segunda-feira, 27 de julho de 2009

Kátia e João.

Ele caminhava em silêncio. Olhando para seus próprios pés enquanto pensava que deveria comprar um cachorro. Afinal, seria bom ter alguma companhia. O inverno havia chegado como um visitante grosseiro. Sem muitas delongas, por favores ou com licenças.
"- Tá frio pra caralho !" - disse sozinho João.
Sem perceber e enquanto chingava o tempo ele entrou em rota de colisão contra ela. Linda, com o cabelo preso e ainda com seus óculos de leitura. Carregava os livros da biblioteca da universidade pensando se conseguiria entregar o trabalho até sexta feira. Sentiu uma brisa gelada lhe agarrar pelas têmporas e instantaneamente encolheu sua cabeça entre os ombros abaixando-a.
Muitos, a esse ponto da história vão chamar isso de destino. Dizer com os olhos cheios de convicção e carinho que "era pra ser...", enquanto sorriem... Outros, mais frios e racionais, dirão ser a probabilidade. Sorte talvez. Mas nada além de um "poderia acontecer com qualquer um...". Eu não vou revelar minha opinião. Mas talvez concorde com todos e com nenhum.
João viu dois pés além dos seus, mas eles apontavam pro outro lado. Caminhando pela calçada não teve tempo para fazer nada além de erguer a cabeça e vira-la.
Chocaram-se.
Kátia, coitada, tomou um susto e largou seus livros pelo chão. Levando as mãos a testa fez uma cara de dor. Ele deu um passo para trás quase que instantaneamente dizendo:
"- Meu Deus moça, me desculpa... Eu não te vi..."
Ela não respondeu, mas o chingou bem baixinho enquanto tirava as mãos da frente dos olhos e ajeitava seu óculos. Quando recuperou a visão pronta pra lhe dizer como devia prestar mais atenção ao caminhar na rua (mesmo sabendo que também não estava olhando...). Ela parou.
João estava abaixado juntando seus livros e dizendo que estava com a cabeça nas núvens. Pensando em comprar um cachorro mas que isso não era desculpa. Que sentia muito. Perguntava se podia fazer alguma coisa, comprar um band-aid, pagar um taxi ou um café...
Ela achou graça do rapaz meio atrapalhado, vestido de jeito engraçado e se esforçando para ser gentil mesmo tendo sentido a mesma dor que ela.
"- Café." - respondeu acanhada.
Ele parou e olhou para cima... Não tinha olhado ainda...

Ela era linda. Não bonita como uma modelo de revista ou uma atriz de cinema. Ela era simplesmente linda. Sem aquela maquiagem escrota ou toda aquela luz que se usa no mundo da moda. E sem parecer vulgar ou uma freira também...
Ela parecia ser exatamente o que queria. Linda. Linda demais pra João dizer qualquer coisa sem parecer um idiota. Ele ficou sério olhando pra ela, sem palavras.
Pensando que aquela era a mulher mais bonita que ele já tinha visto diante de si...
Foi quase constrangedor.

"- Café moço... Se arrependeu de oferecer ?"
"- NÃO !" - pulou João tentando se levantar e deixando os livros e papeis que havia juntado cairem novamente....
Kátia começou a rir e ele também. Trocaram seus nomes com um aperto de mão desengonçado.
Ele pagou o café.
Ela falava calmamente, contou que estudava psicologia, 7 semestre... Que gostava de cinema e de Beatles, principalmente do albúm chamado Revolver.
Ele falava rápido e era um pouco atrapalhado, fumou dois cigarros. Contou que trabalhava na empresa do pais. Adorava cinema e achava Revolver o album mais medíocre que os garotos de Liverpool haviam feito. Mas mentiu dizendo que também gostava muito... Lembrou-se até de uma faixa para provar que gostava.
Eles cantarolaram juntos até ficarem com vergonha um do outro.
Trocaram telefones ao descobrir que gostavam dos mesmo tipos de filme. Ele brincou dizendo que precisava a convidar pra ir ao cinema, já que um show dos Beatles não daria. Ela sorriu educadamente, mas não achou graça de verdade. Ele não percebeu.
Despediram-se.
Casaram-se 4 anos depois. Ela havia se formado. Ele aberto a própria empresa. Adoravam estar juntos. Viajavam conversando com o som do carro desligado. Trocavam apelidos engraçados. E fizeram vários amigos em comum.
Em uma dessas viagens, João escreveu na parte de dentro da porta do quarto com um canivete:
"João e Kátia - 2003".
Quando ela acordou ele lhe disse que não queria a perder jamais...
Apesar de normalmente não beija-lo sem escovar os dentes. Ela se permitiu e o beijou demoradamente. Disse que ele jamais a perderia enquanto o abraçava.

Eu não escrevi nada desde sexta feira porque estava viajando.
Fiquei no quarto em que João e Kátia haviam ficado a 6 anos atrás.

É isso : ) seja lá o que isso for...

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