quinta-feira, 9 de abril de 2009

Sobre ver a chuva:

Ela molha. Depois seca. Depois molha de novo.

A chuva vem por cima do nosso céu azul. Deixa tudo escuro. Faz as nuvens dançarem e estoura relâmpagos sobre nossas cabeças. Assusta. Ela derruba pingos, preenche os vazios com água, transborda potes e pneus. Faz as crianças saltitarem pelas calçadas e pelos campos de várzea sorrindo e correndo, daqui eu ouço até seus gritos de alegria. Ensopa as roupas de quem não quer se molhar. Faz as filas de carros, nas ruas, crescerem. Mergulha os sapatos nas poças. Coroas de água a cada pingo que atinge seu alvo. A chuva fecha tua janela. O vento levanta nossa cortina. Alguém desliga o telefone apressadamente dizendo que a chuva chegou. As plantas olham para cima bebendo vida. E lá longe, no silêncio selvagem da mata. A floresta agradece ao céu. A água corre por baixo das folhas secas, carregando insetos e barro. O asfalto solta fumaça enquanto esfria.

Assim, como vem, ela vai. Sem avisar.

Alguém olha para cima, abrindo a persiana com os dedos e diz que parou. As crianças param exaustas com as roupas cheias de barro e suas mães correm repreendendo-as severamente. Os carros abaixam seus vidros e começam a andar. O sol volta e faz sombra sobre as poças. De dentro de uma casa é possível ver os raios passando pelas cortinas. E aquela mulher que tem tanto medo da chuva fica feliz ao sentir o gentil calor sobre sua tão antiga e cansada perna. Ela sorri sozinha, como sempre. Dentro da mata ainda se ouvem os pingos. As árvores, com seus galhos e folhas estão se secando. E no asfalto uma rachadura frita no calor do sol. A água evaporou rápido e não foi o suficiente para resfriar profundamente a estrada.

Ela veio e foi. É isso que a chuva faz.


Alguém grita meu nome na rua.
Eu olhei de forma despreocupada.
Voa uma bigorna na minha direção. Não há piedade. Me acerta bem no meio do rosto.
Sinto ? Sinto !
Uma camera lenta na cena revelaria que meu nariz é empurrado para dentro e ouço o som da cartilagem se partindo em vários pedaços, o sangue espirra pra fora. Como uma amora madura explode na boca de quem a mastiga. Minha testa e meus olhos são atingidos junto com minha boca e queixo. Tudo se parte e afunda. Ouço os ossos se quebrando como madeira molhada. Meus globos oculares são rasgados junto com as pálpebras e os dentes arrancados. Engulo alguns gritando. Minha gengiva se rompe em sangue. Os ossos do maxilar são empurrados em direção a nuca. Se deslocam vagarosamente enquanto minha língua se perde contra o aspero metal negro. Minha cabeça empurra o corpo todo para trás.
Cai no chão com 180 quilos de ferros enfiados no rosto.

Alí, caido no chão eu pensei:
Eu sou assim ruim ? Se sou joga outra... Pode jogar !

Eu sou aquilo que ninguém vê. E se só pra mim não pareço ruim é porque é pra mim que me importa não parecer.
Não vou ser bom por ter medo do inferno.
Nem deixar de roubar por ter medo de ser preso.
Não vou vergar porque tu pensas que tenho medo do que tu pensas. Do que tu falas.
Não !
Vou ser bom por querer ser bom.
Não vou roubar, por não querer roubar.
E vou manter minha posição por ver o mundo do jeito que vejo... e não do jeito que você quer.

Bigorna ? Carrega quem quer. E se jogar é porque acha que pode...
Bigorna eu tenho várias em casa, as guardo no quintal. Não fico jogando nos outros o que não quero que joguem em mim. Muito menos as carrego pra onde vou... tenho coisas mais legais pra fazer !
Quer saber se é bom levar uma na cara ? Não, não é. Mas tem um lado bom nisso: saber quem joga e quem não joga. Porque errar todo mundo vai. A questão é saber se teu erro vai se converter em munição posteriormente ou não ! Eu me afasto de quem tenta me agredir com meu próprio passado.
Eu dou meu presente de presente pra quem me tolera e aceita. E tento ao máximo tolerar e aceitar essas pessoas também.
Gente ruim no mundo ? Tá cheio. Mas ninguém é bom o tempo todo, logo, ninguém é infalível.

Tem problema não.
Eu levanto e arranco a bigorna da cara tipo desenho animado do pica pau. Meu rosto sai da cabeça como se fosse de borracha. Essa bigorna eu carrego comigo, até em casa pelo menos. Vou colocar ela junto com as outras e deixar enferrujar. O tempo as enferruja. O tempo e a chuva.

O tempo é bom amigo.
Só ele pra enferrujar as bigornas do meu quintal.
O tempo é bom amigo... e acabou de começar a chover ! : )

Boa Páscoa a todos.

1 comentário:

  1. Gostei muito desse post:):) muito bom:) Boa Páscoa pra vc também:) Parabens pelo blog;)

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