terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Palestina, Israel e o que nos resta da humanidade.

Senta que lá vem história!
Ou também se não quer sentar, pode ficar de pé... Isso, você escolhe.
Vou começar com uma pergunta: quem veio primeiro? A Palestina ou Israel?
Mas será que "quem veio primeiro" é a pergunta que importa? Podemos falar disso depois.
A região que foi denominada pela sociedade "moderna" como ESTADO PALESTINO, foi criada em 1947. Israel foi criada 1 ano depois, 1948. Porém, o povo Palestino habitava aqueles campos e colinas literalmente a milênios. Ainda assim, o Judaísmo é a religião monoteísta mais antiga do mundo, com cerca de 4.000 anos de idade.
Ou seja, complicou né? Mas espera que vai complicar mais, antes de haver alguma solução.
Não acho que "quem veio antes" ou  "quem chegou aqui antes" sirva de métrica para dar algum tipo de resultado a essas questões. Deixando claro.
E também acho importante, contextualizar, que enquanto escrevo essas palavras a data é JANEIRO de 2024. E o mundo todo assiste, ou eu acho que deveria, horrorizado as sequências de investidas militares sobre a região. No dia 07 de outubro de 2023 o grupo Hamas atacou Israel. Sequestrando, estuprando e matando quase 2.000 pessoas. Hamas que em árabe significa literalmente "CORAGEM" ou "BRAVURA" é uma organização política e militar da Palestina. Mas perceba, que o Hamas NÃO É O POVO PALESTINO. Assim como o PCC não é TODO brasileiro. Ou o COMANDO VERMELHO (CV) não é todo carioca. Dito isso, é importante dizer que o Hamas age como uma espécie de partido político, detendo a administração de GAZA em um formato de estado autocrático. Não existe oposição. E se alguém se opor, desaparece completamente. Preciso ainda adicionar o fato de que a pouca imprensa local livre, é coagida integralmente por essa violência. A ponto de que jornalistas e comunicadores palestinos que ousam deixar o solo mãe em busca de liberdade para escrever e contar o que acontece lá, tem seus familiares e amigos sequestrados como garantia de silêncio. No melhor estilo "CATIVOS" de Game of Thrones (se vc viu, se não viu, LEIA OS LIVROS).
Pois bem, agora vem o outro lado da moeda:
Israel foi criada como a conhecemos em 1948, como citado anteriormente. E a partilha do território veio para substituir o mandato britânico (what the fuck?) colonialista. Já fica meio azedo só a nas primeiras linhas né? Pois é, mas piora... Esse período também marca a eclosão do movimento Sionista (que nasceu em 1897 - percebe o tempo fermentando), que defende a autodeterminação do povo Judeu e a criação de um estado Judeu onde ficava (perceba o passado) a terra de Israel. Então lá trás entre 1947 e 1948 cabe a recém nascida ONU, mas embasada pelos estados unidos da america e a União Soviética, determinar a fronteira entre Israel (como estado Judeu SIONISTA) e a Palestina. O problema começa a tomar as atuais proporções quando nesse período a divisão acontece através da expulsão de famílias palestinas de suas propriedades. Algumas delas inclusive com terras que estavam a séculos sendo utilizadas para produção de alimentos e criação de animais. Então, os judeus SIONISTAS agora armados com o que sobrou dos equipamentos britânicos e apoiados por algumas das mais poderosas nações do globo, expulsam do território palestino mais de 750 MIL pessoas, destruindo mais de 500 vilas palestinas. Isso é a eclosão de um ovo chamado IRGUN, que pasme, era um grupo terrorista JUDEU. Um braço violento do SIONISMO, que foi responsável pela morte de MILHARES de pessoas (incluíndo VÁRIAS CRIANÇAS) em suas décadas de atividade.

Ufa. Preciso dar uma segurada. É muito informação.

Mas basicamente, após a atrocidade cometida pelo Hamas em 07 de outubro de 2023, o governo de Benjamin Netanyahu declara um ataque franco ao território Palestino. Sobre a égide de se PROTEGER do terrorismo vindo do Hamas. E o mundo assiste colégios, hospitais públicos, prédios de condomínios residenciais além de bairros inteiros serem pulverizados da face do planeta terra. Estamos aqui falando de crianças, bebês, mulheres, idosos, pessoas que empreendiam, estudavam, namoravam, viam filmes, mexiam nos celulares, comiam com a família nos finais de semana, riam, choravam, tomavam banho, brincavam com suas crianças, alimentavam cachorros, gatos, peixes, se cobriam quando tinham frio, bebiam água quando tinham sede, usavam tenis, bonés, tinham computadores para trabalhar e jogar video game. Gente comum. Como aquelas que o Hamas atacou igualmente.

