segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Dialogando com o vento.

Escrevi isso em uma máquina de escrever. Daquelas que são verdes azeitona, com teclas cinza enferrujada e uma alça para carrega-la.
Vai ver, foi por isso que deixei essa letra assim. Tão feia quanto o texto é ruim. 

O vento me soprou um dia inteiro. Foi do começo ao fim. Lembranças de amigos distantes, de pessoas que foram embora e de criaturas imaginárias. Vi figuras enormes, feito ursos de pelúcia monstruosos que caminhavam pelos dias do meu passado. Um duocórnio. Uma cobra com asas. E uma mão com quatro dedos e um rosto na palma.

Tudo que eu peço, é que seu joelho seja dobrado. Me foi dito. Mas não, não o dobrei. Morro livre antes de arrependido. Melhor assim do que um louco varrido. E tantos são eles, os loucos. Quanto mais sãos pensam ser, piores se tornam. O silêncio é profundo. Mas ao bom ouvido, o grito se escuta. Mudo e intrépido, mas ávido e bonito. Como sorriso distante. Como antigo feitiço. Como acorde em sétima menor. Com menos tempo, eu diria: me leve daqui pássaro gigante. Mas não hoje.
Hoje eu me calo e acompanho. Eu sigo. Eu vejo. Eu ouço. Eu venço. Obrigado, eu digo. Nada, escuto. A noite congela. E o dia muda o assunto.

Pé descalço no barro. Mundo girando, sempre tão rápido. Musgo nos ombros. Paranho nos olhos. Sinto meus dedos rangerem. Me dói a alma. Me dói o existir. Me sinto além de mim. E sopra o vento. Sem sentido. Como um carinho de ponta dos dedos nas costas. Me arrepia a pele e ergue os pelos. Me treme a calma. Me acalma a vida. Muda o gosto. Desfaz os rostos. E me abandona. Em paz. Sem paz. Nunca mais. 

Sem mais.
Sempre mais.
Até, mas, não mais.

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