olhos em um dia quente, daqueles que nem precisam existir. Pois é. Hoje não é esse meu dia. Mas já os vivi e provavelmente viverei de novo. Ainda assim hoje de manhã, enquanto tomava uma xícara de café e ouvia as notícias da televisão, eu percebi: o Brasil está cheio de pessoas cansadas.
Não aguentamos mais aqueles que torcem para a esquerda, aqueles que torcem pela direita, aqueles que torcem pelo Evangelho, aqueles que são "Bolsoloucos", aqueles que querem tudo e aqueles que não querem nada.
Fomos divididos em times de futebol, em SP e RJ, em Nordeste pobre e lindo e Sul rico e vilão. Fomos separados em identidades que não identificam nada além do bairro de onde viemos.
E enquanto lá no palácio no centro do país, os engravatados e elegantíssimas representantes do povo cheiram cocaína, comem caviar e abrem champagnes rindo da nossa dor, ficamos aqui batendo boca. Feito gente louca que discute com a parede sobre ser ou não Napoleão.  Acho que eu preciso pedir desculpas pelo meu tom. Mas é que preciso saber: batemos boca por quem? É o dinheiro que fala tão alto? O amor a opinião política que independente da orientação visivelmente não deu certo na administração desse país. O que tá faltando? Falta vontade? Falta identidade? Falta vergonha na nossa cara? Tudo isso e ainda mais?

Eu sei que eu to cansado. Nunca concordei com o "ter orgulho" do brasileiro sobre futebol, samba, cachaça e bunda. De verdade. Mas é que ultimamente, tem sido pior. Ultimamente, uns querem mudar o seis pela meia dúzia e outros insistem em dizer que esse carro "capotante" é a melhor coisa que já nos aconteceu "nessa viagem". Não. Não é. Fim desse argumento.
Eu acho que tenho um pouco de medo do amanhã. De não concordar com nada do pouco que eu já concordo. De ver nossas ruas todas quebradas, nossa economia falida, nossos Joãos e Marias de rostos desolados e achar isso normal. Achar que "isso é Brasil". Não é possível. Eu nasci nessa terra como tantos outros. Vivi aqui toda minha vida. E deveria ter orgulho do que somos e temos. Mas não tem mais como. Esse país que levou nome de madeira de fogo. De brasa! Que é tão imenso e tão cheio de gente de verdade. De vontade. De sangue que ferve. De independência ou morte.
Esse país que podia ser tanto.
Mas que fica sentado sobre seus tesouros chorando ossos.
Usando grilhões de ferro pesado.
Feito touro castrado.

Feito escravo cansado.
Feito homem enganado.

Era pra ser diferente. Pra ser um país grande, com problemas sim como tantos outros, mas ainda assim grande de tantos jeitos diferentes.
Não é.


O Brasil diminui todo dia.
E de tanto que encolhe, ainda vamos sumir.
Ou cair em um sono desses de ditadura (que nem precisa ser militar, se você parar pra pensar...).
Somos pesadelo em terra de sonho.
Somos solidão em terra de todos.
Somos gigantes dormindo em terra de impávido colosso.


Ainda assim Brasil:
Em teu seio, há liberdade?
Se não houver, desafie por favor, o nosso peito a própria morte.
E sejamos, uma vez ao menos, uma pátria amada e idolatrada.
Que ninguém precise salvar.


quarta-feira, 2 de março de 2016

Aquele velho.

Fugia do verbo. Mas quando chorava bebia as próprias lágrimas. Gostava da chuva, mas sempre preferiu o gosto das maçãs. Jamais existiu mandinga mais forte que seu pensamento positivo. Tinha santo forte. Adorava olhar céus estrelados. Se sentia constelação. Assistia dias nascerem, quase sempre se emocionando. Como se fossem os últimos. Como se a vida não tivesse fim. Como se janelas fossem passagens extraplanares para dimensões distantes. Fazia sua rotina cantar. Tomava banho de Beatles. Cortava as unhas com Rubel. Cozinhava à Phill Veras. E apresentava Dônica as pessoas como se fosse um velho amigo de infância. Desenhava papeis e paredes. Guardava seus textos em gavetas. Queimava cigarros com gosto de café. E tentava a anos gostar dos filmes de Godard. Imaginava como seria envelhecer. Como seria se ver morrer. Como seria descobrir todo o mistério que cerca o segredo além dessa existência. Sempre me dizia que a vida era só o prelúdio. Que havia mais. Mas nunca me falou de Deus, mandamentos ou dízimo. E se alguém o questionava sobre essas coisa, sobre a hipocrisia humana, ele contava uma piada. Sempre das ruins. E ria como criança. Golfando no ar até lágrimas lhe escorrerem os olhos. Nunca se encaixou entre as outras pessoas. Ele precisava do seu espaço. Sofria muito com isso. Muitos o erravam nas palavras. Mas não eram as palavras que o machucavam. Palavras são só palavras. Era a crueldade alheia. A vontade de ver sofrer é que lhe doía mais. Um dia me escreveu uma carta dando adeus. Perguntei para onde ele ia? Não sei, respondeu calmo, e tu vais para onde? Não entendi. Eu acho que nunca entendia. Compartilhávamos diálogos longos, cheios de silêncio. Líamos lado a lado. Acendíamos nossos próprios cigarros vendo as chamas dançarem no imprevisível. Um dia eu cheguei no seu apartamento, para lhe contar novas novidades da ultima semana. Mas ele não estava lá. Sem cartas. Sem bilhetes. Sem nada. Por muito tempo, pensei que ele fosse fruto da minha imaginação. Que ele nunca existira realmente. Me peguei olhando para os cantos dos cômodos. Vendo sua imagem em baixa opacidade passar por mim. Apontando quadros nas paredes, atuando como atores de filmes antigos, chorando, sorrindo e cantando. Quando me percebi, escorriam lágrimas dos meus olhos. E antes que a primeira caísse, eu a bebi com a ponta da língua. E lembrei que ele sempre estaria em mim. 

Como a vida que se dá pra quem se deu. 
Ele, enfim, cedeu.