segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Se houver Deus.

Se houver Deus, eu sei que ele vai nos perdoar. Se não houver, nada mudará.
Esse texto até pode ser escrito por mim, mas a última coisa que ele é, é meu. Digo isso porque já escutei muita opinião sobre esse assunto e sei como pode ser violento construir ou descontruir a religião em alguém. E não, esse não é o meu propósito. Definitivamente.
Para começar, acreditar ou não acreditar em alguma forma de religião é algo com muita pouca importância para uma relação distante. Eu não quero saber se meu chefe ou meu funcionário acha que Buda é o cara ou se considera toda forma de crença um forma de charlatanismo. Deles (do meu chefe e do meu funcionário) eu quero uma boa relação profissional. Com ética, seriedade e comprometimento. Fim. Acredite em quem você quiser durante o processo, nada mudará para mim.
Mas ainda assim, algumas pessoas nos fornecem as suas referências matrizes (que por sua vez, foram recebidas por elas através de outros ícones ou formadas pela ausência de matrizes originais). Essas matrizes são por exemplo, o time de futebol para que você torce. Ou um comportamento social, o de roubar ou o de não roubar por exemplo. E também a religião. Temos algo de parecido com as pessoas que estavam ao nosso redor enquanto nos desenvolvíamos como seres humanos adultos. Essas matrizes também podem vir de amigos, familiares indiretos/distantes e de outras forma de influência como filmes, livros, etc.
Ok, a religião é uma forma de costume. Você aprende a ser religioso da mesma forma como aprende a falar. Ou você aprende a não ser religioso da mesma forma que aprende a não roubar. Ou qualquer combinação que você quiser. Entenda que isso é adquirido, ou que pode ser. Dependendo do caso.

Somos criatura finitas.
E em algum ponto da nossa existência, tendemos a olhar para dentro e ver nosso próprio fim.
E ali que muita gente resolve acreditar em alguma religião.
Eu chamo isso de "cair cagado". Quando o cidadão descobre que vai morrer e que nada mudará isso, a nossa natureza viva cria um complexo sistema de pensamentos e descargas químicas que nos permitem acreditar na popular "vida eterna". Seja ela o paraíso ou o renascimento em outra forma. Ela representa a continuação. A ausência de interrupção do viver.
Mas religião foi bem além disso.
Eu gosto de dizer que vai além disso, mas termina antes de dizer que os dinossauros não existiram. Porque sim, eles existiram.

Tomo aqui como referência, a crença indiana de que Krishna carregava o Universo em todo seu infinito dentro de sua boca. E que sua mãe, Yasoda só percebe quando tenta retirar da boca do filho um pouco de sujeira que este comeu do chão. A algum tempo perguntei para um hindu o que ele achava dessa história. De como ele via isso.
Ele me respondeu: 

"- Eu vejo isso com a minha alma."
Ver com a alma? Nosso mundo, nossa existência, nossa ciência e toda tecnologia que nos cerca atualmente nos permitem ver somente com os olhos. As pessoas usam frequentemente argumentos racionais para dizer que a religião é uma crença sem comprovação física. Uma historinha para crianças.
Meu amigo hindu continua sua fala dizendo:
"- Se houver algo a ser acreditado na crença de que Yasoda viu o universo infinito dentro da boca de seu filho, Krishna, é que uma mãe e um pai percebem no filho as eternas possibilidades do mundo. Como se o filho fosse literalmente "um universo de possibilidades". Yasoda por tanto, vê o que o seu amor de mãe lhe permite ver. Isso é tão diferente do que nós vemos naqueles que amamos? Que consigamos ver universos infinitos de possibilidades nas bocas, almas e vidas do máximo de pessoas ao nosso redor. Isso é tão diferente de amarmos uns aos outros? Não."
E quando lhe perguntei se ele acreditava que Yasoda e Krishna realmente existiram ele me respondeu que sim: 
"- Claro. Eu sou Krishna e nesse momento você é Yasoda. Vendo, através da minha boca, um universo de possibilidades."
Muito ruminei antes de escrever essas palavras.
Mas se alguém chegou até aqui e estiver disposto a tentar. Que faça o seguinte:
Quem crê acredita.
Quem não crê, não acredita.
Acreditar é dizer que é verdade. Ou que pode ser.

Não acreditar é dizer que não é verdade. Mas que a verdade é provavelmente outra. 
Não acreditar é acreditar em outra coisa.
Mas ainda é acreditar.
Quem não acredita, acredita em outra história. Seja essa história a ciência, outra religião, ou nada.

Não acreditar na religião e acreditar na ciência, é acreditar.
Não acreditar em religião é crer.

Todos acreditamos, afinal.



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