sexta-feira, 3 de abril de 2009

Are you in ? - Incubus

Meu mundo é regido por três aranhas.
A maior delas é a Aranha da Justiça ela é robusta e temperamental. Suas teias são grossas e difíceis de cortar. Quando alguém toca nos fios da Justiça, ela desce lentamente dos céus (onde fica sua morada) usando teias especialmente feitas para isso. No chão a Justiça é lenta e demora bastante tempo até conseguir alcançar seu alvo. Quando o pega com suas garras ela é implacável. Marca a testa do alvo com um símbolo para que todos saibam que ele já foi tocado por ela. E depois o enrola em um casulo. A Justiça joga o casulo no Foço das Lamentações, e o abandona. Lá casulos se acumulam sobre casulos. E quando o foço está muito cheio a Justiça tira alguns por baixo (alguns daqueles que já ficaram tempo demais lá), abre os casulos e os devolve pra sociedade. Como se nada tivesse acontecido... Como se tivesse lhes ensinado alguma coisa... Mal sabe ela que qualquer um que tenha sido posto lá uma vez, que tenha passado alguns anos dentro do Foço, jamais vai ver as cores do mundo de novo. Ou sentir cheiros, ou o vento, ou sorrir de verdade. Uma vez no Foço das Lamentações, nada mais é igual...
A segunda é a Aranha dos Costumes.
Ela é manipuladora e covarde.
Ela possui fios frágeis e não é fisicamente forte. Mas quando alguém rompe suas teias, ela avança de forma avassaladora sobre o intransigente. O abraça com toda sua força e lhe marca a testa com seu símbolo. Nada mais acontece. Mas existe um acordo: ninguém pode falar com os indíviduos que foram marcados por ela. Ninguém pode nem toca-lo. E principalmente, se alguém o fizer, será marcado também. Os marcados são párias vagando solitários pelo mundo. Os símbolos do Costume são marcados nos ossos do crânio daqueles que a desafiam. E jamais podem ser apagados. A Aranha dos Costumes passa seus fios entre as pessoas. As juntando ou afastando conforme sua vontade. Se afastar demais ou se aproximar demais de algumas pessoas, fazem com que os fios do costume se rompam...
A terceira Aranha é a menor das três. Ele é magra, pequena e sem coloração. Seu corpo ossila entre um ton claro e o transparente... Ela é facilmente não vista. Eles a chama de Aranha da Religião. Ela é que dispõe da menor quantidade de fios. São poucos e muito finos. É muito fácil esbarrar em um deles sem saber. Quando alguém toca os fios da Aranha da Religião, em um primeiro momento, nada acontece. Mas a medida que os dias passarem essa pessoa perceberá que está sendo seguida pela Aranha da Justiça e dos Costumes. Quem a pegar primeiro, leva. A aranha da Religião raramente aparece em público. Mas por algum motivo, ela parece comandar as outras duas. Muitos dizem que ela não existe. Que podemos transpassar seus fios sem medo. Mas outros acreditam com muita fé que pagaremos um alto preço caso isso aconteça. E pior, acreditam que se pedirmos com muita vontade, coisas maravilhosas podem se realizar. Que ela tem poderes mágicos...
A Aranha da Religião tem unica regra inviolavel: todos humanos que morrerem devem ser postos em fogueiras ou enterrados profundamente na terra, dentro de caixas de madeira. Os antigos nos ensinaram isso e não questionamos o porque... Esse é o jeito que é ! Foi assim que aprendemos a fazer...

As três aranhas moram em palácios acima das núvens. Não podemos questiona-las ou negar suas ordens. Somos servos de suas vontades. As vezes elas brigam... O céu se pinta com clarões quando isso acontece. E é normal que pedras voem do céu sobre prédios e casas na Terra. Muitos humanos morrem. Muita gente sofre. Mas depois de algum tempo elas param e nossas vidas continuam normalmente. Como se nada tivesse acontecido.
Existe quem diga que as aranhas fingem brigar para matar alguns humanos. Como uma forma de controle, como uma maneira de garantir seu poder através do tempo...
Todos os livros que falavam sobre a origem das Aranhas foram queimados. E os que os leram foram marcados pelo símbolo do Costume. As aranhas fizeram isso a muito tempo para garantir que ninguém falasse a respeito. E depois nos deram livros novos, para que fossem lidos pelas crianças... Hoje, essas crianças são nossos bisavós. E os livros que elas nos deram continuam em nossas estantes.

No meu mundo, os humanos já aprenderam que não adianta muito lutar contra a vontade das Aranhas. Que é uma batalha perdida. Que com o passar dos anos, vamos nos cansando e mais hora ou menos hora nos tornamos também seus lacaios...
Os mais velhos dizem:
"- Não desafie as aranhas garoto ! Você não será feliz se o fizer... Tudo que você precisa é de uma esposa, que também tema as Aranhas. Para que vocês possam ter um par de filhos... E principalmente, que ensinem a essas crianças duas importantes lições: a terem medo das Aranhas e fazerem seus filhos também terem..."

Eu acho que essa altura a Aranha do Costume já me marcou...
Vou rezar bastante para a Aranha da Religião, pra ver se melhora...



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