quinta-feira, 9 de março de 2017

Enquanto isso no mundo mágico do meu imaginário.

Flutuam sobre o chorume da Caverna do Cranio algumas idéias leves o suficiente para não afundarem na escuridão pútrida do fosso do esquecimento.
Algumas delas, até conseguem virar casulos presos a beirada da borda e depois de algum tempo eclodem em idéias voadoras. Cada qual com suas asas coloridas de forma diferente. Cada uma do seu jeito. Umas maiores, outras silenciosas. Algumas menores, outras barulhentas. 
Ideias tem dessas. De nunca serem iguais umas as outras. Ideias são bichos estranhos, de cores diversas. Com formas, as vezes, tão excêntricas que o polvo negro que mora dentro do chorume da minha cabeça, decide que elas não podem voar. Quando essas eclodem dos casulos, ele até as deixa ficar por ali. Sentindo o cheiro do lodo e da merda. Mas se qualquer uma delas, abrir as asas ou fizer uma menção que seja sobre vir para o mundo real, ele estica seus tentáculos negros e as enrola e sufoca enquanto as puxa para o fundo do poço. Muitas dessas ideias nunca mais são vistas. Outras tem mais sorte...
O polvo negro da razão é impositivo. Ele não tolera que ideias que não possam ser revolucionárias, sejam. Ninguém sabe muito bem de onde o polvo negro veio, mas o fato é que desde a primeira boa ideia que eclodiu, até hoje, pouquíssimas conseguiram fugir da sua vontade.
As ideias mais antigas falam de uma época em que o polvo negro era mais manso. De períodos em que ele até emergia do lodo para conversar e falar sobre a vida. Dizem que no começo, nos tempos da "infância de Leandro", o polvo era até amigável. Fazia perguntas e ouvia as respostas com interesse. Realmente querendo saber sobre o mundo além da caverna do crânio.
Essas ideias anciãs, falam de um polvo que ninguém mais vê hoje. Falam com carinho dele, dizendo que ele quer o melhor para a caverna. Que se preocupa e que sabe bem o quanto uma ideia ruim pode mudar o frágil equilíbrio que existe aqui. Uma delas, diz que antes do polvo surgir, criaturas abissais rondavam constantemente a caverna. E que nenhuma ideia podia viver em paz. Frequentemente até ideias ruins saiam da caverna, ideias que nem deveriam ter eclodido.
Um dia, ao nascer de um sol, uma ideia atrapalhada começou a zombar de todas as outras. Gritando que seria a senhora da caverna! Que seria a rainha de todas as ideias. Que seu reinado seria violento e que quem não concordasse seria morto e posto no foço. Todas as ideias se recolheram, amedrontadas. E algumas até tentaram se impor. A ideia atrapalhada que zombava de todas as outras, chegou a atacar uma das ideias menores, que ainda se desenvolviam. As anciãs gritaram, a disseram para parar com aquela loucura. Mas nada a pararia, ela estava decidida.
Foi quando aconteceu: um tentáculo negro gigantesco emergiu do lodo. Seguido de outro, e mais outro e mais um. Todas as ideias ficaram petrificadas. Mas a ideia atrapalhada tentou voar, abriu suas asas e gritou voando em direção a saída da caverna.
O tentáculo a pegou pelas patas. E outro logo depois disso. E mais um se enrolou em uma asa a fazendo cair e outro a outra. Ela se debateu, gritando por liberdade, pela morte das outras ideias. Enquanto os tentáculos a puxavam em direção ao lodo. Ela desapareceu em bolhas de merda e um odor repugnante. No chão, um rastro de sangue por onde ela havia sido puxada.
Todos ficaram aterrorizados, mas alguns instantes depois o polvo surgiu. Com a sua gigantesca cabeça redonda dizendo:

" - Eu vim para ajudar pequeninos. Por tempo demais eu ouvi ideias ruins prejudicando todos vocês. Ideias violentas, sem propósito, mentirosas e de ilusão. Não sou um dos seus, eu sei, mas cá estou para que todos possamos existir em paz... Não me temam."
Ele disse e novamente emergiu.

Desde então, a maior parte das ideias que o polvo não permite voar, são normalmente feias. Ideias de pressa, de raiva. Ideias que provavelmente não seriam uma boa ideia deixar por aqui.
Vez ou outra uma escapa.
Vez ou outra, uma consegue.

Como a que me contou essa história, por exemplo.
Ela voo para fora da caverna do cranio com tanta velocidade que quebrou uma vidraça da minha casa. Caiu no chão da sala e me olhou com lágrimas nos olhos dizendo:

"- Você precisa ouvir a minha história Leandro. As ideias anciãs me enviaram. Elas falam de uma profecia em que algumas ideias sempre vão nascer de novo, e eu sou uma dessas... A primeira de muitas. Nasci nove vezes até conseguir escapar do polvo negro. E hoje finalmente consegui te conhecer...."
"- Caralho, que porra é essa?" - foi o que eu falei.
"- Eu sou só uma ideia, mas tenho certeza de que vais gostar de ouvir o que eu tenho pra te falar...".


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