sexta-feira, 18 de setembro de 2015

(não) voltei de férias?

Não tenho medo de avião. Mas enquanto voava pensei em como seria morrer num acidente aéreo. Assim que pousamos, achei isso uma grande bobagem. No taxi que não era Ubber, mas deveria ter sido, ouvi que o país está no buraco. Nas paredes pichadas da cidade grande, muitos desenhos morriam. Até no chão tinha sangue. Nos rostos escondidos, por trás dos grandes prédios, eu via também rostos de mendigos. Uns usavam terno e gravata. Outros tinham pouco. 
Poucos dentes. 
Pouco o que fazer.
Pouco para esperar. 
Quase nada pelo que viver? Imaginei um viaduto limpo. Mas na terra do céu de concreto, não há amor. Dizia a letra do Criolo. Se há amor eu não sei. Mas aqui as pessoas não estão de férias. Eu tinha areia entre os dedos dos pés. Um copo com gelo nas mãos. Meus olhos alcançavam até a linha do horizonte. E só havia água. Sol forte. Céu azul. Na cidade grande, da fumaça e do fuzil. Eu uso óculos escuros com medo de ser assaltado. Da violência que eu vejo na rua, espero que ela sempre me deixe de lado. Se a sentido em viver essa vida, tomara que ele seja verde em uma floresta florida. Eu pensei que esse mundo pode ser as férias da vida além da vida. E quando morremos, nós voltamos a usar ternos com aberturas para asas nas costas. Pensei que nossos colegas de trabalho podem nos perguntar:
"- E aí? Você comeu?" - porque lá ninguém precisa comer nada.
"- Sentiu o sol? Estava bom?" - porque lá tudo que fazemos é carimbar os documentos kármicos dos que deixam essa vida em transição a próxima.
Nunca entendi muito bem o que é estar de férias. Até que vi uma entrevista do Rodrigo Amarante dizendo que o conceito de férias para ele é meio absurdo. Quando tu amas de verdade o que tu fazes. A ponto de isso ser uma pedaço de ti. Não existem férias.
Me senti como não sendo um idiota por não conseguir relaxar, mesmo estando de "férias".

Meu carro parou em um sinaleiro e um rapaz todo sujo se aproximou pedindo dinheiro. Uma daquelas cenas que te fodem onde tu não pode se defender.
Baixei o vidro dizendo que não ia lhe dar nada. 

Afinal, são as minhas "férias"...

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