sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Corações em lágrimas.

A sugestão me beijou o rosto. Isso aconteceu na semana que vem. Quando o vento da liberdade soprou em uma brisa que o futuro vê. E o adeus que ele me deu, virou primeiro capítulo de um livro que é impossível terminar. Um livro tão imenso que tudo o lê ao mesmo tempo. Cheio de desenhos, mapas, figuras e desdobramentos. Uma linda história de final triste.De um pássaro a voar em câmera lenta. Só ele flutuava no oceano de oxigênio em que vivemos. Lá em cima, barcos fantasiados de nuvens deslizam pelas ondas siderais, usando as correntes do vácuo para ir para todos os lugares. Entrando e saindo de buracos negros, todo o tempo. Escorrendo a existência para novas realidades. Onde pessoas fazem planetas. Perto de onde tudo começou. O princípio da antiga existência. Onde a luz fala de boa vontade e da doença que é a falta de inteligência. Onde as pedras dão conselhos a mineiros. E as catapultas só lançam sentimentos. Hoje não tem amor. Não, ele acabou. O amor acaba como a água. Vocês tomaram toda. Jogaram ela no chão. A secaram no sol na esperança de que a chuva trouxesse a enxurrada. Mas a chuva usou a ponte no final da rua para ir embora. Agora isso é um deserto de gentileza. Vazio, duro e rude. E ninguém mais vai te ouvir chorar. Só teu coração. Que lamenta tanto quanto tu. Que se flagela em uma eterna dança convulsionante. Do abrir e do fechar das válvulas. Com pressão em veias e artérias. Onde os sonhos se transformam em matéria. E viajam anos luz até teu sono. Atormentando a tua eternidade com tapas e socos. Por isso acordas. Por isso te cansas. Por tudo isso e ainda muito mais te levantas. E tentas encontrar um sentido para tudo o que te rodeia. Um motivo para seguir o relógio. Uma razão para comprar outro sapato. Para pagar uma conta. Para gostar do dinheiro e de tudo que ele manda para a tua casa. E na falta de uma resposta verdadeira, além da merda que escorre pelo teu vaso, tu aprendes com ele o que é amor. E tens mais do que és. E guardas mais do que entregas. E sugas o universo como um bebe que firma a boca contra os rachados mamilos da sua mãe, vertendo todo viscoso e doce leite da vida. Assim quando alguém se aproxima da tua teta, tu rosna feito bicho. Mostra dentes feito lobo. Se mexe como cachorro. E uiva cheio de raiva. Cheio de razão. De tortas certezas mortas. Tu te levanta como um rei. De peito inflado e cetro na mão. Coroa na cabeça e pênis pendurado entre as pernas. Balançando o sino das eras. Sendo tão macho quanto tu aprendeu a ser. Escorraçando o próximo com o rabo entre as patas. Ganindo o medo de vossa santidade. Gemendo temores pelas vielas da cidade. Em um prazer mórbido de quem domina a mais pura das verdades.Para ti, és incomparável ó grande criatura. Cheia de pesadelos, vazia de ternura. Abençoada quando adormece para fugir do que te persegue acordado. Daquele que não impedes. Que apesar de todas as muralhas e castelos. E guardas e espadas. De súditos e portas trancadas. É muito pouco, ou quase nada. Além de um antigo pedaço da tua alma. Que tu nem te lembravas que existia. Mas que te assombra. Te perturba a noite. E te ataca os dias. Acompanhando teus passos para onde fores. Feito uma doença venérea pesada. Criando pústulas de verdade pela tua couraça. Causando náuseas por onde passas. Tanto que no teu fim, decides sair de ti. Fugires para longe. E lá desprendes do teu corpo, a tua própria alma. Cortando com dor, mas muito calmamente no fio da navalha. O que os outros um dia chamariam de: as tuas imperdoáveis falhas.

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