quarta-feira, 19 de março de 2014

Pode ser cruel a eternidade.

A repetição é algo tão devastador que enquanto escrevo essas palavras, tenho a mais nítida impressão que já escrevi 62 textos com o mesmo título. Na vida.
E é bem possível que não seja só uma impressão. Que seja de fato um dos limites da minha criatividade sendo determinado. Publicamente, como um muro. Ainda assim, a vontade de dizer é tão maior que a vergonha de repetir.
"- Não há vergonha nisso!" me diz uma garrafinha da água vazia de dentro da lixeira ao lado da minha mesa.
"- Calada garrafa." - respondo sem olhar.
"- Humpf! Egocêntrico!".
"- Eu não vou me importar com a opinião de uma garrafa..."
"- Pois saiba que Deus está em todo lugar! Eu posso ser Deus!!!"
"- Eu nem sei se Deus realmente existe..."
"- Incrédulo."
"- Garrafa!"
(Silêncio "ignorativo")
"- Sim eu sou uma garrafa... E dai!?" - pergunta ela irritada.
"- E dai que se você é uma garrafa essa é toda definição que preciso te dar. Sua garrafa vazia, largada no lixo da vida".
"- As tuas metáforas estão cada vez mais fracas, sabias Leandro?"
"- Se tu não fechar a tampa agora, eu vou te jogar em um incinerador. E gargalhar feito um louco enquanto tu arde..."
"- Tu nem sabes onde existe um incinerador na tua cidade. Não vais me jogar em nenhum."
"- Eu te amasso e te enterro em terra molhada. E dança em cima do teu túmulo!"
"- Leandro, você está falando com uma garrafa. Tua sanidade já era."
(Silêncio profundo).
"- Me ignorar não vai adiantar".
"- Garrafa, por favor, para!"
"- Paro."
(Silêncio triste)
"- Mas antes, precisas saber que isso é mais do que um sonho..."
"- Eu já sei. Não te aguento mais. Tchau." - levantei e fui embora da minha sala.
Foi então que meu grampeador perguntou de cima da mesa:
"- Garrafin, se importa que eu escreva sobre isso no meu blog?"
"- Claro que não Gramps! Manda bala ;) !"

Sem comentários:

Enviar um comentário