quinta-feira, 3 de julho de 2014

Impressão minha?

O frio do planeta vem do coração humano.
Temos braços e pernas quentes. Temos fogueiras e aquecedores. Construimos muros e telhados. Construimos famílias e chuveiros a gás. Cantamos dizendo que quem canta os males espanta. "We are the world" nós costumávamos cantar em coro na televisão, pra todo mundo ver. Viajamos para longe de onde nascemos para vivermos experiências que nos fazem imaginar que a vida é mais do que podemos ver. Trabalhamos em nossos trabalhos, porque somos trabalhadores. Formigas, não cigarras. Seguimos a linha. Do céu, da calçada, do elevador, da escada, da vida, da estrada, do dia e da noite também. Nascemos, crescemos e aprendemos a ter nossos próprios bebes. Assim nos multiplicamos, as centenas, milhares e milhões. Todos do mesmo jeito, com diferentes roupas e esperanças. Com diferentes rostos e tira gostos. Com histórias e amigos. Juntos e sozinhos. Corremos para todo lado do globo. Ocupamos aquelas campinas, as montanhas do lado, fizemos cidades de concreto e pontes. Acima da gente, só o céu estrelado. Mas queremos mais, subimos ao espaço. Naves do futuro. Astronautas e motores turbo. Tudo flutua na nossa existência. Menos o que afunda. O que afunda nós filmamos e passamos na televisão. "A vida das criaturas na escuridão do oceano profundo" ou algo assim. Descemos nossas luzes e cameras que rodam no escuro. Vimos seus rostos, eles viram os nossos. Como um Big Brother do mundo bizarro. Com monstros terríveis. Como o outro.
Cortamos o céu, de novo. Tubos de aço com asas. Flutuamos silenciosos. Subindo e descendo das nuvens. Cruzando o mundo conhecido como uma folha de papel riscada pela caneta. Sem olhar para trás. A vida é rapido, eles nos ensinaram. Logo os primeiros morrerão. Seus avós, tudo bem, eles eram velhos. Depois seus pais, é mais dificil, você lembra deles jovens. Um dia você. Quem te viu morrer? Alguém que te achava velho provavelmente. Enterramos os mortos em caixões. Todo morto é igual, ou quase. Somos criaturas de padrões. Gostamos de formatações. De viver a vida como nos ensinaram. Como sonhamos. Comprando, sorrindo, dormindo e digerindo. Digerimos muito. Comida também. Sentimentos. E a nós mesmos. Digerimos nossa própria existência no estomago da humanidade. Corroendo pouco a pouco através do suco gástrico e das contrações mecânicas que nos espremem por entre as paredes do que chamamos de existir.
Até que a humanidade nos caga.
Em um grande bolo fecal marrom e pegajoso.
Que desce pela descarga do universo. Até esfriar.
Esfriar tanto que vira pedra, mas não cai.
Fica flutuando.
Esperando a vida começar de novo.
Como se todo planeta, fosse um único ovo.


Ou também pode ser só impressão minha.

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