terça-feira, 13 de março de 2012

Perdendo tempo.

Correndo, escrevi um negócio na parede. Foi bem rápido. Quase não deu tempo de ler. E saiu como saiu, sem ver a linha do horizonte, sem pedir com licença, sem abraçar o traidor, só um punho cerrado ao redor de um lápis de ponta grossa, em uma parede de gesso do tamanho do céu. Desenhando.
Desdenhando.
Desvendando.
Desleixando.

Imaginei um texto sem começo meio e fim. Mas ele me fugiu. Na verdade ele nunca existiu. Passou por aqui no melhor estilo "depois eu volto, talvez". Juno me cantou uma canção. Guy Richie dirigiu um curta com o meu nome e depois colocou fogo na película em praça pública.

Cheiro de pele suada. De ferida que sangra. De valor que se quebra. E de amor que relembra. Nunca me dizem nada. Ninguém nunca me diz nada. Sempre que alguém me diz alguma coisa, é alguém e não ninguém. Fui roubado na calada da noite ou do dia, não sei ao certo. Me levaram um tubo, um pedaço de vidro e um punhado de tralhas que mereciam o lixo a mais de meia década. E quem rouba é ladrão.

Existe uma cultura que reza para Deus. E existem aqueles que rezam ao balseiro. O balseiro é entidade que leva as almas do nosso mundo ao mundo depois desse. Além da cortina dourada que está fechada no céu. Quando morremos o balseiro nos recebe na beira d'agua e conversa conosco. Pergunta o que fizemos em vida. Se fomos covardes. Se fomos ruins. Se enchemos nossos corações de ódio ou amor. O balseiro não tem olhos mas vê a resposta além da nossa boca. Vê a resposta do jeito que ela é.

Alí, se falarmos a verdade, o balseiro é grato. E se tivermos sido pessoas que pensam mais no bem do que no mal. Ele nos leva além da margem e nos deixa na próxima dimensão. Onde, não se engane. Viveremos com problemas e tristezas. Alegrias e ações, exatamente como nessa. Nasceremos e morreremos novamente.

Se admitirmos a maldade em nossos atos, palavras e corações, o balseiro no roga uma pena. Ali, com o remo em punho ele aponta sua mão de esqueleto e diz o que precisa ser feito para que possamos atravessar.

Se mentirmos, tentando nos passar por boas almas de coração puro e juvenil. Quando na verdade formos morcegos doentes e com os corações cheios de raiva e pus.
O balseiro nos deixará dizendo:
"- Me traga o que tomasse indevidamente. Me devolva o que foi pego, sem autorização. Me chame pelo seu nome e de joelhos implore desculpas. Quando puderes fazer isso, aí passarás."

O balseiro é irredutível. Porque existem sim coisas na vida que são irredutíveis. Existem sim, dias da vida que nunca voltam. E, por último, existem sim almas que sabem como pedir desculpas de verdade. Sem inveja. Sem rancor. Sem ódio.

Mas eu duvido, e muito, que tu saibas do que eu estou falando.

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