quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Eu não levo jeito pra dizer algumas coisas. Mas eu sinto todas elas, o tempo inteiro.

Ela foi lá. Mãos dadas com a dele. E ele a viu lá, segurando a mão dele. Os olhos deles só se encontraram por um segundo. Mas foi um daqueles segundos que não termina nunca. Aquele segundo, ainda está lá. Espesso como fumaça, pairando no ar. Preenchendo todos os espaços.
O olhar do meu pai sorrindo pra mim. Me mandando tentar ser feliz, não importa o que...
Um cachorro que eu vi morrer, piscando cada vez mais devagar enquanto sangrava. Sem pedir ajuda. Sem ficar desesperado. Só aceitando o fim da sua existência com a calma que nunca nenhum Buda teve.
O por do sol que nunca teve fim, mesmo quando a noite chegou.
O inverno em que a gente se abraçou pra se esquentar, mas ficou abraçado por carinho. E a tua cabeça se encaixou um pouco abaixo do meu peito. Porque tu sempre foi pequena demais pra se defender do mundo livre, sozinha. Apesar de sempre dizeres que podias.
Ele voltou pra casa. Foi triste pelo caminho porque aprendeu a ouvir sua própria alma. E agora ele sabe, o quanto dói. Porque seu coração fica lembrando daquele "um segundo". Daquele par de olhos claros que acendem a luz na sua noite. Da boca que sempre o recebeu com sorriso e toda atenção. Do cabelo que escorria por entre os dedos da sua mão como água fugindo pro mar. Da forma como eles dançavam sozinhos, rindo um do outro. Dos dias em que as noites se fundiam as tardes e as eternidades e a novos dias novamente... Do som que existia lá. Da varanda. Em outra época. Em outra vida. Em outro lugar...

Ali parado, ele se esforçava para não olhar.
Mas seus olhos eram dragados aos dela como um farol que guia navios na tempestade.
E por mais que lute, acaba por desistindo. Acaba se entregando. E é levado pelas ondas desse mar. Imaginando que do mar ninguém chegou ao fim. Mas o que seria o fim de qualquer coisa, se não um novo começo para outra. Enquanto esses pensamentos passavam por sua cabeça, o mundo girava rapido demais. Um timelapse da vida real, onde todos os rostos estão borrados. Menos o dela. Menos, o dela. 


Ela foi embora. E levou um pedaço dele. Um naco da sua existência. Tão gigantesco, que alguns do que estavam lá ouviram o som que fez quando ele quebrou.

Em casa ele escreveu: "Devolve o que você tirou de mim... Me desculpa e devolve."

Ela respondeu:

"Ontem eu chorei, mas ontem passou. Hoje é a tua vez, hoje vai ser ontem um dia. Amanhã quem sabe nenhum dos dois chore. Amanhã quem sabe, seja outro dia..."



Mas amanhã não foi. 


E ele ficou sentado, fumando um cigarro na chuva. Enquanto o amanhã não vem.

Enquanto ainda é hoje...

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