segunda-feira, 25 de julho de 2011

Guilhermina e seus sete namorados. (Subtítulo moral: Eu gosto é do gosto.)

Guilhermina tinha vários namorados. Gostava de aspectos diferentes de cada um deles. Tinha um para as noites de solidão. Outro para pagar seus jantares e festas menores. Um para os presentes mais caros e viagens longas. Tinha o que sabia como lhe ouvir e dos carinhos que ela gostava. O intelectual que ajudava nos esclarecimentos. O que a fazia se sentir uma mulher bonita e que fazia amor como se fosse a última vez. E finalmente, tinha aquele por qual ela era apaixonada.
Desde pequena, Guilhermina sempre foi precoce. Beijava meninos escondida no primeiros anos de colégio. As vezes, até os forçava a beija-la. Continuou os beijando através dos anos, eventualmente beijava uma menina. Mas só para se sentir ousada na frente das outras pessoas. Fazia questão de não conter sua sexualidade em público. Isso desafiava os outros. A colocava em uma posição de excêntrica moderninha. E ela gostava disso. Adorava se sentir diferente das outras meninas de sua idade.
Com o passar dos anos, suas relações foram ficando mais e mais complexas. E foi no sexo que Guilhermina encontrou as respostas simples para seus questionamentos. Homens se aproximavam dela, interessados em seu corpo jovem, seu belo rosto e principalmente na sua sexualidade evidentemente aberta a novas tentativas. Ela começou a aceitar mulheres também. Namorou algumas inclusive. Já não sabia mais o que lhe dava prazer carnal. Guilhermina se acostumou com a dúvida. O sexo parecia uma resposta simples. Mas depois de anos de relações sem pés nem cabeça (na realidade, a busca pelo seu prazer eram os pés e a cabeça). Seu coração feminino gritou por liberdade. Chega pensou Guilhermina. Seu corpo já estava cansado e seu rosto já mostrava o mesmo cansaço. Seu coração extenuado se recusava a bater mais uma vez que fosse, em prol daquela busca pelo desconhecido.
Guilhermina chorou. Era uma noite fria e ela havia se entrega pela ultima vez ao ultimo amante que conseguira. Na verdade, ela se entregara a um amante e a uma amante ao mesmo tempo.
Deitada em sua cama, com a porta da varanda aberta e a televisão ligada. Seu quarto de luzes apagadas, somente com duas luzes suspensas nas laterais. Como taças de vinho iluminadas.
Guilhermina chorou.
Decidiu que nem seu corpo, nem seu coração sofreriam mais um dia. Que namoraria mais de um homem ao mesmo tempo. Que voltaria só a brincar com mulheres. E que jamais sofreria novamente.

No cinema, a chuva sempre representou a mudança. Guilhermina tomou um banho e a água lavou sua alma. Jogou fora os lençóis sujos da paixão passada. E esqueceu seu passado olhando pela janela.

O coração de Guilhermina lhe dera o que ela tanto queria. A liberdade de nada sentir. Mas não sabia ela que nada sentir não é liberdade. Que existem corações presos a raiva e a tristeza. Condenados a fins terríveis. Corações que morrem por se apaixonar eternamente. E corações que nada sentem, vazios como cavernas geladas. E era assim que o coração dela havia se tornado. Vazio e gelado.
Mas não por culpa somente da menina moça e sua busca por prazer e diversão. O mundo foi cruel com Guilhermina. Talvez não propositalmente, mas malfazejo ainda assim.

Guilhermina tinha sete namorados. Mas de alguma forma, é como se não tivesse nenhum.


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