sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Perdi a chance de fazer meu clipe para o Sigur Rós.

Doeu uma dor daquelas que a vida engole com o rodar do ponteiro.

Quando decidimos vir para esse mundo, e provavelmente uma das ultimas coisas que fazemos no mundo além desse, é dar corda ao relógio da vida. No relógio que fica lá, além da cortina do material e que determina quanto tempo ficamos por aqui.
Eu penso nessa cena como uma despedida. Não eterna, numa despedida temporária. Do tipo:
"- Boa sorte ! Nos vemos mais tarde..."
Um monte de gente que nos conhece ou nos conheceu, ou quer nos conhecer. Paradas na frente de um arco de pedra que dá passagem pra esse planeta. Tu deu um passo a frente, só tu. Cabeça baixa, pés descalços. Ventava um pouquinho. Tirando o cabelo dos olhos, tu se virou e alguém te disse:
"- Que o caminho seja gentil com os teus pés..."
Você sorriu com medo. Mas o medo é algo que só aterroriza os vivos. Ali, não há medo da dor. Não há medo do incerto existencial. Não há lugar para as nossas picuinhas e desentenderes carnais. Não. O que tu sentia ali, era uma grande vontade de descobrir o que viria depois. Como a próxima página de uma livro que está sendo lido com fervor.
"- A gente se vê depois... né ?" - você perguntou, sentindo uma leve dormência nas pernas.
"- Sua mente já adquiri o formato humano de novo. É incrível como isso acontece rápido. Leva isso contigo minha querida: nós estamos nos vendo para sempre...".
Você sorriu. Levou uma das mãos ao rosto. E pareceu quase desmaiar enquanto ficava mais e mais tonta. De repente, como se tu estivesse ficando menor e menor, tuas roupas foram ficando mais largas. E foste descendo como se afundasse em um foço de areia movediça. Teus olhos se arregalaram e tu pareceu sofrer um desconforto muito intenso, mas ainda assim, nenhuma palavra foi dita. Como se houvesse magia no mundo (ou como se não houvesse) tu tinhas te transformado em um bebê de colo. Rosada e cheia de dobras na pele, que movia seus membros sem ritmo e desconcertada. Grunhindo para o mundo. Alguém te pegou no colo e te passou pro outro lado.
Da lá, todos vimos você nascer. Enquanto o relógio girava.
Perguntei:
"- Vai demorar pra ela voltar ?"
"- Isso depende, do que demorar é..."

Os mortos não se preocupam com a vida. Viver é morrer para continuar vivendo.


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