Preciso dizer também que Benhamin Netanyahu mudou a lei para que seus processos de suborno, fraudes em licitações e quebra de confiança pública fossem atrasados e desidratados. Então, quando ele vê o trampolim do ataque do Hamas, ele pula com força sobre a tábua. Deixando para trás a opinião pública de seus opositores e materializando a expansão do seu território (como já feito antes em 1967 contra a Cisjordânia e a própria faixa de Gaza).

Tudo isso, para se proteger do terrorismo. Será?!?

O que o Hamas fez no dia 07 de outubro de 2023 é absurdo, foram quase 2.000 pessoas entre mortos e sequestrados.
Os meses que sucederam essa data, trouxeram a tona uma das faces mais desprezíveis da humanidade: mais de 29.000 mortos sobre o solo Palestino. Incluíndo MUITAS crianças e idosos. Os números oficiais são nebulosos, porque como dito anteriormente o governo Palestino do Hamas controla seus meios de comunicação. Porém, mesmo orgãos independentes como o HUMANS RIGHT WATCH declaram que o que acontece nesse momento na Palestina tem mais do apartheid do que qualquer um de nós pode suportar...

O cessar fogo é urgente.
Isso é tudo que posso concluir.
Qualquer guerra, é destruição da humanidade.
Palestina - Dezembro/2023.
                                  


quinta-feira, 25 de maio de 2023

Silêncio.

