terça-feira, 16 de outubro de 2018

O Brasil em eleição (2018).

Como eu quero começar esse texto? Depois de escrever umas 8 frases diferentes e apagar eu chego a conclusão que a forma mais honesta é assumir que não sei como começa-lo.
Hoje é dia 16 de outubro de 2018. E o segundo turno das eleições no Brasil nos deixaram com as opções de Jair Bolsonaro, Fernando Haddad, anular ou votar em branco. 

É isso.
Para poder falar sobre esse assunto eu preciso voltar a primeira vitória do Lula a presidência da república. Em outubro de 2002, eu assisti a camera do helicóptero filmando o carro que saia da garagem com então presidente eleito pela primeira vez, Lula. A camera o acompanhou por todo trajeto até o palanque armado para o discurso da vitória. E enquanto ele subia no palco, o Brasil fervia em sonhos. Borbulhávamos pela possibilidade de um futuro diferente. De uma nação soberana, com mais justiça, menos corrupção, menos tudo que éramos e mais tudo que nunca conseguimos ser de fato...
Eis que o ex presidente Lula se aproxima do microfone e a população pouco a pouco se cala para ouvi-lo.
Ele chora um choro bonito. Um choro de futuro. Um choro de quem é verdadeiro. Um choro de nascimento, de vida.
E as suas palavras foram:

"- A esperança venceu o medo."
O mundo o ouviu dizer essas palavras. Elas ecoaram por toda galáxia conhecida. Reverberando corações por todo globo.
A esperança venceu o medo. 

Essas palavras me marcaram profundamente. Eu nunca votei no Lula, não tenho certeza por quê. E não pretendo entrar nessa questão aqui. Mas a verdade é que eu nunca votei para o PT na minha vida. É claro que isso não me impediu de compartilhar dessa esperança, como a grande maioria dos brasileiros...
Mas os anos que se sucederam daquela frase, com a reeleição de Lula e os 6 anos de Dilma com mais 22 meses (até aqui) de Temer acabaram sendo um pouco diferentes do que o Brasil esperava. Perceba caro leitor(a), diferentes do que o Brasil esperava não é bom ou ruim. E novamente, tentando não analisar especificamente o sentimento individual ou regional sobre esse período, eu pulo diretamente para o extrato que essa equação nos deixou. Eu vou diretamente para o cenário que se cristalizou no Brasil após esse período.
Somos divididos hoje entre os que acreditam que o governo Lula (quase ninguém fala de Dilma) foi bom e os que não acreditam nessa sentença. E é nesse cenário, nessa dicotomia aguda, que nos incluímos a equação o fator Jair Bolsonaro.
É como se eu começasse outro texto para falar dele. Serio. É até mais difícil do que o primeiro parágrafo que escrevi lá em cima...
Jair Bolsonaro é um homem com uma longa história política a ser considerada. Bolsonaro assume como vereador no Rio de Janeiro em 1989 e já dois anos depois (1991) vence a eleição para Deputado Federal, cadeira que ocupa até os dias de hoje. São até aqui, 29 anos de cargos públicos, de vereador a última eleição como Deputado Federal. Nesse período, trocando diversas vezes de partido político (ao todo os partidos foram: PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL).
Dono de frases polemicas, Bolsonaro que é da reserva militar, começou de leve e aumentou a temperatura no decorrer da vida pública. Hoje se posiciona sobre alguns dos grandes tabus da sociedade com frases curtas e determinadas. É a favor da liberação das armas, contra o aborto, contra a legalização das drogas, a favor da preservação do status de modelo único da família tradicional cristã, já declarou mais de uma vez que é a favor do uso de violência por parte da polícia e se posiciona como "alguém diferente que vai mudar essa porra toda que está aí...". Não sei muito mais o que escrever sobre ele.
Agora é importante falar um pouco sobre a realidade da grande e tão ampla sociedade brasileira.
Nós somos, talvez, uma das sociedades mais corruptas do mundo. Matamos mais pessoas por ano do que muitos países que são considerados zonas de guerra. Somos os reis do altos impostos e da impunidade. Nossos sistemas básicos de educação, saúde e segurança estão em colapso a décadas. Tudo demora muitos anos para acontecer, quase sempre é tarde demais. Quase sempre custa mais do que deveria. Quase sempre não fica como deveria ser. Quase sempre decepciona o contribuinte que pagou seus impostos para utilizar do serviço  ou obra... A sensação de ser brasileiro pode ser compilada em uma única palavra: desespero. E para piorar, estamos a tanto tempo em desespero que já nos acostumamos com o sentimento. É uma espécie de trauma que foi fagocitado pelo mind set coletivo. E agora faz parte do nosso povo ser "brasileiro e não desistir nunca".
Por tempo demais nós vivemos assim. Ouvindo que vai melhorar, que vamos mudar, que vamos conseguir, que vai dar certo... E até hoje não aconteceu. E antes que alguém me diga que deu certo, mas que não foi pra gente que deu certo. Foi para quem mais precisava, eu vou te dizer que dar certo inclui uma mudança que todo Brasil espera. Nordestinos e sulistas. Analfabetos e doutores. Mulheres, idosos, religiosos e ateus. Todos nós, acreditamos que mudar o país passa por um processo de redução da corrupção. Então, mesmo que a gente assuma (e eu não estou assumindo que sim nem que não) que Lula reduziu a pobreza do Brasil. Ainda vamos confrontar a dura verdade de que apesar disso, o PT continuou diversas práticas corruptas. Comprovadas por escutas, delações, processos e julgamentos.
Aqui, em 2018 fundos, quando o país opta por Bolsonaro e Haddad, nós optamos pelas presas do tubarão ou do tigre. Qualquer um dos dois nos fará sangrar, não se engane.
Não dá nem para dizer que isso é novidade. A gente sempre sangrou. Do negro nascido aqui e educado na chibata, até o jovem que toma um tiro ao ser assaltado na zona nobre do Rio de Janeiro.
E não vai ser agora que vamos parar de sangrar. 


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