segunda-feira, 11 de maio de 2009

O conto de um soldado.

Repousava suas costas em uma cadeira acolchoada no final da tarde. Seu corpo cansado apreciava a calma do momento. Sentia os músculos das costas relaxando e fechava os olhos observando as núvens no por do Sol. Por vezes, adormecia imerso naquela paz.
Falava rápido e não conseguia encarar seus interlocutores por muito tempo. Tinha receio de ser grosseiro e por isso ficava em silêncio mesmo tendo diversos pensamentos a respeito do que era dito nas rodas que frequentava.
Caminhava pelo centro da cidade, conversando com comerciantes, donos de casas de cambio e investidores. Não deixava transparecer quais eram suas atividades profissionais. Ninguém precisava saber de sua saúde financeira.
Tinha sempre unhas bem cortadas, barba bem aparada e um chapéu limpo sobre a cabeça. Apesar de aparentar ser agressivo com seus movimentos bruscos, era doce e fiel as próprias crenças. Se arrependia dos anos gastos no exército e dos 28 homens que matou no campo de batalha. Carregava tal fardo em silêncio.
Por vezes se desesperava sozinho, sem motivo aparente. Quando acontecia, sentia que o mundo transbordava toda beleza que tinha sobre seus olhos e que não suportaria tal dádiva. Que era pequeno demais para isso. Tinha curtos surtos e se perdia em pensamentos confusos e complexos.
Recuperava o controle triste consigo mesmo. Sentia que o mundo só era realmente bonito quando envolto por seus surtos esporádicos. Desejava mais do que o cinza e branco.
No final dos seus dias, havia se afastado de tudo que conhecia por civilização. Procurava uma forma de encontrar a própria alma. Tal reduto jamais foi visto. Deixou textos escritos sobre os arrependimentos e pediu para que lhe escrevessem à lápide:
"O túmulo da direita é mais importante que o meu..."

Deixou alguns bens que foram passados ao nome de sua esposa. Muitas lágrimas foram derramadas. Muitas noites perdidas em seu nome. Mas no final sentado na eternidade, vendo nosso mundo através do espelho da razão, ele percebeu e disse:
"- Fui vivo e morri. Morto vi o viver e o entendi: todo aquele que se vai, vira uma foto antiga na prateleira de alguém..."

" :) " (sorriso entre aspas)


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