Silêncio.
O dia rasgava o negro céu da noite. No horizonte, cores como amarelo, roxo, azul escuro e laranja avermelhado avançavam diante do recuo da escuridão. Na antesala dos aposentos reais, uma mesa de 6 lugares estava com 5 cadeiras ocupadas. O Rei, sem coroa, acordado a pouco tempo sentava junto de seus conselheiros mais íntimos. Poucos vestidos apropriadamente, acusando pressa e pouco tempo de preparação. Subitamente a porta é aberta, sem batidas. E um homem com aproximadamente 2 metros de altura, ombros largos, barba dourada cortada e pouco cabelo sobre a cabeça entra alguns poucos passos e abaixa a cabeça até tocar com o próprio queixo no peitoral da suntuosa armadura que vestia.
"- Majestade!" - diz ele com a cabeça baixa.
"- General Alefh... ficamos felizes com a sua presença." - diz o Rei com uma voz monocórdica. Sem retirar os olhos daquele homem.
"- Retornei nesse instante majestade. Vim sob a ordem que recebi, quando parti...".
"- E então?" - pergunta o Rei dobrando o tronco sobre a mesa enquanto enche uma pequena xícara a sua frente com uma bebida quente.
"- Não diria que vencemos Majestade, nossas tropas foram dizimadas. Sobraram pouquíssimos homens vivos, menos de 100 talvez... Mas o inimigo teve menos, seus soldados fugiram em direção aos bosques do Sul. O campo de batalha é nosso, enquanto falamos aqui, soldados retiram o que vale ser retirado dos mortos..."
"- Como não diria que vencemos General?" - interrompe um homem magro vestido todo em preto, sentado ao lado direito do Rei.
O General para diante da fala. Respira por um breve momento enquanto desliza os olhos de volta aos olhos do Rei e diz:
"-... esses espólios de batalha serão recebidos no final da tarde de hoj..."
"- Porque não diria que vencemos General?" - pergunta o Rei lhe interrompendo.
Silêncio.
O homem magro vestido de negro sentado ao lado do Rei esboça um sorriso no canto da boca.
Silêncio enquanto o General Alefh olho nos olhos do Rei e vagarosamente abaixa a cabeça...
"- Majestade..." - ele diz - "... posso lhe falar com franqueza?"
"- Oraaa, vamos homem!!! O que aconteceu?" - diz o Rei irritado, dando um leve soco com o punho fechado sobre a mesa de madeira.
Silêncio.
"- Nossos homens... os homens que morreram nesta batalha... Em breve eles estarão lutando pela flâmula do inimigo. Os homens que deixei lá, não ficaram somente para retirar os espólios da batalha... Eles estão ateando fogo aos cadáveres. O exército deles majestade... não eram homens, digo, já foram homens um dia, mas agora não sei se ainda se chamam assim..." - movendo as mãos de forma desconcertada - "...já foram homens, mas agora são outra coisa... São mortos que lutam. E lutam bem majestade..."
Silêncio.
"- Isso são histórias para crianças, general..." - disse o homem magro vestido de negro... - "o Sr. bebeu antes da batalha?"
Levantando a voz o General responde:
"- Eu serei respeitado feiticeiro! Pelo amor de quem me ama, ou pelo corte da minha espada..." - encarando o homem de negro nos olhos.
"- Calma senhores..." - diz um homem com vastos cabelos vermelhos e um grande queixo duplo abaixo dos largos lábios, exibindo um manto bastante ornamentado e se parecendo muito com um grande sapo branco gordo... - "... tenhamos foco nas questões da coroa, o General Alefh com certeza não está aqui brincando com crianças... Tenhamos calma agora...". - em tom apaziguador.
E continua:
"- General, tem alguma forma de nos fazer visualizar o que o senhor viu, além do seu relato? Algum outro soldado, talvez? Que pudesse nos contar o que experimentaram naquela campina...?".
Silêncio enquanto os olhos de todos deslizam uns contra os outros. Como um delicado fio de água fria em um riacho semi congelado no interior de um bosque invernal. Até que todos os olhos repousam sobre o General de pé na sala.
Ele parece esperar por isso. Esperar que todos se olhem, que os rostos se encontrem. Sua própria face parece feita de pedra fria. Com uma linha reta e fina no lugar da boca. Olhando ninguém, vendo o todo. 
Ele não demora a começar a falar, com calma, sem elevar a voz:
"- A primeira vez que pisei na cidadela real, foi como escudeiro do meu falecido tio.  O Cavaleiro do Sol durante o reinado de Zuga´Rth o ordeiro - avô de vossa majestade... 
Eu já tinha idade para me tornar cavaleiro, mas nunca tive a chance... Era o festival de verão, e o Cavaleiro do Sol foi convidado a jantar com a família real depois de vencer todo e qualquer desafiante na lança montada. Durante o jantar, meu tio pediu ao Rei que me batizasse cavaleiro. E o único pedido do Rei foi me ver vencendo um soldado a sua escolha. No próximo dia, no entardecer, fui chamado a sala do trono. Meu tio, o Rei Zuga´Rth e toda alta corte estavam presentes. Diante das escadas de pedra do trono, haviam duas espadas largas de batalha e um soldado real vestia armadura e elmo fechados ao seu lado. Me foi dito diante de toda corte que se eu tinha o desejo de ser batizado cavaleiro, deveria erguer uma das espadas e vencer o soldado por submissão. Eu ergui a espada vestindo roupas simples, sem malha de ferro, ou um corselete de couro que fosse. E o soldado com placas de metal e elmo fechado avançou sobre mim como a tormenta. Descendo a lâmina da espada com força o suficiente para amputar um braço, caso não me esquivasse com rapidez e precisão. Eu saltei senhores, como saltei... Desviei das investidas sabendo que se errasse provavelmente seria ferido para sempre. Me tornaria um coxo manco ou coisa pior... Eu ouvia os suspiros das damas de honra e das esposas dos lordes e duques presentes enquanto a lâmina dele zunia no ar. Mas eu via nos olhos do meu tio o lembrete para um dos ensinamentos mais antigos dos campos de batalha: o homem que ataca se cansa, o que se esquiva não. E eu dancei até o soldado gritar para que eu lutasse "como um homem!". Então eu vi que ele ofegava e suava.

