quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Com(texto)

Minha cidade é bonita. É serio ! É um bom lugar para viver. As pessoas criam raízes aqui... Vem de longe às vezes, trazendo suas famílias. Procurando o "algo melhor" que todo e qualquer ser humano sem doenças mentais, deseja. 
Temos orgulho de viver aqui. De fazermos parte do que é ser desse lugar. Muitos de nós ajudaram a reconstruir a cidade depois dos vários incidentes naturais que se passaram. Resistimos as enchentes, a doenças, a crises políticas e fomos adiante. Evoluímos muito nos últimos anos. A Oktoberfest mudou seu público e volta pouco a pouco a ter aquele ar bonito, quase lúdico. As reuniões de grupos de amigos que acontecem semanalmente também não deixam por merecer. As coisas vão bem, de fato... Em vários sentidos.
Pois bem, hoje eu voltava do banco até meu carro que estava estacionado em uma das principais ruas do centro, a Rua XV de Novembro, quando vi algo que me incomodou. A rua XV foi revitalizada e não são todos os que lembram como ela era antes. Tinha paralelepipidos antigos e irregulares por toda sua extensão. Não tinha uma calçada uniforme com faixas de segurança e vagas para veículos bem definidas. Não era arborizada, nem tinha lixeiros. Não era iluminada como é hoje ou tinha cameras de segurança que funcionam de forma duvidosa. Era outra rua, mais feia. Menos apresentável. Depois da revitalização, se tornou um lugar melhor, como o município vem se tornando. Mais limpo, mais bonito, mais seguro.
Pois bem, ia eu em direção ao meu carro recebendo o sol que atravessava as folhas das árvores com felicidade. Quando vi um pedaço de um dos canteiros absolutamente pisoteado. Mas tão pisoteado que já havia só barro. Vermelho como sangue que jorra de um ferimento.
É só grama, alguém dirá !
É verdade, é só grama. Mas ao mesmo tempo não é. Ao mesmo tempo, aquele pedaço de gramado com pouco mais de um metro quadrado, totalmente destruído, sendo pisoteado pelos pés apressados de quem não tem tempo a perder. É também um pouco dessa terra sofrendo. É um pouco de nós não se importando. É um pouco da antiga rua XV saindo do caixão como um zumbi do Thriller. Com a mão putrefata suja de terra cerrando os dedos e avisando que retornará a caminhar pelo mundo das "ruas vivas" caso alguém não lhe abata. Parei e perdi 2 minutos vendo quantas pessoas pisavam ali, sem nem perceber talvez. Não foram poucas, infelizmente.
Minha cidade aprendeu através das décadas que a força da natureza não é comparável a mísera existência humana. Recentemente perdemos uma Figueira que era mantida majestosa em frente a nossa Prefeitura. Ela não caiu, mas morreu. Os jornais publicaram a notícia, as rádios gritaram aos ouvidos, as televisões tocaram músicas de despedida e nosso Prefeito declarou sábia e solenemente:
"- Se depender de mim, não corto a figueira..."
Claro, quem gostaria de carregar o título de "usurpador de símbolos municipais" ? Ninguém que tenha alguma orientação publicitária, eu digo. Depois de um tempo descobriu-se que o motivo da morte da grande árvore fora a poda irregular que por sua vez, era/é responsabilidade da administração pública. Vergonhoso, eu sei. Mas a vida continuou e a natureza estendeu novamente sua mão em nossa direção... Um broto da antiga figueira nasceu em meio as suas raízes. Como uma promessa de que devemos continuar nosso caminho, aprendendo com os erros e repetindo os acertos.
O gramado pisoteado é algo trivial. Pouco importante eu admito. O que me incomoda são os passos sobre a grama. São as pessoas não se importando com o fato de estarem destruindo um pouco do que lutamos para construir. Exatamente como a grande Figueira morta na praça. 
Meu pensamento trilha um caminho débil, mas pode ser o fim desse ciclo: A figueira morreu por falta de cuidado e o gramado foi expulso do seu lugar pela pressa daqueles que não tem mais aonde pisar. Mas ainda assim, ainda com nossa negligência e falta de respeito a natureza nos devolve a vida. Nos dá uma nova árvore para a praça, basta que cuidemos dela. E mais grama para o canteiro, basta que paremos de pisoteá-lo.


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