quarta-feira, 3 de junho de 2015

"Se você for me soltar, me avisa pra eu fechar os olhos. Não vai doer se eu não me ver cair." (Medulla - o novo).

Quando o meu país se vê encarcerado na palavra de mentirosos. Eu me sinto um idiota ao escrever sobre o que escrevo. Não sei se é para ser assim, ainda assim, prefiro dizer o que carrego no peito e ser de verdade do que escrever para ser legalzinho. Então, por mais que não seja legalzinho, eu escrevo isso com medo. E não é um medinho do cinema na sexta a noite com a grande tela passando um filme de monstros e trilhas sonoras assustadoras. Não. Também não é um medo de adolescente naquele momento que só adolescentes que mataram aula ou brigaram no recreio conhecem. Não. Muito menos um medo desses que tu dorme e passa. Um desses que tu assiste "Adventure Time" e se esquece. Nem um medo que amigos e taças de vinho fazem parecer bobo e pequeno. O medo que eu sinto enquanto escrevo isso, é melhor representado pela idéia de que existe a possibilidade de um dia o atual governo do meu país vir atrás de mim, dependendo das palavras que eu escolher digitar aqui. É um medo de navalha na carne, mas sem navalha de metal ou carne que sangre. É um medo de que estejamos tão afundados na merda que os corruptos cagaram que não haja mais solução. Um medo que faz a voz dentro do meu peito dizer: "ta na hora de ir embora?" enquanto eu respondo que não, para ninguém. 
Enquanto o país inteiro vê o que o mundo inteiro já via a muito tempo, eu penso que a dor de arrancar esse curativo é o que nos dá a chance de fecha-lo. Que sem essa dor, estaremos eternamente boiando nesse poço de rivotril, alucinados com o carnaval. Com o país das bundas e das belezas naturais. Com essa gente toda que "não desiste nunca" porque são brasileiros, mas me parecem mais mortos vivos vagando pelas ruelas e becos sem saídas de uma cidade destruída por terremotos e maremotos. Achando tudo lindo e que amanhã vai melhorar. Enquanto outra mãe pari seu filho com sangue e dor na frente de uma maternidade fechada. Enquanto outro filho da puta aceita não sei mais quantos milhões para ajudar o interesse de algum investidor. Enquanto outro moleque é pego pelo tráfico por não ter tido alguém pra lhe ensinar a ler um livro. Enquanto outro pastor evangélico arranja mais algumas centenas de "fieis" para julgar a porra de uma anúncio do Boticário, só porque não entende que dois homens e duas mulheres podem ser tanto uma família quanto um casal hetero pode. Enquanto toda essa idiotice se junta como uma massa de pão e é sovada pelas mãos de quem devia nos comandar, mas não o faz porque está muito interessado em guardar seu dinheiro em algum banco fora desse lixão que chamamos de país.
E vem o partido dos trabalhadores com um anúncio na novela dizendo que a coisa vai melhorar.
E a moça do jornal diz que agora a doméstica tem mais direitos.
Enquanto meu vizinho acende um baseado e eu sinto o cheiro na sala do meu apartamento pensando no que realmente é a lei? 

Enquanto a minha raiva se cristaliza em algo tão grande que eu nem consigo mais descrever.
E espero, do fundo do meu coração, que em breve eu também não possa mais a controlar.
Porque aí ela deixa de ser problema meu e se torna de vocês também.


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