quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Como peixe fora da água.

Pessoas circulam por dentro de prédios nas cidades como micro organelas se organizam dentro de células. Falando umas com as outras ou prontamente se ignorando. Sem nem perceber como fazem parte de toda essa organização complexa. É engraçado se você parar para pensar: em como a perspectiva muda a história. O contexto da formiga não é o mesmo que do pássaro. Nem um cachorro percebe o mundo como um peixe. E nós que ocupamos o cargo de seres "mais evoluídos" do planeta, curvando todos a nossa soberana vontade, vivemos como se até a morte fosse uma empregada do nosso prazer. Flutuamos sobre esse grão de areia perdido no vácuo do universo. Enquanto a sua ronda ao pai sol arde em milhares de milênios. E acredite, muitos de nós ainda perdem o dia porque a cor do carro que queriam comprar não está mais disponível. Ou porque o seu amiguinho Organela da Silva lhe olhou torto. Lhe disse algo no tom errado. Ou qualquer outro desses motivos que ninguém se importa de fato. Mas que muitos pensam se importar simplesmente por não saberem sentir além do superfície dos seus próprios sentimentos. Eu desconfio que a maior profundidade disponível nesse planeta é o mergulho no próprio peito. É o salto contra o desconhecido que habita dentro de si mesmo. A queda é desesperadora e parece por muitas vezes ser eterna. A ponto de se perder a noção de estar caindo. Ou de se encontrar mais do que se queria conhecer.
Algumas vezes, eu vejo pessoas ao meu redor se segurando as realidades mais ocas que podem existir, para evitar serem dragados para o ralo do seu interior. Segurar atrasa o processo, mas não o impede. Eu, pessoalmente desconfio que um dos motivos pelo qual ocupamos esses corpos baseados em carbono, seja realizar essa jornada. A de ir até os Himalaias? Não, a de ir até nosso próprio coração. A jornada mais assustadora que podemos fazer. A de confrontar os medos trançados nas decepções. De se ver despido de qualquer vaidade. Ou máscara produzida para esse mundo.
Nossos luzes um dia se apagarão. Seremos pouco e ainda menos do que representamos hoje. Deixaremos para trás nossos filhos e os filhos deles. Nossos livros e as árvores que plantamos. Desperdiçaremos uma grande parte de nosso tempo com nosso próprio ego. Seremos ignorantes, ignorando toda sabedoria acumulada através das vidas dos que estiveram aqui antes de nós. E muitos de nós, morrerão sem ter a coragem necessária para se encarar. Para se desafiar no silencioso embate pelo auto conhecimento.
Sejamos mais inquietos sobre a nossa própria realidade. Sejamos mais peixes fora da água. Tenhamos mais coragem, não só no dia 31 de dezembro. Quando todas as promessas acontecem. Mas depois.
Todos humanos nascem. Mas nem todos humanos morrem.

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