quinta-feira, 4 de novembro de 2010

"Ei, Sigur Rós me alcança aquela garrafa de vinho ?"

Como o tempo que passa ao contrário, eu vi o dia. Começou comigo adormecendo enquanto a lua sorria. Com nojo da rima, só mais um cigarro e já não tenho mais saida. Pensei com os botões do Benjamin que a vida podia ser sempre diferente. Que me tatuaria a pele dizendo para esquecer do que é igual, da lagoa azul sem ondas, do fim das conversas e das lagrimas que voam do chão de volta aos nossos olhos.
E quando me sinto tão certo de mim, cheio de certezas absurdamente corretas. Repleto de razões e motivos. Completo, enfim... Penso que o mundo é meu amigo e o abraço apertado. Depois é que percebo que estou abraçando uma sombra, e sombra não se abraça.
"- Você já devia saber disso Lê..." - diz ela desdenhando da minha ignorancia.
"- Você nunca mais vai me abraçar...." - repete olhando pela janela. Trancada no reino Longe de Mim. E eu digo:
"- Tudo bem, tua janela é de vidro e você é muito pobre para comprar cortinas... Fico daqui te olhando, me basta te olhar. Me basta te ver sorrir, mesmo que para outro cara..."
E a sombra mal liga.
Eu continuo meu dia, meus relógios giram ao contrario e nas ruas os carros só andam em marcha ré acelerada. As pessoas se movem de costas, feito carangueijos mamiferos bípedes. E a lua se inflama num sol de paixões impossíveis.
Que atire a primeira pedra quem nunca pecou, penso eu com minhas unhas mutantes dos dedos dos pés. E me voam avalanches de acusações e rompantes de raiva. Banho de saliva e a intrépida agonia de saber que daria certo.... De saber que poderia funcionar. De saber que posso mudar tudo na minha vida, mas a única coisa que eu não conseguiria seria o passado.
Porque mudar o passado é coisa pra gente maluca. É coisa pra gente medrosa, que tem medo do futuro. Que diz que sabe o que quer, que diz que sabe onde quer chegar. Mas não se cansa de andar em círculos. Que não se cansa de pensar com metade do cérebro e nenhuma veia do coração...
Porque entre tantas meias mentiras, eu encontrei algumas verdades. Estavam sujas e empoeiradas, tinham riscos e uns insetos em cima... Limpei com água cristalina, fechei as feridas com curativos de ervas e fiz um afago amigo. Daqueles que se faz na mãe ou na irmã que chega de viagem... Daqueles que se dá em amigo de longa data agradeçendo pela ajuda. Daqueles com a sinceridade que só a verdade carrega na lágrima do olho brilhando...
E não deu certo.
Algumas coisas demoram anos para se tornar verdade, mas quando se tornam, o tempo se esqueceu de como eram boas. Algumas coisas são como vinhos de uma ótima safra, da melhor de todas. Que se estragam pelo desuso. Porque queríamos guarda-las pro Natal de 2012. E se o arrependimento matasse, eu não morreria. Porque não me arrependo, eu guardo um pote com vento no meu quarto. Tem cheiro de lembrança do amarelo antigamente que tanto amo. Guardo uma núvem em cima do guardaroupa. O nome dela é Hufu. Guardo o dia em que fui feliz numa pintura. E desenhei no meu interruptor um homenzinho que conversa comigo enquanto durmo. Ele se recusa a me dizer seu nome, mas gosto dele mesmo assim.

Por definição, a felicidade é:
gama de emoções que vai desde o contentamento ou satisfação até à alegria intensa ou júbilo. A felicidade tem ainda o significado de bem-estar.

Ser feliz é saber aonde se quer chegar. Não pelo resto da vida, mas ter um plano. Ninguém que não saiba nada de nada, ou de coisa alguma. Ou pense em nada ou planeje nada, é feliz.
Ser feliz é acreditar que vai dar certo.

Eu acredito e sei que vai.

A garrafa de vinho acabou, ótimo merlot :)



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