quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mímica temporal.

Vem das larvas o canto que eu escuto. É baixo e por vezes sem sentido. Ajuda se você se esforçar pra ouvir. Fecha os olhos e a boca. Abre bem teus ouvidos e aproveita pra tentar abrir junto um buraco do tamanho do meu punho, na tua testa !
Dá pra entender:

Beijo suave e um abraço quente.
Dizer tchau é sempre uma merda, adeus então ! É quase insuportável.
Tão difícil que as vezes você prefere falar sem se ouvir. Que é pra nem lembrar que falou. E protela.
Espera.
Deixa pra depois.
Sofro menos, pensas.
Outra hora penso nisso.
Mas não tens como sair da fila, sair da fila é pra perdedores. Você fica alí, como que com os pés enfiados na areia esperando a onda se chocar contra teus pensamentos.
Dizendo: eu preciso fazer força. Preciso conseguir.
E dá pra conseguir.
A onda aumenta de tamanho e o dia passa.
O sol desce e sobe e o vento passa.
As nuvens correm pra longe e as de longe vem pra perto.
Um pássaro voa diante dos teus olhos em camera lenta. E tu deseja ter asas.
E a onda continua vindo.
Vai ser uma porrada daquelas.
Sentes as primeiras gotas geladas no teu rosto e peito. Sentes o sal na língua e é chegada a hora de fazer uma careta. Daqueles que a gente faz quando pari crianças, levanta pesos absurdos ou acha amargo o gosto de alguma coisa.
Teus braços se tencionam pra frente. Teu tronco pende pra frente. Tua cabeça vai um pouco pra frente. Tudo é a tua frente.
O pássaro desapareceu, a água preenche todo teu campo de visão. Teu pés estão totalmente enfiados dentro da areia grossa, até o meio dos tornozelos.

Explosão.

Faz parte da diversão abrir os olhos na hora. Ver.
O cheiro da água que veio do outro lado do planeta é impagável.
E eu gosto do que não pode ser pago. Tu não, tu gosta do que podes comprar. Ter. Trazer. Usar. 
Eu ainda prefiro o sentir.
A água desce teu corpo feito um pano. Volta pro mar estendida como um lençol.
E é hora de sorrir.
Onda ? Lá vem outra.
Eu aproveito os estouros pra chorar sem o mundo ver. E tenho menos de meio segundo pra correr todas as lágrimas que preciso.
Não sou borboleta de ninguém e sempre me vi verme do existir. Cuspo de nojo ao lembrar que deixei tudo inclusive o sentir. Mas o passado é uma bigorna que nunca existiu e fazemos questão de carregar. Pra alguns é invisível e pra outros é super fácil de levar. 
Exatamente, como a próxima onda que veio no meu mar.

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