E eu senti que tinha uma chance de ouro. Mas também entendi que aquele soldado não era um homem de armas comum. Ele era um filho de um lorde ou um jovem cavaleiro recém batizado... Porque minha atitude teria irritado qualquer um, mas somente alguém de alto nascimento teria reclamado. E como ele reclamava! Eu senti que ele estava instável, que sentia vergonha de não em atingir. Que de alguma forma aquilo havia sido ensaiado, que alguém achava que o fim da peça de teatro seria outro... Então dei mais tempo a ele. Deixei que ele ficasse mais ofegante e irritado. Ele começou a espassar mais e mais cada investida. Sempre falhando... Mantive meu coração em pedra fria, meus olhos atentos e meu ego amordaçado. Se eu dançasse corretamente a música, seria batizado cavaleiro ali mesmo. Essa era a oferta que me fizeram."
Todos na mesa o encaravam com os olhos arregalados, então Alefh deu tempo ao tempo e respirou fundo, como os bons contadores de história o fazem nas fogueiras dos acampamentos. E continuou:
"- Quando eu o senti mais exausto, avancei. Desci minha espada contra a dele por uma, duas, cinco vezes. Com a força de todo meu corpo jovem, segurando o cabo com as duas mãos. Ele escorregou, sua perna cedeu e eu me adiantei. O acertei mais uma vez e dessa, ele teve que apoiar uma das mãos ao chão com o joelho dobrado. Chutei sua mão apoiada e seu corpo caiu como um saco de batatas vestindo uma armadura pesada. Sua espada não se levantou, mas ele se movia debilmente, se arrastando em direção ao trono. Rastejando. Então todos ouvimos a voz por trás daquele elmo dizer:
"- Papai... papai me ajude... Me ajude papai!" 
E o Rei Zuga'Rth fechou os olhos e cerrou os punhos...
"- Me ajude papai, ele vai me matar..." - choramingou o príncipe.
Meu tio esboçou um sorriso e acenou levemente com a cabeça para que eu parasse. Mas eu já havia decidido parar antes disso. Simplesmente larguei a espada no chão e dei um passo para trás... me ajoelhando.
Eu ouvi os soldados se aproximando do principe enquanto eu estava ajoelhado, seu elmo foi retirado. E ele estava vermelho como um carvão em brasa, descabelado, com seus traços finos e os olhos verdes enxarcados de lágrimas de medo. Sua boca era uma lua invertida e ele chorava como uma criança que teve o brinquedo tomado pela cuidadora. Eu o encarei, não como um escudeiro encara um príncipe. Mas como um guerreiro encara outro em um campo de batalha. Além de todas patentes, títulos, coroas, castelos e moedas de ouro. Naquele instante, o príncipe Frammir, era só um cavaleiro. Derrotado... Nada mais.
Eu fui batizado caveleiro pelo próprio Rei Zuga'Rth. Sem nem sair daquele salão.
Ele me mandou permanecer ajoelhado. Se levantou, tirou o manto e coroa real como manda o costume. Sacou Bellivar a espada mais justa da história. A repousou sobre minha testa com a lâmina tocando minha pele que sangrou pelo próprio peso do fio... E enquanto o sangue descia minha face ele disse:
"- Seja justo. Diga a verdade. Defenda seu Rei e seu Reino. Defenda a coroa e seus aliados. Mantenha seu coração e seus olhos abertos. E nunca fuja do seu juramento. Você jura pela sua vida?".
E eu jurei!
E me ergui como um cavaleiro da coroa.
E desde o momento em que eu me levantei, assim o sou. Cavaleiro da coroa, General das tropas nomeado pelo Rei Fammir, jurado e governado pelo desejo do meu Rei e do seu Reino.
Silêncio profundo. O Rei encarava Alefh com uma expressão sombria nos olhos.

Alefh continuou olhando os olhos do Rei.
"- Quando minha palavra não bastar, meu Rei, basta dizer que eu mesmo arrancarei minha língua diante dos teus olhos...".

O Rei virou a cabeça ao homem de negro dizendo:
"- Barabring sabe que o General diz a verdade. E ele escolheu mal as palavras, não é mesmo feiticeito?"
O homem de negro encarava as próprias mãos magras sobre a mesa e respondeu prontamente:
"- Si... sim Majestade. Peço perdão..."

Aquele dia passou.
E o silêncio do próximo sol nascente, trouxe consigo o fino, longo e insistante som de uma trombeta de aviso. Tocada pelos vigias no muro da cidadela real.
No quarto do Rei, a porta foi aberta sem pedidos de licença. E quano ele dispertou disse irritado:
"- Alefh? MAS O QUE SIGNIFICA ISSO?"
E ouviu o General dizendo:
"- Rápido majestade, eles chegaram..."

Enquanto do lado de fora da cidadela, uma orda imensa do que já foram homens e outras coisas rastejava e se empurrava gemendo, mortos apodrecendo, mas ainda assim vivos. Querendo mais morte!














quarta-feira, 26 de abril de 2023

O Rei e o Reino.

