quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Artigo infiel.

Murro na cara, preciso te dizer que eu venho te traindo. Longe de ti eu escrevi em outras páginas em branco. Escrevi com canetas de várias cores. Escrevi em paredes, em mesas e até na pele de algumas pessoas. É isso. Longe de ti, eu continuei escrevendo. E fui escrevendo, frase após frase, através de muros, árvores, do chão, paredes e testas de pessoas, até voltar ao meu teclado. E digitar essas palavras.é muito libertador. Te dizer isso, é me livrar da culpa e me aceitar, como alguém que escreve além de ti.
Pensei em uma história em que uma pessoa saía de casa todo dia e ao se deparar com o porteiro do prédio, dizia:
" - Dia quente não?"
" - Sim sr. Dia quente..." - respondia o porteiro.
Um dia depois, na mesma situação:

" - Chovendo cedo.... que saco!"
" - Sim sr. Chuva de manhã cedo é complicado." - respondia o porteiro.
Alguns meses depois:
" - Tempinho nublado, vai ser um dia feio..."

" - Verdade sr, o tempo está fechado..." - respondia o porteiro.
Algumas estações depois:
" - E esse frio aí? De rachar né?" 

" - Muito frio sr!" - respondia o porteiro.
O tempo passou e chegou o momento do porteiro se aposentar. A empresa que o havia contratado o avisou da data com antecedência. E o porteiro se preparou para o último dia de trabalho. Acordou antes do sol nascer, fez a barba, vestiu o uniforme, tomou uma xícara de café preto, beijou o rosto da sua esposa e foi para o prédio.
Foi um começo de dia como qualquer outro... Algumas pessoas passando pela portaria sem nem percebe-lo. Organizar todas correspondências. Receber funcionários de empresas que vieram trabalhar no prédio... Nada demais.
Até que ele apareceu. Sempre trajado como um executivo, falando ao celular, postou-se na entrada a espera do seu motorista. A ligação logo foi encerrada e ele disse ao porteiro:

" - Abafado né?"
Mas dessa vez o porteiro não concordou:
" - Não!"
" - Não?" - disse o morador do prédio desconcertado...
" - Está abafado, mas hoje eu não vou concordar com a tua visão de mundo. Sempre reclamando da chuva, do sol, do calor ou do frio. O seu mundo é o que você percebe dele... Só isso".

O seu mundo é o que você percebe dele.
Não é preciso mudar de mundo, é preciso mudar de percepção.

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