sábado, 7 de setembro de 2019

Sobre pássaros, chuva e a morte.

Eles dizem que quando você morre, sua vida toda passa diante dos seus olhos.
Eu não sei se isso é verdade, não me lembro de ter morrido para saber. Mas sei que estando vivo, e já tendo perdido pessoas que amava mais do que as minhas palavras enguiçadas conseguem expressar, um filme sobre a vida dos que se vão passa diante dos olhos dos que permanecem aqui.
Eu acredito que a vida seja desenhada entre diversas simbologias e que muitas vezes elas se trançam além do que nós compreendemos como realidade. Faço questão de permanecer conectado a essa mínima parcela que me faz imaginar o que não entendemos perfeitamente. Porque através dela, cada um de nós pode perceber algo novo. Algo único e que acima de todos os dogmas, define a visão de mundo única que cada ser humano possui por direito de ter nascido nesse mundo.
No dia em que o meu irmão mais velho faleceu a primeira frase que eu ouvi de uma das suas filhas foi:

"- Ele esperou a gente chegar para partir...".
Eu acredito completamente nisso.
Ele esperou a gente chegar para partir.
Forte como ele só. Um exemplo de pai, de irmão e filho. Mais um filho do meu pai a pular para o outro lado da cortina e sair do palco da vida. E enquanto cada um recebe e percebe essa nova realidade, eu me percebo encarando de novo a morte e seu terrível hábito de encerrar as coisas. Porque a morte não termina só a vida. Não, a morte põe fim as conversas que ainda não tivemos. A tudo aquilo que eu queria ter te dito e não consegui... As perguntas que eu deixei de te fazer. As histórias do nosso pai que por ser tão mais velho que eu, só tu sabias. Aos natais em que as taças de vinho e os sorrisos eram abundantes. Ao teu jeito engraçado e ao mesmo tempo sempre pronto para ajudar tanta gente dentro e fora da nossa família. A todo conselho que tu já deu as minhas lágrimas. Aos teus convites que eu queria ter aceitado e aos que eu queria ter te feito. E todo acalento que tu sempre teve no coração por todas pessoas ao teu redor.
A morte cessa muito mais do que a vida. Ela dá fim as possibilidades. E diante de uma força capaz de produzir essa interrupção, nós confrontamos a gigantesca pequeneza de todos os outros problemas. De todas outras questões. Nos percebemos como são importantes os momentos que temos. Como a vida é construída segundo sobre segundo. Como um sopro breve que tem começo, meio e fim.
Eu fiz questão de ver o dia de hoje nascendo meu irmão. Só pra ver como seria o céu no primeiro dia em que tu não estaria mais aqui. E não tenho vergonha de dizer que chorei assistindo ao filme da nossa vida que passou diante dos meus olhos.
Eu me lembro de um período em que nosso pai ainda era vivo e tu tinhas consultório perto da nossa casa. Todo dia estavas lá conosco. Bebendo um vinho na sexta feira ou tomando um café na terça. Me lembro das conversas na mesa. De abraços e sorrisos. De histórias e amor. Vá em paz, tu fez muito!
A gente vai se encontrar de novo. Até lá!

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