quarta-feira, 21 de junho de 2017

Seguinte, sigamos seguindo.

A água que sustenta o barco, é a água que o afunda. O barco furado, precisa ter água tirada do seu interior, e posta no seu exterior. Sem água o barco não se move. Com água no lugar errado, ele afunda.
Eu caminho sobre o chão que caio. O que me derruba, muda. Pode ser o vento, a pedra, o medo ou o tiro. O que me derruba não me importa tanto. Me ergo e sigo. Vou indo. Pé por pé. Passo por passo. O caminho não fica menor porque a gente cai. O caminho é o mesmo. De pé ou deitado. Sorrindo ou chorando.
A gente descasca avançando no caminho. E nos descascando, refazemos nós mesmos. Diferentes do que éramos. Sendo o que somos. Vendo o mundo com novos olhos. Ouvindo com novos ouvidos. E seguindo.
Parados, caídos, nos recusando a se mover. Tudo permanece. Tudo petrifica. Todo tempo se congela, e a chuva e o sol se soldam. Com dias após dias. Da mais perfeita igualdade. De total cristalização.
Alguns de nós, pelo motivo que for, preferem virar pedra do que descascar novas peles. Do que sangrar velhas dores. Do que crescer novas asas. Sem saber que o ato de descascar é impossível de ser impedido. Que mesmo as pedras, depois de milênios e milênios paradas no sopé da montanha, se partem. Se quebram em pequenos cascalhos. E escorrem, rolando pelas encostas até rios. E dos rios até os oceanos, se desgastando a cada milimetro que percorre. Até ficar pequena demais para ser vista. Até o que chamamos de desaparecer. Mas ao contrário do que pensamos, o vazio que preenchia toda grande rocha, está ali na quase invisível partícula da que sobrou.
E talvez, esse vazio de onde viemos e para onde iremos, seja um dos sentidos da vida. Talvez o sentido da vida, seja uma referência ao sentido em que a vida segue, do bebê ao avô. Da montanha, a pedra invisível no fundo do rio. O sentido do movimento que a vida tem. Como uma maré. Por mais que você fique parado, o sentido do dia é virar noite e virar dia novamente.
O sentido é o caminho.
Por mais que você escolha em ficar caído no chão. Chorando e reclamando das pedras e dos espinhos. O caminho é o sentido, é onde seus pés batem para segui-lo. O caminho é a água do barco. É o barco. É o furo. O caminho é o pé, o dia e a noite.
Alguém vai me perguntar: "Mas o objetivo é descascar? Devemos ir rápido pelo caminho então?".
Eu acho que não. A pedra vai demorar mais para descascar do que o bebê. Mas o que importa é que saímos do mesmo ponto e ao mesmo ponto chegaremos. Sendo pedra, pássaro, água ou nós mesmos.
Equilibrar a velocidade nos faz mais felizes do que gigantescas pedras tentando chegar aos oceanos. Cada qual com seu caminho.
Todos sendo o mesmo, um. Nunca totalmente sozinhos. Mas sempre únicos e ligados. Como folhas e galhos.
Como pés e chãos.
Como a água do rio que termina no mar. Para evaporar e se tornar chuva. Dando vida, morte e água novamente.
Até que o tudo absoluto se torne um tipo de nada confortável, que todos nós chamaremos de lar.

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