quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Ouvindo: Sky Stars Falling - Doves

Eu sonhei que não era eu. Sonhei que era alguém diferente. Conhecia meus amigos e amigas. Gostávamos igual. Mas era como ser outra pessoa vivendo minha própria vida. Tinha os meus mesmos problemas. Tinha as mesmas roupas. Usava o meu aparelho celular. Dirigia meu carro. Morava no meu apartamento.
Só não era eu.
Enquanto no sonho eu recebi uma ligação da minha mãe. E ela não me chamou pelo nome. Me chamou por outro nome. E eu atendi. E sorri. E ela sorriu. Disse estar com saudades. Disse que queria vir e ficar um pouco comigo, em casa. E o outro eu concordou. Disse que iria pega-la quando ela quisesse. Era só combinarem. Ela mandou o "eu do mundo dos sonhos" se cuidar. Comer. Fechar as portas. Estudar. Perguntou como iam os negócios. Se chovia em Blumenau. Se ele tinha visto meus irmãos. Coisas que mães dizem.
Só não era eu respondendo. Mas ele sabia as respostas. Sabia o que dizer.
Minha mãe mandou um beijo pro ladrão de vidas e desligou.
Ele saiu da minha casa e encontrou meus amigos em um barzinho. Bebeu minha bebida. Fumou meus cigarros. Riu das piadas que era pra eu ouvir.
Maldito seja o outro eu, pensei. Ele tomou meu lugar.
Depois de algum tempo. Ele disse que precisava ir embora. Que trabalhava cedo.
Dormiu na minha cama. Falou como eu falo dormindo. Se mexeu como eu mexo. Sentou-se de madruga e tomou meu copo da água. Olhou pela minha janela e viu o centro da cidade dormindo, como eu gosto de fazer. Ouviu o silêncio que eu gosto de ouvir. Olhou pras estrelas que eu sempre olho. E voltou a dormir. Com a cabeça no meu travesseiro.
De manhã cedo o alarme do celular tocou. E ele acordou.
Quando eu percebi. Eu tinha acordado.
Quando me vi, estava com o meu telefone na mão.
No mundo real. Meu sonho tinha acabado.
- Ainda bem pensei. Terminou aquele sonho... - pensei.
Foi então que vi.
O copo de água estava vazio.
A janela aberta.
As roupas que eu havia usado no sonho largadas na poltrona do quarto.
Meus tenis, chave do carro e carteira. Exatamente no lugar que ele deixou.
Conferi no celular e vi que tinha falado com minha mãe. Em uma chamada as 22h 31min. Entendi que havia estado com meus amigos também.

Mas como era possivel eu não lembrar ?
Como era possivel não me ver daquele jeito ?
Seria eu maluco ? Ou talvez estivesse ficando... ???

O outro eu viveu um dia da minha vida. Não foi um dia ruim. Ele deve ter pensado que é bom ser eu. Talvez ele volte. Talvez ele me diga seu nome. Talvez eu precise de mais tempo pra descobrir essas coisas sozinho.

O outro eu foi embora.
Eu fiquei.

Liguei pra minha mãe do escritório hoje cedo e disse:
- Oi mãe, tudo bem ?
- Oi filho, tá tudo bem ! E contigo ? Aconteceu alguma coisa ?
- Não, não. Só queria ouvir tua voz...
- Leandro, a gente se falou ontem a noite... tá tudo bem ?
- Tá tudo bem mãe. Tu não falasse comigo ontem. Tu falasse com o "eu dos sonhos", ele tava no controle...
- Tá bom meu filho. Tá tudo bem mesmo ?
- Aham ! Beijo mãe !
- Beijo.

O "eu dos sonhos" ainda me paga por esse dia a menos.
Agora é minha vez de roubar um dia dele...
: )





1 comentário:

  1. muito legal! na maioria das vezes acontece o contrário, a gente vive um dia que daria tudo pra outra pessoa niner no nosso lugar...
    enfim, gostei bastante do texto :}

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