domingo, 8 de março de 2009

Se não for eu, quem mais vai perceber o que é bom pra mim ? Dispenso a previsão ! Se o que eu sou é, também, o que escolhi ser ! Aceito a condição !!!

- E além daquelas colinas ? O que existe ? - eu perguntei apontando.
- Lá é a terra dos gigantes ! Ninguém vai pra lá. Ninguém volta de lá. - ele disse de forma séria.
A estrada não ia em direção as colinas. Ela as contornava. Havia algumas placas de aviso dizendo: "Não passe" e "Não siga a diante".
- Eu queria saber porque ninguém gosta dos gigantes...
- Como assim ? - ele me perguntou indignado.
- Por que você os odeia ? Você já se perguntou isso ?
Em silêncio ele ficou me olhando, mas não respondeu nada. Ensaiou dizer alguma coisa mas se conteve. Permaneceu quieto me olhando.
- Eu nunca vi nenhum deles. Nem você... NEM NINGUÉM ! Discutimos a respeito sempre ! Os ofendemos a distância, dizemos que são piores, que são ruins... Mas nem os conhecemos. Nem queremos conhecer. Vivemos dizendo que no passado tivemos guerras, que fomos traídos por suas alianças, que nos passaram para trás. Mas ninguém lembra como aconteceu. Quando aconteceu. Ninguém se importa realmente, desde que o ódio e mágoa permaneçam... Desde que tenhamos um motivo, mesmo que mentiroso, para odia-los. E para continuar ensinando nossos filhos a odia-los. A verdade, é que temos medo deles. É que ficando aqui, do outro lado das colinas nada irá nos confrontar. Que poderemos ter nossas velhices, gordos, fracos e cheios de netos para contarmos como é bom viver longe dos gigantes. Como somos felizes da forma como vivemos. De como estamos cobertos de razão e certeza. De como jamais erramos sobre coisa alguma. E finalmente, de como nossas vidas tem sentido assim...
Ele continuava me olhando de forma séria, parecendo odiar a cada palavra que eu dizia.
- E mesmo que discordes de mim, e que eu vá ser banido por minha palavras. Eu prefiro dize-las. Prefiro falar o que penso do que viver imerso nesse mar de ignorância. De quem tem certeza que está certo. De quem morre achando que a vida é isso. Que deixa o orgulho sufocar. Deixa o orgulho transbordar dos potes e molhar toda uma vida. E vive ignorante, achando que é Rei de um castelo que na verdade fica no meio de um pântano. Escuro. Pútrido. E vazio.
Parei de falar. Meus olhos observavam por cima dos ombros dele as colinas.
- Devias ir pra lá. - ele disse.
Eu fiquei em silêncio.
- Devias descobrir quem de nós está certo. E voltar pra me dizer. Pra me avisar se eu levo uma vida em vão, protegendo essa fronteira.
- Pois é o que eu farei cavaleiro. - e me coloquei a marchar em direção as colinas.
Ele não me disse nem uma palavra.
Ficou observando minhas costas enquanto o final da tarde derrubava seu manto sobre nossas cabeças.
É uma longa viagem até a Terra dos Gigantes. Leva-se vários meses pra atravessar as colinas. É um caminho solitário. Um caminho que te desafia a mente e o corpo. Nem tenho certeza de que vou conseguir ir até o fim. Mas sei que preciso tentar chegar até lá.
Talvez eu nem chegue.
Talvez eu chegue e seja morto.
Talvez eu perceba que estava errado. Que devia ter ficado em casa.
Mas mesmo que qualquer uma dessas coisa aconteça. Eu sei que serei mais feliz tentando do que me rendendo ao velho igual de sempre. Ao mesmo.
Eu sei que vou !

- Tenha uma boa viagem velho amigo - ele pensou vendo minhas costas desaparecerem na noite... - Vá em paz.

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