quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Tudo que é preciso.

As dores da alma não encontram acalento nas coisas do mundo. Sentir a alma latejar, pode ser uma das piores sensações que uma criatura viva pode sentir. A alma, quando dói não abandona a dor facilmente. É diferente de bater um dedo do pé em uma paralelepípedo saltado da rua. A topada dói claro. Pode até sangrar, quebrar a unha e precisar de pontos em alguns casos. Mas a dor da alma é uma sensação latente que normalmente leva décadas para se entender. Alguns de nós recorrem a terapia, outros a remédios, tem aqueles que encontram conforto na gentileza das amizades e nas verdades das taças de vinho. Não vou julgar. Cada um lida com as suas questões como bem entender. Respeito é uma forma fácil de compreender o outro. Aquele que você não respeita, não é compreendido por ti.
De qualquer forma, pensei numa solução para as minhas dores: escrever esses textos. Alguém me diz que escrever é destilar, é refinar os sentimentos. E pode ser verdade. Muitas vezes, meu dedos dançam no baile sobre o teclado e eu mal percebo o que eu mesmo estou dizendo. É uma forma bem peculiar de liberdade. De se auto conhecer. Escrever e reler o que foi dito. Mas nesse caso, escrever não é preciso. Não no sentido de necessidade, mas de exatidão. Quando se escreve, ou se olha para dentro de si mesmo, não se tem certeza de qual será o destino. Uma jornada sem volta, quase todas as vezes. Um mergulho para dentro de si próprio. Gerando um distanciamento sobre o todo que somos.
Isso é algo a se fazer em um novo parágrafo: toda vez que se assume uma viagem desse tipo, um novo "si próprio" nasce. Toda vez que se toma banho de mar, que se deixa para trás alguma verdade inquestionável que carregávamos no peito, toda vez que se dá um passo em uma nova direção, uma nova versão nossa se manifesta. E a falta de precisão é a poesia desse movimento. Como um desenho antes de ser desenhado, naquele breve instante entre o lápis e o papel, no qual os olhos imaginam e as mãos se contraem para riscar o primeiro traço. Não há desenho algum ainda. Não há traços. Só existem pensamentos, esperança e laços. E tudo se desfaz na linha que é deixada no papel. Tudo se justifica. Até as imperfeições mais evidentes. Quando há entrega, não há erro. Um passo dado em direção ao desconhecido é mais honesto que um coração que busca o abrigo comum. Respiramos enquanto nossos corações batem, centenas, milhares de vezes por dia. E não há ninguém que possa respirar por você. É preciso que cada um respire o próprio ar.
Assim como enfrentar as próprias jornadas. Alguém pode lhe dizer como ir. Quando ou como ir.
Mas ninguém poderá conhecer a paisagem por você.

É preciso que cada um enfrente as dores da própria alma.
Não há atalho para o seu próprio destino.

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