quarta-feira, 19 de abril de 2017

Comunicar e ser.

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É, a comunicação sabe ser bem impertinente. Em uma época onde todo mundo carrega o acesso a informação no bolso, e escolhe o que vê, quando vê, como vê. A comunicação precisa ser bem pensada. E bem repensada.
Eu vejo anúncios de revistas impressas e digitais, aí vejo placas de rua gigantescas e posts em mídias sociais que não tem mais fim. Eu sento na frente da TV, com o celular na mão e os anúncios saltam como milho virando pipoca. Meu celular apita, e eu recebo um SMS de uma operadora de telefonia móvel me oferecendo a chance de ganhar um carro mais 1 milhão de reais caso eu responda meu CPF por msg. Caminho na rua e me entregam panfletos que eu jogo no lixo sem ler.
Mas será possível?

Eu abro a minha timeline do facebook, e a quantidade de coelhos que aparecem na páscoa é excessivamente chata! Só que tudo bem,  as pessoas postam coelhos na páscoa. De repente, surge uma marca local que eu nem curto a página se "oferecendo" para o meu like com um post de páscoa. Algo do tipo: Feliz páscoa, impressoras com 30% off em abril.
Inferno!
Desço mais, recebo outra: Feliz páscoa, picanha em promoção no supermercado XUXUZINHO!
Serio?!

Continuo descendo, deve ter fundo esse poço: Feliz páscoa! Páscoa é época de renovação, troque seu carro na garagem BLABLABLA!
Desisto!
As pessoas consomem isso mesmo?
Ou simplesmente usam o google/lista telefonica/contatos para fazer uma procura quando precisam?

"Ah mas precisamos comunicar o que estamos fazendo!"
Precisamos!
Pera ai!
Precisamos?
Será que um dos pontos de realmente evoluirmos a comunicação dos nossos clientes não seja o de pensarmos em mais espaço para os nossos consumidores?
Será que não é chegada a hora de deixarmos que os consumidores decidam o que realmente querem?

Porque do jeito que tá a impressão é de que o mercado publicitário esteja cada vez falando mais alto. Gritando a todos pulmões produtos, serviços e marcas.
Até que fica todo mercado berrando tanto, que os consumidores precisam usar tampões de orelhas para conseguirem transitar por esses meios (vide AdBlock, por exemplo).
Quem grita mais alto vende mais?
Não Jão. Não vende. Faz tempo que não...
Esse conceito é tão torto quanto o "fale mal, mas fale de mim" ou "comunicar-se boca a boca".
Veja bem, não estamos falando em não fazer nada. Estamos falando em fazer de um jeito diferente. Em comunicar e ser uma alternativa que possibilite a mudança.

O ser humano é um animal coletivo. Já estudamos isso. Na nossa maioria (e isso não significa a totalidade), aplicamos o conceito de bando para muitas das nossas ações e relações.
Comemos em praças de alimentação, porque comer sozinho em um espaço isolado é considerado desagradável.

Caminhamos em espaços coletivos, porque transitar sozinho em uma via pode ser até perigoso.
Achamos graça das mesmas coisas, porque as vezes a piada nem precisa ser tão boa, mas eu acho graça do jeito que o outro ri.
Temos linhas de pensamento similares. Determinadas por nuances tão frágeis que na maior parte das vezes nem conseguem ser contabilizadas.
Ok, a massa nos representa de diversas maneiras.

Mas toda comunicação precisa ser massificada para funcionar?
Enquanto eu vejo um amigo me falando dos números da indústria, eu me lembro das primeiras aulas de marketing da faculdade.
"- Os números esfriam as relações, cuidado com eles..." - dizia meu professor.
Demoramos anos para entender isso, meu professor já morreu inclusive. E eu fiquei ruminando isso por quase uma década. Ainda hoje eu me encontro com esse pensamento de vezes em quando.
Os números esfriam as relações. 
Claro, muitos entendem que o número te aproxima do foco. Porque enquanto tu estiveres vendendo 10% a mais do que tu vendias no mês passado, tudo vai estar lindo, certo?
Talvez.

Aumentar a quantidade de vendas efetivadas deve ser o objetivo principal de toda empresa? O lucro é mesmo o ponto final dessa relação que nós travamos com nossos clientes?
Existem alternativas?
Ao meu ver, a pergunta é: onde é a linha de chegada?
Muitas marcas terminam na venda, mas as marcas que eu realmente admiro continuam correndo depois da venda acontecer. E não necessariamente visando a próxima venda. Mas sim a construção de uma imagem sólida em relação as expectativas dos consumidores.
Agora veja bem, nobre leitor, a palavra CONSUMIDORES precisou ganhar destaque.
Nós consumimos mais do que produtos e serviços. Nós consumimos atitudes. Consumimos posicionamentos. Talvez, a efetivação da relação comercial na era digital seja a ponta de um iceberg que esconde submerso uma série de relativismos individuais de cada um.

Você não compra só o que ama, eu sei. Mas você definitivamente não consome o que odeia.
Posicionar um player em qualquer mercado de acordo com a expectativa dos seus consumidores e possíveis consumidores é um jogo complexo. Que vai além da promoção, do preço e do ponto de venda.
Mas quem foi que disse que a comunicação é simples?

O ciclo de consumo da era digital vai te exigir ritmo. Vai te julgar e publicar no facebook caso goste ou não do teu comportamento.

E o que se pode fazer? Muita coisa. Mas gritar alto, não vai ajudar.
Te garanto.

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