segunda-feira, 12 de maio de 2014

É muito pouco...

Eles começaram atirando bananas em campos de futebol. 
Muitos de nós, a maioria, achava que eles eram um pequeno grupo de pessoas. Um grupo de poucas pessoas ruins. As fotos voavam pela rede mundial de comunicação. Lotando revistas, jornais e televisões com a notícia. Pessoas que postavam desacordos com a atitude. Pessoas falavam sobre o assunto nos bares, empresas e casas do país. A maior parte das opiniões eram contrárias ao ocorrido. Autoridades se manifestavam a respeito. Diziam condenar. Condenavam publicamente. Campanhas eram instauradas. Publicitários e marketeiros cheios de "sacadinhas digitais" tentavam a sorte na roleta russa da viralização. Apostando em hashtags e artes de camisetas ou fotos no instagram cheias de acidez.
Parecia que estava tudo bem.
Mas foi aí que aconteceu.

Emergindo como o Kraken das profundezas de um oceano. E foi assustador.

No princípio a maioria de nós ficou assustado. Duvidamos que seria verdade.
Mas alguém disse que tinha o direito de não gostar de negros. De dizer que eles realmente parecem macacos. Que são inferiores que os brancos.
E quando um de nós falou que tudo isso já havia sido dito antes. Que alguém no planeta já havia cometido esse erro. Que isso era absurdo.
Foi ali que alguém falou que como fumar, beber ou assistir cachorros transarem, os que não gostavam de negros também tinha direito de ter sua opinião.
Um cientista foi a televisão dizer que eramos todos humanos e iguais.

Um pastor religioso gritou que não somos todos iguais.
O pai de um menino branco empurrou o pai de um menino negro na saída de uma escola publica.
Um proprietário de bar se negou a atender um homem branco que tentava comprar um café e um salgado em uma quinta feira de manhã.
O vizinho de alguém espalhou cartazes pelas ruas de seu bairro dizendo que #somostodosmacacos. E um homem negro se ofendeu com as palavras. Os dois começaram conversando e o assunto terminou quando uma faca de 25cm penetrou o abdomem de um deles. Enquanto o sangue jorrava vermelho quase negro.
Nas empresas, as pessoas começavam a falar baixo. Umas com as outras. Em coxixos conspiratórios. 
O silêncio se adensava. E começava a pesar.
As opininões eram postadas nas mídias sociais. Cheias de razão. Cheias de embasamento. Cheias de certezas.
Até que um motoqueiro negro foi derrubado por um motorista branco.
A discussão no trânsito que acontece todos os dias no mundo, virou violência. Outros motoristas negros tomaram partido pelo motoqueiro. Outros motoqueiros brancos tomaram partido pelo motorista do carro.
Quando os jornais mostraram as imagens aéreas dos carros pegando fogo no centro do Rio de Janeiro. As pessoas em casa pensaram que isso era comum no Brasil. Mas logo outras cidades tiveram o mesmo problema.

Uma senhora branca foi derrubada por jovens negros em Porto Alegre. Ninguém acreditou que ela seria espancada até parar de respirar. Mas aconteceu.
Um homem negro teve seu corpo içado a um poste em uma rua, de um bairro nobre de Manaus.
Uma criança branca cuspiu no rosto de uma criança de outra etnia em uma escola publica em São Paulo. Os pais terminaram se socando no estacionamento do colégio. Os professores tomaram partido e brigaram entre si também.
Uma mulher chorava a dor de uma mãe enquanto seu filho era levado por uma ambulância.
Um policial atirou para cima para tentar interromper um embate.
Os telefones tocavam.
As pessoas corriam.
Os programas de domingo tentavam todo tipo de campanha publicitária ou reportagem forçada para trazer a população de volta ao estado apático original.

Mas algo havia começado.


Por culpa de todos e de nenhum.




E desse vez o final não seria nada parecido com uma novela do Manoel Carlos.

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