 Há um homem cansado, sentado na salão. Seu cansaço repousa sobre o trono real. E logo acima da sua cabeça velha, de fios brancos, lutas e dias tantos, existe uma coroa. Antes dourada, hoje manchada, mas ainda cravejada de pedras, rubis e diamantes. Suas mãos enrrugadas, magras e fracas, já foram grandes mãos de um guerreiro. Admirado, temido, faminto por vitórias e nunca vencido. O salão estaria vazio se não fosse por ele. Sua respiração produz núvens brancas de vapor invernal. Sobre seus ombros, um manto veradeiramente real. Vermelho cor sangue. Com taxas de metal e brancas bordas esvoaçantes, sem igual. Lá está ele, sentado ao trono sobre o último degrau. Como quem dissesse ao próprio reino:
"- Vejam todos, estou no ponto mais alto do Reino. Acima de qualquer montanha ou de qualquer desejo. Aqui, vos digo amigos e inimigos: temei-me. Pois ao som da minha voz, frias lâminas afiadas deslizarão pelos seus pescoços. E como o sol rompendo o turvo véu da madrugada, o sangue brotaria pelo horizonte vermelho, sem desculpas ou demoras! Brutal, como a força da natureza. E rápido como a cauda da raposa que desaparece no bosque distante dos olhos do caçador. Temei-me. Pois sou implacável!".
Mas nada diz ele. Nenhuma palavra é parida por aquela boca soterrada na funda barba de décadas e mais décadas de vida. Não caro leitor. Aquele homem cansado, imponentemente sentado, no ponto mais alto do castelo coroado, poderoso como um Deus alado, está calado. E seus olhos avermelhados, estão petrificados sobre o nada que sua mente busca desvendar. O vazio desesperador e pálido, de um mundo complicado. Intrigado. Como quem faz um cálculo estelar colossal sem mover um músculo. Ensaiando o movimento de peça por peça do tabuleiro de xadrez com a mente. Imaginando os reflexos, os movimentos perplexos, a missão, o objetivo e o nexo! Tudo ao mesmo tempo. De cenho franzido. Respirando ofegante pela boca seca. Até que na porta se ouve uma batida. Um único som.
TUUMMMM - ele faz.
E ecoa o carvalho pelo salão, como um tambor de guerra. 
Não reage nosso Rei. Nem a púpila se move. Permanece. E então vagarosamente apoia as costas no trono. E deixa a cabeça cair levemente para trás. Não move os braços, ou as pernas. Ele pende como um sino da igreja. E finalmente, sem desespero ou aviso pronuncia as palavras:
"- Entre." - e quem ouve sabe que é uma ordem.
A porta se abre de imediato.
O som das dobradiças rangendo rasgam o ar.
E o silêncio do salão é substituido por um momento.
Estranho. 
Pelo justo vão da porta, passa um pequeno corpo. Magro. E desliza pelo salão como uma cobra rasteja à relva. Até se ajoelhar diante do trono, com o capuz cor verde musgo escuro. E ficar em silêncio.
O Rei espera.
A criatura mal se move.
E então se ouve:
"- Acabou?"
"- Sim majestade! Acabou! A coroa tem a vitória. O Senhor, venceu..."
"- Não Kallabeth, com a sua idade você já deveria saber...

...não existem vencedores na guerra. Existem sobreviventes. As vezes, nem isso meu filho..."

Fim.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Aquele homem velho e a sua bengala.

A rua não para
Deslizam carros
Motos
Bicicletas apressadas.
E ali, naquela esquina
Ficam o homem e sua bengala.
Suas pernas cansadas
A vida apoiada
Na madeira morta
Da árvore cortada.
O sol escaldante
Sem vento
Ou olhar infante
Daquilo que não
vai adiante
Porque caminhar
lhe dói.
O caminhar 
lhe foi...
A bengala
lhe deu oi.
E aquilo que era
o tudo, mudou
Não no dia 
que passou.

Bem antes!

Mas sempre assim,
lento como o
ponteiro do
relógio corre.
Astuto tempo
Vil, sem perceber
Que da bengala do 
velho escorre, 
vento e vida
até ele morrer...

