quinta-feira, 8 de abril de 2010

Pra afogar o abril.

Eu espero que você consiga o que quer. Não digo isso dá boca pra fora. Na verdade, eu realmente quero que você consiga o que quer. Verdadeiramente.
Espero que você aprenda a ouvir. Que consiga ser menos cabeça dura. Que continue aprendendo, sempre. E que jamais consiga parar de aprender.
Espero que seu cérebro logo apague os dias ruins. Que veja o mundo de uma maneira bonita e não cheio de defeitos, problemas e tristezas. Não que o mundo seja somente um lugar bonito, não é. Mas como poderemos mudar algo, se não amamos aonde vivemos ? Como poderemos ser a diferença daquilo que odiamos ? E melhor, para que gostaríamos de ser ?
Dirigia meu carro hoje de manhã, pensando as asneiras que penso quando dirigo meu carro pelas ruas de Blumenau enquanto o Sol resolve nascer. E pensei: nossos dias são como gotas de uma chuva forte. Alguns molham nossa roupa, nossas cabeças e nossos pés. Outros nem nos atingem, e apesar disso, eles existiram tanto quanto aquele que caiu exatamente no olho. Ou na boca, quando tinhamos sede...
Nossos dias são sim como gotas de uma chuva forte, porque não vemos a maior parte deles passar. Definitivamente não nos lembramos de todos. E dificilmente conseguiremos vencer essa passagem sem nos molharmos...
Dia seis de abril de 1982, foi o dia do meu nascimento. As 3h30 da manhã, minha mãe sentiu as primeiras dores... É bem interessante entender como esses 30 min duraram 28 anos. Provavelmente, essa história seria arredondada para 3h ou 4h, mas não ficaria como 3h30...
Segundo a opinião de quem estava lá, depois do parto minha mãe estava muito cansada. Eu nasci com quase 5 quilos. Praticamente um saco de açucar.
Ela adormeceu, e acordou com alguém abrindo a porta. Era uma enfermeira que pelo julgamento da minha mãe, trazia roupas de cama limpas em um carrinho. A enfermeira deixou o carrinho e desapareceu.
Minha mãe ouviu o carrinho gemer. E viu uma pequena mão. Era eu.
Ela se levantou, me pegou no colo e disse:
"- Oi, eu sou sua mãe."
Eu respondi:
"- Oi mãe, fiquei com medo que você não me encontrasse... Tinha uma galera muito parecida na maternidade... Todo mundo careca e desdentado...Na verdade, pelo que eu falei com os outros caras que nasceram hoje, tá todo mundo com medo de ser trocado de pais e mães... Bom, agora eu vou parar de falar e só vou falar daqui a uns anos..." - e sorri.
Minha mãe sempre diz que sorriu de volta para mim.

Ela sorriu sim...

Isso aconteceu no dia 6 de abril no começo da décade de 1980. Não chovia, nem os animais da região vieram me ver. O que me deixa um pouco frustrado ao saber que eu não sou a reencarnação do Buda. Ninguém viu uma estrela cadente cruzando o céu e sim, meus pais fizeram sexo para que minha mãe engravidasse.

É, eu sou bem humano. O mais perto que eu cheguei de ser considerado celestial, foi quando a "tia" nova do pré disse que eu tinha cabelos de anjo. Eu era loiro e tinha cabelos crespos. Hoje eu tenho barba, uns 70 quilos a mais que na época e corto meu cabelo do jeito mais estranho que consigo. Isso sem mencionar o quanto eu cresci. Muita coisa mudou.

Muita coisa sempre muda.

Eu espero que na próxima vez que a sua vida mudar, seja para o bem. Que não te cause lágrimas ou desespero. Não se engane, a próxima bifurcação é logo alí... E como sempre quando ela lhe for visível, já sera tarde demais...

Acho que vou abrir meu guarda chuva.
Hoje, vai ser um daqueles pingos de chuva que eu vou esperar secar. Que eu quero esquecer. Da última vez que isso aconteceu, essa maldita gota de água escorreu pela minha testa, entrou no meu olho direito, cruzou meu lábio superior e inferior, dobrou na minha mandíbola indo para o meu pescoço, entrou na minha camisa. Colou na minha roupa e reapareceu no meu umbigo. Escorreu por entre pelos e pele. Desceu pela minha coxa esquerda, passando pelo meu joelho ruim até um tornozelo machucado e se alojou em definitivo na minha meia...

Talvez seja a minha hora de tirar os sapatos e caminhar um pouco a pé.

Te deixo agora.
Um abraço.


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