domingo, 1 de dezembro de 2019

Encerramento 2019.

Gira o ponteiro do relógio: tic-tac. Ouço alguém dizendo que o tempo é nosso recurso mais valioso. Que gastar tempo é investir vida. Tic-tac. Flutuamos juntos sobre esse rio e o destino só pode ser desaguar no oceano. Apreciar a paisagem é um dos maiores desafios, tic-tac. Minhas sobrinhas parecem crescer além do normal. E dobrando uma esquina eu encontro um casal de amigos com um filho que até alguns meses habitava o imaginário dos próprios pais.
"- Como ele tá grande!" - eu digo.
Tic-tac, eu ouço.
Tudo tem seu tempo, leio em um livro empoeirado. Mas não consigo escapar do pensamento que a ampulheta de todos os seres vivos é virada na entrada desse mundo. E nenhuma areia adicional pode ser adquirida. Tic-tac.
Final do ano é hora de renovar ciclos. Pessoas que se aproximam, pessoas que se afastam. Dias que te fogem, dias que não chegam nunca. Resoluções não resolvidas. Que horas são? Tic-tac. A única forma de um ciclo recomeçar é se fechando, é verdade. Mas algumas coisas começam e terminam só uma vez. Tipo 2019 e todos os anos antes dele. Tic-tac. Eu imagino se algum dia conseguiremos viver algum dos anos que já vivemos, novamente. Provavelmente não. Tic-tac. Ouço as taças de vinho e copos tilintando nos brindes, mas me pergunto: quantos desses corações estão realmente abertos? Pessoas boas também machucam os outros, o segredo é aprender e não viver como se não ferir o próximo fosse o objetivo principal. Ninguém entra nesse planeta ileso, ou sai dele assim. Tic-tac.
Depois de um tempo, toda virada de ano fica muito parecida com as anteriores. Pessoalmente eu admiro muito pessoas mais velhas que mantém o entusiasmo em se reunir aos seus e sinceramente compreender o valor da presença de cada uma das almas em suas vidas. Não dá pra viver só lamentando as partidas. É preciso perceber o valor do presente. Tic-tac.
O céu do final de tarde sempre me fascinou. Eu costumava chamar o amarelo-laranja-avermelhado que se forma nas nuvens crepusculares de "amarelo antigamente". De fato, não uso essa expressão a muito tempo. Tic-tac. Mas no fundo, eu acho que esse céu sempre me remeteu a alguma forma de fotografia velha. Daquelas que ficam no papel até amarelar, sabe? E quando isso acontece e se derrama sobre todas as coisas, ou paisagens, parece que estamos todos dentro de uma espécie de foto. Em movimento, rumo ao passado. Já vi muitos céus causadores do "amarelo antigamente". Já joguei bola com os moleques pela última vez, sem saber que era a última. Tic-tac. Já me despedi de pessoas, sem saber que nunca daria outro tchau à elas. Já respondi a mensagens sem nem de longe perceber que estava dando adeus. E dei abraços de até logo que na verdade eram os últimos. Já tive até pensamentos de "será que a gente vai se falar novamente" e olhei sozinho para trás sem a outra pessoa nunca virar... Eu me arrependo de muita coisa, mas não de tentar. Tic-tac. O tempo é o rio sobre qual todos nós flutuamos, e remar ao contrário não vai te fazer voltar sobre ele... No máximo, remar ao contrário vai te manter parado sobre um momento e o esforço pra fazer isso nunca vale a pena. A natureza do rio é fluir e a do tempo é urgir.
Eu acho que quando 2019 terminar, quando o último segundo bater no 12 do relógio e de 23h:59min:59s a gente entrar na meia noite e 01 segundo do dia 1 de janeiro tudo que eu posso realmente desejar é perceber o valor de cada micro momento que a gente vive. Compreendendo que não é o fluxo do tempo que realmente importa, e sim todos os infinitos que habitam entre cada tic e cada tac.
Tic-tac.


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