sexta-feira, 20 de abril de 2018

Eu já vou dormir atrasado. De um compromisso que nem foi marcado. Mas que eu não vou chegar a tempo. E cansado. Com os olhos enevoados das nuvens no céu infinito. Que esconde o Cosmos e os Deuses. Como um teto que te priva das estrelas com a desculpa de te proteger da chuva. Eu preferiria tomar chuva as vezes, para ter as estrelas quase sempre. Mas ninguém me perguntou, e agora não existem casas sem teto. Existem pessoas dormindo nas ruas, mas isso é só outra incoerência humana traduzida em miséria, fome e desespero. Nada de novo aqui no front da luta perdida. Mas algo continua errado no reino da Dinamarca. E os violinos tocam uma marcha fúnebre na rua. É o enterro do nosso coração. Somos agora como vampiros, mortos vivos. Sugadores de sangue de presas longas. E como nos esbaldamos. Em um banquete de indefesos que sofrem para que possamos sorrir. E dançamos ao som do sofrimento silencioso. Até que o sol grita ao horizonte. Aí nos corremos para nossas tumbas fundas. Distantes do mundo real. E dormimos por séculos, alheios a existência coletiva. Até que a nossa fome desesperadora nos acorde novamente. E o processo se repita. Enquanto o céu transforma a noite em dia. E planeta gira no infinito frio do oceano espacial. E nós discutimos se a pulga é maior que o elefante ou o contrário.
"- Ah se eu tivesse a tua idade..." - me diz uma senhora.
Todos somos jovens, só morremos cedo. Que dívida é essa, que temos que morrer para pagar? Ouço Suassuna suspirar. Eu não sei o que dizer. Mas penso que alguém saberia.
"- Não esquece de ser forte..." - me disse meu avo em um flashback de 30 anos quando eu cai e ralei meu joelho na pedra. Eu chorava, mas ele me pegou no colo, passou um paninho molhado para limpar a areia colada no sangue do joelho. Me acalentou e sorriu dizendo:
"- Não esquece de ser forte...". Eu parei de chorar sem entender. 
O que eu esqueci? Como fico duro e forte? Chorar é errado? Meu joelho nem está ralado, o que eu estou dizendo?
Gira o mundo, gira tudo. Sobe o ar, desce o mar profundo. E a humanidade se faz e desfaz em um timelapse digno da cinematografia mainstream Hollywoodiana. Em algum momento, quando os carros voam e as esteiras carregam as pessoas pelo planeta, a tumba do vampiro se abre. Acordado e faminto ele diz:
"- Sinto sede de sangue de joelho ralado..."
Corram todos!

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