E por fim,
solitária a bengala
apoiada atrás da 
porta fechada.
No quarto 
do antigo dono,
chora ela,
desesperada,
pois sem mãos velhas,
não há bengala
pra ser...


domingo, 23 de outubro de 2022

Minha afta se chama Kafka.

 Ser prudente. Ser equilibrado. Ter calma. Respirar fundo. Beber 64 litros de água por dia. Não, 64 não, mas beber bastante água. Não fumar, não tomar tanto café, não comer açúcar, gordura, tanto carboidrato. Correr, malhar no mínimo 2 vezes por semana, mas 3 seria legal. Não ver tantos filmes antigos. Tentar ler mais. Vou parar por aqui.

Eu escrevo sem ler. E você sabe: escreveu não leu, o pau comeu! Talvez. Não sei.

Eu sei muito pouco. Tenho muito a melhorar. Mas muito mesmo, não esse "muito a melhorar" do Brad Pitt. Não, o meu é mais um "muito a melhorar" de alguém que realmente tem muito a melhorar. Busca espiritual cracuda mesmo. Bagulho doido, tipo Jesus Negão pra baixo. Necessidade de mais paz e calma no coração level hard!

Acho que é isso. A quase 8 meses sem escrever aqui, meu filho com 1 ano e 6 meses sendo o maior amor e significado que conheci na vida. E o tempo não para mesmo Cazuza. Tu tava certão.

Sigo andando. Buscando ser prudente, equilibrado e mais calmo... O pacote inteiro do primeiro parágrafo. Nem devia ter começado a escrever. Então vou terminar sem ponto final porque sim

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Tendo tempo, tento.

Palavra 
é vento.
Sopra
o tempo.
Que escorre,
lento
movimento
enquanto 
vagarosamente
me deito.
Se lês essas
palavras,
me entregas
preciosas
lufadas
de vida
que passa
enquanto
lavras
teu fim.

Pobre que sou.
Não guardo nada.
Além da memória
deteriorada, 
da palavra
que 
tu 
soprou 
para mim.

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Oi filho.

Esse é o primeiro texto que eu escrevo aqui desde que você nasceu. E se tem uma coisa que a tua chegada me ensinou logo de cara é que não existem dias sem importância. Todo dia vale mais que um diamante. Pode parecer piegas (e é, eu sei), mas existe muita beleza em todo tempo que temos aqui. Tu completou 4 meses a algumas semanas, e desde que tu chegou todo dia vimos algo novo em ti e na gente. Não é fácil e lindo como no cinema, mas é fácil e lindo de fato. Não existe preço alto demais para ver teu sorriso. Não existe sentido mais nítido do que tu. E não existe caminho para a nossa felicidade que não passe por ti. Simples assim. Sem ser nada simples...

O futuro pode ser bem nebuloso hoje. Tu nasceu no meio do mandato do presidente Jair Messias Bolsonaro. E na época que vivemos, o comportamento das pessoas é bem pouco humano. Todo mundo tem certezas demais. Todos sabem quem é o culpado e em 99% das vezes é a outra pessoa. O mundo tem sido um lugar mais hostil do que eu gostaria de te apresentar. Por isso procuro sempre te mostrar paisagens bonitas, sorrisos e canções felizes e eu e a tua mãe nos esforçamos muito para que haja sempre carinho e proteção ao teu redor. Ser teu pai é a maior responsabilidade que já tive na vida. Enquanto sinto toda essa vontade de vida ao meu redor, percebo também o medo que nos assombra pelos vãos dessa fortaleza que nos estamos batalhando para construir. Essa, inclusive, é uma das nossas muito lições aprendidas: o medo não nos impede filho. A vitória do medo é nos paralisar e diante do terror do desconhecido e dos olhos gelados da incerteza, nossa batalha é a de não pararmos. E é a de continuarmos nos movendo, respirando e com corações pulsantes. No rumo do que acreditamos ser o melhor para ti. Certos ou errados? O futuro nos contará. Podemos errar, mas erraremos tentando ao máximo acertar.

Existimos flutuando sobre o tempo. E seguimos flutuando depois de existirmos. Até desaguarmos no mar e esperarmos a hora de evaporar para retornarmos ao rio e novamente flutuar.

Você acabou de começar a descer a corredeira. E nós estamos aqui contigo. E eu acredito que tendo conhecido o amor que sentimos por você, tu nunca estarás sozinho. Mesmo quando chegar a nossa hora de desaguar e a tua de continuar...