sexta-feira, 13 de maio de 2016

Pra ver a minha dor passar...

Foi na batida do repente imaginário, que meu mundo girou. Veio a baixo a estante. E a linha reta entortou. Bateram na minha porta de madrugada. Era a solidão de saco e mala. Tomando seu lugar a mesa de jantar. Cantando antigas cantigas esquecidas de ninar. Eu não dormi até ela chegar. E nunca mais consegui me acordar. Passou o dia e a noite veio. Só para outro sol nascer, em total silêncio. Pássaros que não cantam e não voam nos observam, a respirar. Empilhamos nossos cadáveres nas ruas, exibindo nossa ignorância mortal, pra quem passar. Somos pó no deserto do existir. Chamamos de futuro tudo aquilo que está por vir. De passado, o que se foi. E o presente não existe. O presente é a mais pura das ilusões. Uma alucinação coletiva tão profunda que nos impede de ver o mundo como ele é. Vivemos a perturbação como se fôssemos parte dela. As maiores constantes do mundo são o vento e a morte. Sempre haverá vento e morte. Todo lugar é o mesmo lugar. Todo amor é o mesmo amar. Todo viver é o mesmo existir. Neva na escuridão do mundo. Nasce mais uma criança de um amor profundo. Morre no tiro perdido outro adulto. Entre as árvores cortadas e o rios destruídos, existe aquela última tribo. Daquela gente que não conheceu outra gente e não sabe o que é ser ruim. Daquela gente que não sabe que o homem é o lobo da gente e sempre viveu assim. Longe do que fizemos. Sem tanto "tendo", "sendo", "vendo". Mais sentindo. Ouvindo. Sorrindo. E que o criador me julgue se ele puder. Porque minha alma agora é livre. E o tempo passa bem, aqui. Aprendi tanta coisa e tenho tanta gratidão por isso que não consigo encontrar palavras que pudessem me fazer dizer a maior parte do que realmente sinto. Me lembro de quando eu era pequeno e ainda caia enquanto caminhava. Um dia, ouvi meu velho pai dizendo: "precisar aprender a caminhar...".
"É o único jeito de ver a tua dor passar...".
Entendi pai, obrigado.

Sem comentários:

Enviar um comentário